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Maju de Araújo, modelo com síndrome de Down, faz sucesso internacional aos 19 anos

Com passagens por três Fashion Weeks, incluindo o de Milão, na Itália, onde esteve no final de setembro representando as marcas NCC e Libertees, a modelo rebate qualquer preconceito: "Não sou menos capaz do que as outras pessoas"

Estadão Conteúdo

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução / Instagram @majudearaujo

Superando o preconceito e passando por muitos desafios ao longo de seus 19 anos, Maria Júlia de Araújo, a Maju de Araújo, faz a diferença por onde desfila e mostra que síndrome de Down não é um impedimento.

Com passagens por três Fashion Weeks, incluindo o de Milão, na Itália, onde esteve no final de setembro representando as marcas NCC e Libertees, a modelo rebate qualquer preconceito: "Não sou menos capaz do que as outras pessoas".

Descoberta em setembro de 2018 pelo grupo MGT, ela conta que houve muito estudo para conseguir o reconhecimento: "Eu e minha família investimos intensamente, buscando sobretudo uma formação profissional e de qualidade na área. Quando você cresce sendo julgada e alvo de piadas, eventualmente pode se entristecer. Até hoje, muita gente tenta me diminuir e afirmar que eu não mereço estar onde estou, mas sei que isso não é verdade."

Outro marco da carreira de Maju aconteceu em maio de 2020, quando a modelo passou a fazer parte do time de embaixadoras da L'Oréal Paris, sendo a primeira brasileira com síndrome de Down a compor a equipe. 

"Tem coisas que é impossível de explicar. A sensação de pisar em uma passarela, na maior semana de moda do mundo, ser fotografada e observada e dividir espaço com outras grandes modelos poderia ser amedrontador. Mas nada se compara à sensação de gratidão, realização e felicidade que sinto fazendo o que amo. Basta dar o primeiro passo que a preocupação some. Me sinto gigante! É uma sensação de plenitude, é indescritível", afirma a modelo.

"Me descobrir, não pela beleza exterior, mas pelo poder de influência e exemplo que o cargo traz, impactou a minha vida. Me tornei uma pessoa mais autoconfiante. E mais importante que uma sociedade reconhecendo uma pessoa com síndrome de Down ocupando um cargo profissional, é o próprio autorreconhecimento", conta.

E continua: "Sei que tenho limitações, mas elas não me impedem de viver uma vida plena. O que impede é o preconceito. E quando ele é presente na sua vida desde criança, há um risco de se crescer acreditando no que ele diz: ‘não existe lugar pra você aqui’. Mas desde que comecei a lutar pelo meu sonho percebi que existe um lugar sim pra mim, existe pra todo mundo. Nada pode me limitar ou definir".

Sonho de ser modelo surgiu após um coma de 10 dias

Maju lembra que, quando era pequena, não havia a mesma representatividade: "Raramente encontrávamos pessoas como eu estampando matérias, revistas, cruzando passarelas. Pessoas comuns precisam saber que o mundo está cheio de lugares para elas, para nós. Eu sou uma pessoa comum".

O sonho de ser modelo, ela relata, começou aos 16 anos, quando foi internada com meningite bacteriana e ficou 10 dias em coma. 

Os médicos chegaram a cogitar a amputação de membros para conter a infecção, mas deu tudo certo. Assim que acordou, ela revelou para a mãe: "Eu vou ser modelo".

"Eu já sentia esse desejo (de ser modelo), mas em alguns momentos foi difícil acreditar que iria realizá-lo. Depois que você recebe um diagnóstico como o que eu recebi - com risco de óbito ou de sequelas graves como perda da audição, da visão -, você tem algumas opções: ser tomada pelo medo ou lutar pela vida", ressalta a modelo.

E continua: "Eu sentia que ainda tinha muito pela frente e que Deus estaria cuidando do meu destino. Mas também sabia que, se recebesse uma nova oportunidade, deveria agarrar essa chance. Foi isso que fiz".

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