“Eu nasci para dar aulas”: o relato de professoras que doam a vida aos alunos
O Folha Vitória ouviu relatos de professoras que inspiram e enfrentam desafios. Além de formar cidadãos e lidar com evolução das gerações
Uma profissão com o compromisso de educar, inspirar, formar outras profissionais e cidadãos. Nesta terça-feira (15) é comemorado o Dia dos Professores, aqueles que além de passar conhecimento, também inspiram ao criar espaços de troca e diálogo com os alunos.
Entretanto, a profissão, que também é marcada pelo estresse e sobrecarga de trabalho, guarda histórias de profissionais que “nasceram para a sala de aula”. Muitos deles estão na segunda geração de alunos, ou seja, foram fonte de inspiração para pais e filhos.
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Em entrevista para a reportagem do Folha Vitória, a professora de língua portuguesa, literatura e redação, Ana Lúcia Lepre Batista, 59 anos, diz com orgulho que “nasceu para dar aulas”. Ela também alega necessária “sabedoria para o ofício”.
"Eu acho que, sem demagogia, eu nasci para isso, nasci para dar aula, porque é muito bom, mesmo perto da aposentadoria, ter leveza quando entro em sala. É uma relação de respeito e descontração com meus alunos. Tenho um lado engraçado, tiro proveito disso para a aprendizagem, porque é necessário ter sabedoria", descreve Ana Lúcia.
Dentre as histórias de sabedoria estão a realização de uma oficina de libras para os alunos da Escola Major Alfredo Pedro Rabayolli, no Centro do Vitória, se comunicarem com colegas surdos-mudos, iniciada no ano de 2023.
“A professora habilitada distribuía o alfabeto em libras aos alunos e eles precisavam montar os nomes. Em outra dinâmica, ela colocava o nome de animais, cores e de substantivos em libras”, explica a dinâmica.
O trabalho, evidentemente, gerou muitos ganhos pedagógicos, principalmente para uma aluna surda-muda. “Ela era muito tímida e não interagia. Isso foi um feito, porque os alunos ficaram em sintonia, passaram a se comunicar com os outros alunos e eles com ela”.
Com orgulho, a professora também lembra com carinho quando, ao caminhar pela Rua 7, no Centro de Vitória, foi reconhecida por um ex-aluno que atualmente é policial civil. “Me reconheceu, me chamou 'Professora de português!', eu acho muito bom esse carinho, essa troca!”.
Mesmo com as alegrias, ela afirma que, com o passar dos anos, o desafio de dar aula para o ensino médio se torna mais difícil, principalmente pela falta de limites e uso do celular. “É necessário ter essa leveza, é impossível ser professor e não gostar de aluno, você tem que gostar de aluno”.
“Lidamos com formação, infraestrutura, família”, narra professora
Os professores, além de serem responsáveis pela formação dos alunos, também têm que lidar cotidianamente com desafios extracurriculares, ligados à infraestrutura, família e sociedade.
As questões levantadas pela professora Junia Helena Ferreira dos Santos, de 34 anos, durante uma reflexão da trajetória profissional, também podem ser estendidas para outros profissionais da educação.
"Os desafios são muitos. Lidamos com formação, infraestrutura, família e sociedade. Fazendo reflexão em relação à minha trajetória e pensando na estrutura, hoje tem um data show e ar condicionado. Mas os desafios são esses, tudo que acontece na sociedade, a violência, o racismo, os direitos das mulheres, tudo isso impacta muito na escola", narra Junia Helena.
A profissional também lembra que, ao contrário do que é postulado por muitos profissionais da educação, os alunos não são “folhas em branco”.
"A criança e o adolescente não são folhas em branco, não vamos chegar e distribuir o conhecimento. O que acontece são trocas, a partir das experiências já adquiridas", ressalta a profissional.
“Escola precisa de ambiente de qualidade para pesquisar”
Durante a entrevista, Junia Helena também lembrou que a escola é sempre um espaço de criação. Mas, para isso, o professor precisa de um ambiente de qualidade.
"A escola é sempre um espaço de criação. Mas, ao mesmo tempo, para poder criar, você precisa ter um ambiente de qualidade para pesquisar, para ter formação continuada, porque a criação não vem do nada", explica Junia Helena.
Entre os ambientes de pesquisa diferenciados na área da educação, Junia aplicou um projeto inovador do ano de 2022, no qual os alunos tinham que explicar uma década histórica em um programa de rádio.
“Eles construíram um roteiro, apresentando a década de 1910 em diante, e falaram sobre economia, cultura, política de cada época. Isso foi muito interessante, porque o rádio está longe dessa geração”, ressalta.
Junia Helena também não deixa de lembrar da importância do profissional ao observar os alunos e as diferenças entre as gerações na sala de aula.
"Acredito ser importante observar os alunos, ser sensível ao que eles falam em sala de aula. Além disso, é interessante ver as gerações passadas e a gente se modifica também como educador", finaliza a professora.