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Entenda a relação dos ataques em escolas de Aracruz com o neonazismo

No momento do ataque em escolas de Aracruz na última sexta (25), o atirador, um adolescente de 16 anos, utilizava a suástica em suas roupas, além de outros itens associados à estética neonazista

Foto: Reprodução | Câmera de Videomonitoramento

O atentado a duas escolas de Aracruz ocorrido na última sexta-feira (25) reacendeu o debate sobre discurso de ódio no Brasil. No momento do ataque, o autor, um adolescente de 16 anos, utilizava a suástica em suas roupas, além de outros itens associados à estética neonazista em todo o mundo.

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Os ataques deixaram quatro mortos, sendo três professoras e uma estudante de 12 anos, além de outros 12 feridos. O atirador, filho de um tenente da polícia militar do Espírito Santo e ex-aluno de uma das escolas, planejou o atentado por dois anos e usou as armas do pai no momento da ação, um revólver 38 cano longo e uma pistola .40.

A polícia informou, durante coletiva de imprensa na última sexta-feira (25), que, na casa do suspeito, foram encontrados outros itens de propaganda nazista. Um dos itens seria o livro Minha Luta (Mein Kempf) de Adolf Hitler, a obra definitiva do nazismo europeu. Não se sabe se o material pertencia ao jovem ou a algum familiar.

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A ideologia nazista não é nenhuma novidade no Brasil. A antropóloga Adriana Dias, que se dedica ao estudo do neonazismo desde 2002 indica que no país, atualmente, encontram-se cerca de 530 células ativas.

Simbolismo e ideologia

De acordo com levantamento da pesquisadora, os núcleos estão presentes predominantemente no sul e sudeste do país, em estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Como a apologia ao nazismo é crime no país, os grupos utilizam subterfúgios para mascarar suas atividades, como a utilização do número "88", que representa a repetição da letra H, oitava do alfabeto, ou seja "HH" uma abreviação para "Heil Hitler", saudação ao líder nazista alemão.

Normalmente os grupos são formados por homens jovens no final da adolescência e que se comunicam por chats na internet. Entre eles, há similaridades como a misoginia, que é o ódio ao feminino e ao movimento feminista, além da propagação de ódio a grupos étnicos como negros e judeus e a minorias como a comunidade LGBTQIA+. 

Histórico de ataques no Espírito Santo

O ataque em Aracruz é a terceira ocorrência em escolas neste ano aqui no Espírito Santo. Nos outros casos, a polícia conseguiu evitar o pior.

19 de agosto

Um ex-aluno da escola Eber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, na Capital, invadiu o local armado com facas ninjas, flechas e coquetéis molotov. 

Foto: Folha Vitória

Henrique Lira Trad, de 18 anos, ameaçou matar estudantes e funcionários da instituição. Moradores chamaram a polícia antes do plano ser executado. Ele foi preso e autuado em flagrante por tentativa de homicídio qualificado. 

Henrique está no Centro de Detenção Provisória de Viana 2.

01 de setembro

A Polícia Civil identificou uma criança de 11 anos que fez ameaças para estudantes de uma escola municipal da Capital com foto de uma arma, em uma rede social. 

O menino disse que era uma brincadeira que começou na internet. Ele conheceu um adolescente de 13 anos em um jogo online que disse que pagaria R$ 30 caso a criança enviasse a foto

Foto: Reprodução

Em comum, o fato de que em todos os episódios os envolvidos são muito jovens.

A coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Violência, Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do Espírito Santo explica que mudanças na sociedade tem contribuído para crimes dessa natureza. 

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Outros casos de atentados no Brasil

Nos últimos anos os crimes com ligações neonazistas no Brasil aumentaram consideravelmente. Em março de 2019, dois atiradores invadiram uma escola em Suzano (SP), onde morreram dez pessoas (incluindo os autores). 

De acordo com a mãe de um deles, Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, o jovem era ávido consumidor de literatura nazista. No momento do ataque, Guilherme utilizava uma balaclava com uma caveira, ou "skull mask", item também usado pelo atirador de Aracruz. 

Mais recentemente, em 2021, Fabiano Kipper Mai invadiu uma creche em Saudades, Santa Catarina, e assassinou cinco pessoas, duas delas, bebês de menos de dois anos de idade. Após apreensão do celular do suspeito, policiais descobriram que ele se comunicava com células neonazistas do Rio de Janeiro. 

Já em 2022, a polícia de Santa Catarina prendeu oito homens em flagrante em uma reunião, todos eram  suspeitos de integrar uma célula neonazista com ligações interestaduais e internacionais. Um deles, inclusive, utilizava tornozeleira eletrônica por tentativa de homicídio contra um homem judeu.

*Texto do repórter Guilherme Lage, do Folha Vitória

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