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Empresas aliam desenvolvimento econômico com preservação do meio ambiente

Mais do que colocar um produto no mercado, as companhias estão se posicionando em relação ao tema e estimulando os consumidores sobre ele

Foto: Divulgação
O Cinturão Verde, localizado na área industrial da ArcelorMittal Tubarão, abriga mais de 2,6 milhões de árvores e arbustos, com mais de 230 espécies da flora

É cada vez mais comum ouvirmos falar sobre sustentabilidade. Isso porque a sociedade já percebeu que nossas necessidades são infinitas e os recursos naturais são limitados. Por esse motivo, as organizações têm investido muito em ações e programas de responsabilidade socioambiental.

Esse tipo de investimento propõe uma nova maneira de trabalho. As atividades exercidas pelas empresas são revistas, buscando identificar os impactos que possam causar ao meio ambiente e como podem ser reduzidos ou, até mesmo, eliminados. E não é só o meio ambiente que sai ganhando. As organizações também se beneficiam com essa prática.

“Ser sustentável é muito mais do que somente ter preocupação com os impactos ao meio ambiente. É estruturar os processos produtivos de forma harmônica, nos quais o desenvolvimento e a proteção aos recursos naturais sejam condutas empresariais”, avalia Felipe de Mello, biólogo com mestrado em Sustentabilidade. 

Ainda para o especialista, as empresas são gestoras de recursos e, ao mesmo tempo, supridoras de necessidades. Para ele, as instituições podem criar condições para a sociedade caminhar na direção da sustentabilidade, conforme se mostram capazes de entregar um produto com custo ambiental cada vez menor.

“Um dos maiores erros conceituais da educação para a sustentabilidade é pensá-la como algo que ocorre somente nas escolas, quando na verdade ela demanda quase que uma reeducação da sociedade para um novo pacto: a relação da economia com a natureza e dos agentes, públicos e de mercado, sobre os serviços ambientais. Então, ela é um conceito que deve permear todos os processos de capacitação: em empresas, escolas, mídias e no setor público”, afirma o biólogo. 

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A maior preocupação e investimento das empresas em produtos e processos ecologicamente amigáveis deixou, há tempos, de ser uma tendência e já pode ser entendida como algo intrínseco ao dia a dia das companhias. Pelo menos é o que aponta o economista Antônio Marcus Machado. Na avaliação dele, dentro de uma linha do tempo, a sustentabilidade podia ser entendida como tendência até por volta de 2010. “A partir daí, as empresas começaram a praticar, a amadurecer a temática e a integrá-la em seus negócios”, aponta.

Com isso, mais do que simplesmente colocar um produto no mercado, as companhias estão se posicionando em relação ao tema e estimulando os consumidores sobre ele. Neste quesito, na opinião do economista, repousa o principal desafio da indústria e do varejo, qual seja, o de comunicar e educar os consumidores para que sejam mais conscientes em suas escolhas.

“Levar isso para a ponta é o grande desafio. As grandes empresas têm o papel de liderar o processo quando falamos em sustentabilidade. Elas educam o consumidor para que ele seja mais consciente, estimulam e integram fornecedores para trazer mais sustentabilidade à cadeia e investem em lojas e operações mais sustentáveis”, destaca Machado.

Em defesa do jacaré

Foto: Divulgação

Quando a ArcelorMittal Tubarão começou a operar na Serra, há 35 anos, a região metropolitana do Espírito Santo tinha mais de 300 mil habitantes e sua área industrial ficava distante das aglomerações urbanas. Com o aumento populacional e o crescimento das cidades, a empresa passou a ter como política uma relação sustentável, transparente e equilibrada entre empresa e sociedade.

Foi nesse contexto de desenvolvimento econômico que a empresa notou a presença de jacarés em lagoas localizadas na área industrial. “Nós tínhamos a ciência e acompanhávamos o movimento dos jacarés em nossas lagoas, mas não tínhamos a noção exata da quantidade. Para nós, saber que existem cerca de 500 jacarés aqui foi uma surpresa. Foi nesse período que conhecemos e passamos a apoiar o Projeto Caiman. Buscamos entender esse movimento dos jacarés, se estariam em desequilíbrio. Mas percebemos que a natureza é ímpar e consegue co-existir com uma empresa com produção de aço, por exemplo”, afirma o gerente Geral de Sustentabilidade e Relações Institucionais da ArcelorMittal Tubarão, João Bosco Reis da Silva.

Mas por que uma empresa que é referência na produção de aço dedica tempo e investimento para preservar espécies, como jacarés? “Os jacarés fazem parte da nossa identidade. A ArcelorMittal co-existe e produz aço em harmonia com os jacarés. São 500 jacarés em nossas seis lagoas. Nossa relação com esses répteis está inserida em um contexto mais amplo que está associado à prática do desenvolvimento sustentável e à nossa responsabilidade corporativa”, avalia João Bosco.

Desde a implantação da usina, na década de 1980, para a construção do Cinturão Verde, que hoje ocupa cerca de 7 km², quase 50% da área total da planta, a área industrial da siderúrgica abriga mais de 2,6 milhões de árvores e arbustos, com mais de 230 espécies da flora. O local conta ainda com seis lagoas naturais, além de uma região marinha. Essa diversidade proporciona um habitat que atrai uma fauna rica.

Os estudos internos já identificaram a presença de mais de 500 espécies animais, entre aves, mamíferos, peixes, repteis e organismos aquáticos. As equipes de Meio Ambiente e Segurança Patrimonial trabalham em conjunto para preservar as condições de vida no local, realizando monitoramento contínuo, manutenção e resgates. O Cinturão também é utilizado por pesquisadores e estudantes de instituições de ensino regionais.

Tartarugas 

Foto: Rodrigo Araujo

O Projeto Tamar mantém há 16 anos uma parceria com a ArcelorMittal Tubarão. Os especialistas da ONG usam o local de descarte do efluente tratado da empresa para capturar e levantar dados biológicos das tartarugas verdes que ali encontram abrigo e alimento. Já foram realizadas mais de 3,5 mil capturas na área. “É um trabalho único no mundo, que tem permitido a elaboração de estudos científicos muito relevantes para a preservação dessa espécie. É um verdadeiro laboratório a céu aberto”, diz a coordenadora Regional do Tamar ES/RJ, Cecília Baptistotte.

Em 2016, a unidade de Tubarão ampliou sua parceria com a ONG, investindo na construção de um tanque rochoso com visores subaquáticos no centro de visitantes do Tamar em Vitória, onde o projeto realiza ações de educação ambiental e promove a conscientização da população sobre a importância de se preservar as diferentes espécies de tartarugas.