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Espírito Santo registra, em média, 42 casos de violência contra mulheres diariamente

De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) 78 mulheres foram mortas no estado, de janeiro a novembro de 2018

Raissa Bravim

Redação Folha Vitória
Foto: Raíssa Bravim

No cenário de violência do Espírito Santo, a mulher precisa lidar com vários medos diários. Seja o medo da violência urbana, de crimes sexuais, seja a visão de fragilidade e vulnerabilidade que as torna potenciais vítimas de assaltos, o medo de andar nas ruas. 

Mas um fator que chama a atenção do capixaba, ao longo dos anos, é a colocação do Espírito Santo como um dos estados com maiores índices de violência doméstica, que torna as mulheres reféns dentro de suas próprias casas, nos seios de suas famílias.

Neste domingo, 25 de novembro, comemora-se o dia internacional da não violência contra a mulher. Entretanto, os números de crimes praticados contra as mulheres, seja a nível estadual ou nacional, não deixam muito espaço para comemorações.

No Espírito Santo, de acordo com a Polícia Civil, de janeiro a setembro de 2018, 11.591 boletins de ocorrência por agressão contra mulheres foram registrados nas Delegacias Especializadas em Atendimento a Mulher (Deam) do estado. É uma média de 42 casos por dia. De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), 78 mulheres foram mortas de janeiro a outubro deste ano, 50 casos de homicídios dolosos e 28 feminicídios, oito destes na Grande Vitória.

Em todo o Brasil, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2017 foram registrados 221.238 casos de mulheres agredidas em todo o país. É uma média de 606 agressões por dia. Quanto aos crimes de feminicídio, no ano passado o Brasil registrou 1.133 casos, além de 60.018 casos de estupro.

O delegado titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM), Janderson Lube, falou sobre a redução dos casos de homicídios de mulheres e feminicídios, que apresentou maior queda desde 2015 - ano em que a Lei do Feminicídio foi sancionada no Brasil. Em 2015, na Grande Vitória, foram registrados 64 homicídios de mulheres. Em 2018, o número caiu para 30 casos. Em relação aos crimes de feminicídio, foram 21 casos em 2015. Em 2018, de janeiro até novembro, foram registrados oito casos.

Questionado sobre o perfil dos homens que cometem o crime de femincídio, o delegado descreveu como pessoas possessivas. Os crimes geralmente são cometidos com uso de arma branca e, mais recentemente, foram registrados casos relevantes de ocultação de cadáver. 

Sobre as vítimas, o delegado afirmou que na maioria dos casos de feminicídio, não há notificação anterior sobre agressões por parte da vítima. Ao analisar o histórico, ele afirma que a vítima costuma sofrer muitas agressões, mas apenas em raros casos, ela registra a ocorrência na Polícia Civil.

Arte como combate

Motivada pelo medo de andar sozinha e inserida no contexto de violência contra a mulher, a atriz Maria Aidê Malanquini criou o projeto intitulado Mina-s, que traz performances urbanas. Nas performances, cada menina utiliza uma parte de manequim, que remete a membros ou partes amputadas do corpo da mulher.

Na última quarta-feira (21), meninas realizaram a performance em frente ao Palácio Anchieta, no Centro de Vitória. Cada participante do ato segurava e performava com uma peça customizada por ela mesma. "A principal motivação desse projeto foi falar m pouquinho sobre a nossa experiência enquanto mulher na cidade e relacionar isso com os casos de feminicídio que a gente tem aqui no Espírito Santo", disse Maria Aidê.

Foto: Raíssa Bravim

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Registros de boletins de ocorrência nas Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher do Espírito Santo:

2017: 14.395

2018: 11.591 de janeiro a setembro

Medidas Protetivas de Urgência solicitadas nas DEAM'S:

2017: 5.583

2018: 4.908 de janeiro a setembro

Inquéritos Policiais Instaurados nas DEAM'S:

2017:  6.714

2018:  4.965 de janeiro a setembro

Memória

Os índices de feminicídio e agressões a mulheres no Espírito Santo não relatam apenas estatísticas. Por trás de cada ação, cada crime, cada inquérito aberto nas delegacias e cada processo instaurado na justiça, existem histórias de mulheres que lutam diariamente por seus direitos básicos, como terminar um relacionamento, estudar, trabalhar, pelo direito de ir e vir, pela integridade física e pela própria vida.

O corpo de Eliane Maria de Oliveira foi encontrado pela polícia no apartamento do namorado, no bairro Aribiri, em Vila Velha, no dia 19 de fevereiro. A mulher estava desaparecida desde o dia anterior. De acordo com a Polícia Civil, Elaine foi morta com várias facadas. O suspeito fugiu do local.

No dia 17 de setembro, Cristiane Pereira foi assassinada pelo ex-companheiro, que teria invadido a casa da vítima em Conceição da Barra, no norte do estado. Cristiane foi esfaqueada dentro da própria casa. Ela foi socorrida e, no hospital, disse que o autor do crime foi o ex-marido, que fugiu. A Polícia Civil informou que a mulher já possuía uma medida protetiva contra o agressor.

No dia 08 de setembro, a diarista Marciane Pereira teve 40% do corpo queimado, quando o ex-marido, André Luiz dos Santos, ateou fogo na mulher, na casa onde ela morava com os filhos do casal, no bairro Jardim Tropical, na Serra. André se apresentou a polícia uma semana após o crime. Marciane permanece internada, passou por várias cirurgias e precisou ter uma das pernas amputadas. De acordo com a Polícia Civil, o crime foi motivado por ciúmes.

Em agosto, uma mulher foi espancada pelo marido na frente dos dois filhos, em um condomínio na região de Jacaraípe, na Serra. Na ocasião, a mulher foi agredida do elevador e em um dos corredores do prédio. As câmeras de videomonitoramento do prédio registraram as agressões. Quando a polícia teve acesso às imagens, o homem tentou fugir, pulando do segundo andar do prédio.