Empresário de 31 anos morre após cair de cavalo em Vila Velha e família doa os órgãos
Péricles Junior estava com os amigos na hora do acidente. Ele chegou a pegar o carro para voltar para casa, mas foi achado desacordado dentro do veículo. Internado, não resistiu
O empresário Péricles Junior, de 31 anos, era conhecido como um “cara do bem”, estava sempre com a família, trabalhava, gostava de se divertir, vivia rodeado dos amigos, era integrado e participativo na Igreja Católica. Na última sexta-feira (17), durante um encontro com amigos, uma tragédia aconteceu e interrompeu a história do empresário.
Péricles participava de uma cavalgada noturna em Vila Velha, onde morava, e caiu do cavalo. Levado ao hospital, teve morte cerebral decretada e a família decidiu, de certa forma, manter a memória do jovem que gostava de fazer o bem: doar os órgãos.
A tragédia que tirou a vida de Péricles aconteceu na madrugada de sexta-feira, por volta de 2 horas. Ele, que atuava no ramo de entulho, estava com um grupo de amigos fazendo uma cavalgada na região da Barra do Jucu.
O cavalo que o empresário montava era de um amigo, mas ele estava acostumado com os animais e com esse tipo de passeio. Neste dia, durante a chamada “revoada”, ele caiu.
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A tia de Péricles, Nilce Marques, ainda muito abalada com a morte do sobrinho, contou à reportagem do Folha Vitória que os amigos não souberam dizer como de fato aconteceu o acidente.
“Não sabemos se ele bateu a cabeça no chão ou se o cavalo deu uma ‘joelhada’ em Junior, como ele era chamado. Só nos contaram que todos pararam e foram ajudar, e meu sobrinho estava sem ferimentos aparentes. Ele até conversou, falou que estava com dor de cabeça, um pouco enjoado e que queria ir logo para casa para dormir na cama dele”, disse Nilce.
Os amigos insistiram em levar Péricles para um hospital, um pronto-atendimento e até mesmo acionar o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu).
“Mas ele não queria. Junior só falava: ‘quero ir embora e deitar na minha cama’”, revelou.
Os amigos cederam e chamaram um motorista de aplicativo para levar Péricles até o carro, que estava um pouco distante do local.
Ele acionou o carro por aplicativo às 2h53, segundo a tia, e conseguiu pegar seu veículo e seguir para casa, em Novo México, Vila Velha.
“Eu até localizei o motorista do carro por aplicativo para tentar entender toda a história. Ele me disse que, dentro do carro, Junior contou que havia caído do cavalo. O rapaz também insistiu que Junior precisava ir para um hospital, mas não convenceu”, relatou.
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Sete minutos depois, às 3h da madrugada, na região do bairro Guaranhuns, Péricles, na direção de seu carro, estacionou.
Imagens de câmeras obtidas pela família mostram que o empresário por várias vezes abre a porta do veículo e vomita. Em determinado momento, ele fecha a porta e não abre mais. Péricles estava a cerca de cinco minutos de casa.
Pais, irmão e amigos fizeram buscas pelo empresário
Os pais dele estavam em Guarapari e o irmão em casa. Somente pela manhã o irmão sentiu que havia acontecido alguma coisa errada, mesmo a família sabendo que ele chegaria tarde na residência, porque Péricles não havia dormido em casa.
“O irmão ficou preocupado, ligou para ele e acionou os pais. Eles vieram correndo de Guarapari e, com os amigos, começaram uma busca intensa pelo meu sobrinho. Só às 10h40 de sábado é que o acharam. O pai dele achou o carro e viu o filho lá dentro”, descreveu a tia.
O Samu foi acionado, a mãe do empresário também chegou e foi na ambulância com o filho. Péricles foi levado para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas, em Vitória.
“Junior estava inconsciente, mas visivelmente ele não tinha nada. Não tinha nenhum corte, mas disseram no hospital que ele fraturou duas costelas e machucou a cabeça”, disse.
"Ele vai continuar sendo bom, mas agora em outras vidas"
Logo que a notícia chegou, familiares, amigos e pessoas ligadas ao Santuário e ao Convento da Penha, onde os pais de Péricles atuam como ministros da eucaristia, começaram corrente de oração pela recuperação dele.
Na quarta-feira (22) pela manhã, veio a notícia de que havia sido decretada a morte cerebral. Mesmo em um momento de muita dor, os pais decidiram doar os órgãos do filho.
“O sentimento só foi o de que, de tudo que Péricles foi bom com a família, com os amigos, com a igreja, ele vai continuar sendo bom, mas agora em outras vidas, em outras pessoas”, concluiu emocionada a tia do empresário.
O corpo vai precisar passar pelo Departamento Médico Legal (DML), em Vitória, já que se trata de um acidente. Até a tarde desta quinta-feira (23), a família acompanhava as informações das doações dos órgãos.
Somente nesta sexta-feira (23) o corpo será liberado. O velório deve acontecer no Centro Comunitário de Vila Nova, Vila Velha, e o enterro no cemitério de Santo Antônio, Vitória.
“Nós soubemos que as córneas, os rins, até o coração dele poderão salvar vidas. É um momento de muita dor para a família, mas isso nos conforta de certa forma. Junior vai continuar em outras vidas”, disse Nilce.
Secretária da Saúde: rins e fígado doados
A reportagem procurou a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para pegar informações sobre a captação dos órgãos. Em nota, a Sesa explicou que, no caso do empresário, "foram captados os dois rins e o fígado", transplantados em pacientes do Espírito Santo.
Na nota, a secretaria também esclareceu o caminho da doação de órgãos. De acordo com a coordenação da Central Estadual de Transplantes do Espírito Santo (CET-ES), após a confirmação de morte encefálica do paciente internado e validação desse diagnóstico por uma equipe especializada, esse paciente é classificado como doador em potencial e a família é informada sobre a possibilidade de doação dos órgãos.
Em seguida, "procedida a entrevista familiar, a CET-ES é informada pelo hospital da permissão desta família para a doação de órgãos e tecidos e se inicia a avaliação da história clínica, os antecedentes médicos e os exames laboratoriais".
A viabilidade dos órgãos é avaliada, bem como a compatibilidade com prováveis receptores e a sorologia para afastar doenças infecciosas.
Após esse processo, a CET-ES emite uma lista de receptores inscritos compatíveis com o doador. "A central, então, informa à equipe de transplante o nome do paciente receptor, as condições do órgão e aguarda a avaliação da equipe transplantadora sobre a possibilidade de transplante".
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