Cinco anos depois, tragédia em Mariana ainda é sentida no ES
Peixes ainda apresentam alto nível de metais, fazendo com que índios e pescadores não possam pescar na região atingida
Pescar, plantar, cultivar. Tudo isso fazia parte da rotina de pescadores e comunidades indígenas do interior do estado que são banhadas pelo Rio Doce. Mas, desde o rompimento da barragem de Mariana, em novembro de 2015, esses hábitos não são mais praticados por muitas pessoas como o seu Nilton, que é pescador e agricultor.
"Eu tinha uma horta, tinha cacau. Mas nós perdemos tudo para a água do rio. A água do rio, que servia de adubo, hoje vem para matar as plantações", conta ele, que é de uma comunidade ribeirinha de Entrerios, em Linhares.
São cinco anos de um dos maiores desastres ambientais do Brasil. O defensor público do estado e coordenador do Núcleo de Ativação em Desastres, Rafael Portella, explica que pouco foi resolvido por conta de um monopólio das empresas envolvidas.
Além disso, o defensor aponta que existe uma dificuldade para os moradores em conseguir comprovar a condição para as empresas, que pedem uma série de documentos.
Ao menos 150 mil pessoas aguardam uma resposta das empresas para saber se vão, de fato, receber o auxílio oferecido.
Enquanto isso, a aldeia de Comboios, em Aracruz, continua amargando os impactos ambientais ano após ano. Por conta da alta concentração de metais pesados em peixes, os índios não estão podendo mais pescar.
O cacique Tonin, da aldeia de Comboios, lamenta a situação: "Foi destruída uma comunidade, uma cultura milenar da população indígena."
Uma pesquisa feita pelo professor de Oceanografia da Ufes, Ângelo Bernardino, comprova que a fauna do rio chegou a diminuir em 30% e que espécies que antes existiam, nunca mais foram encontradas.
"As amostragens comprovam que ainda existe um alto nível de metais como chumbo, cromo e manganês. Em alguns, esse aumento chega a ser de 300%." explica o professor. Ainda segundo ele, esse acúmulo é prejudicial à saúde humana, caso o material seja ingerido.
A pesquisa feita pela Rede Solos Bentos Rio Doce aponta que diferentes espécies de peixes que vivem no rio, como bagres e tainhas, estão contaminadas. Ângelo comenta que o rio deve seguir poluído por décadas.
Por meio de um vídeo enviado à equipe de reportagem da TV Vitória/Record TV, a Gerente de Programas Socioambientais da Fundação Renova, Juliana Bedoya, explicou o que tem sido feito para reverter os impactos do desastre na região.
"O processo de reparação da bacia do Rio Doce, tem um olhar para a reparação integral, então ele busca soluções baseadas na natureza, porque isso já ficou evidenciado que são as soluções com melhor resultado à longo prazo. O que isso quer dizer? Que a gente atua de forma semelhante à natureza, só que bem mais rápido. As ações que a Fundação Renova pratica, no âmbito da reparação, seja na recuperação de APP, de recuperação tanto na calha do rio, como nas margens, elas visam buscar essa reparação no sentido do todo. Uma recuperação da paisagem, em geral, com ações sustentáveis", explicou.