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Mergulhador que interagiu com orca na Serra faz tattoo em homenagem ao animal

O mergulhador Fernando Rocha decidiu eternizar o momento com uma tatuagem para marcar um dia que, segundo ele, marcou sua vida

Matheus Moraes

Redação Folha Vitória

O mergulhador que encontrou uma orca no mar de Nova Almeida, na Serra, decidiu homenagear o animal e o momento, definido por ele como marcante em sua vida. 

Para isso, Fernando Rocha de Lima, de 42 anos, decidiu tatuar o animal na pele e deixar o registro não só na lembrança.

Foto: Divulgação / Willian Aguiar

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Em entrevista à reportagem do Folha Vitória, Fernando Rocha contou que a ideia de tatuar o animal surgiu após uma conversa com um amigo. 

O encontro com a orca aconteceu na última terça-feira (20) em Nova Almeida, mas desde então, o profissional não tirou a cena da cabeça.

"A ideia surgiu porque esse animal marcou minha vida. Eu sinto um amor como se fosse um filho. É um amor muito grande que eu queria marcar para nunca mais esquecer. Conversando com um amigo, ele deu a ideia de fazer a tatuagem e eu gostei da ideia", disse Rocha.
Divulgação / Willian Aguiar
Divulgação / Willian Aguiar

"Parecia que ela já me conhecia"

Quando questionado sobre o momento em que tudo aconteceu, faltam palavras do mergulhador para definir um sentimento que resuma a experiência. 

Em contato com o mar desde os 10 anos e há 25 anos atuando como mergulhador, Fernando lembra dos detalhes da experiência com a orca como se fosse ontem.

"Foi um momento único. Ela me abraçava e faltava entrar do barco. Parecia que ela já me conhecia, foi realmente muito emocionante."

Experiência semelhante com uma jubarte

Com mais de duas décadas de experiência no mar, Fernando conta que já teve um contato parecido com outra visita constante nas águas capixabas: a baleia jubarte.

Na ocasião, além do animal adulto, que já possui uma presença marcante por si só, a baleia estava acompanhada de um filhote. Algo que deixou o mergulhador ainda mais encantado.

"Tive uma experiência com uma baleia jubarte e um filhote. Elas estavam indo em direção à praia, estavam há uns 300 metros da areia. Eu fui em direção a elas, consegui guiar as duas, elas me obedeceram e consegui levar elas de volta para o mar longe da costa", lembrou.

"Como se tivesse morrido um parente", disse Fernando sobre a morte do animal

A notícia de uma morte é algo naturalmente impactante. Porém, para Fernando, ao receber a informação de que a orca que ele encontrou havia sido vista morta na areia da praia, o impacto, segundo ele, foi ainda pior.

"Me mandaram o vídeo por volta de 5 horas com ela morta. Eu não dormi a noite de alegria e na hora que vi o vídeo eu só fiz chorar. Foi como se tivesse morrido um filho, um parente. O pessoal do instituto me ligava pedindo para eu ir até lá, mas eu não conseguia", contou o mergulhador que até hoje se emociona ao lembrar.
Foto: Divulgação / Willian Aguiar
Fernando Rocha ao lado do tatuador Willian Aguiar, responsável pelo desenho

A tatuagem

Uma das frases que mais marcou o vídeo, foi escolhida para compôr o desenho do tatuador Willian Aguiar, responsável pelos traços que homenageiam o animal encontrado por Fernando.

A frase "Ela me ama" foi uma das falas que o mergulhador fez ao entrar em contato com a orca no mar de Nova Almeida. Reveja o vídeo com o momento do encontro:

Mergulhador está recebendo ameaças na rua após morte da orca

Apesar de toda a emoção que envolveu o momento "mágico" do encontrou com a orca e a tatuagem feita em homenagem ao animal que, posteriormente, foi encontrado morto, Fernando relatou que tem recebido ameaças na rua.

Foto: Reprodução

Segundo o mergulhador, pessoas estão apontando ele como o responsável pela morte da orca. 

Vale lembrar que exames realizados pelo Instituto Orca detectaram a presença de plástico no estômago do animal.

O diretor do instituto, Lupércio Araújo, relatou que ao analisar o animal e pela quantidade de plástico encontrado em seu interior, a orca estava a pelos menos três semanas em sofrimento, não conseguindo se alimentar normalmente.

As ameaças chegam de diferentes formas

Fernando Rocha contou que desde quando tudo aconteceu, ele tem passado por momentos de aflição na rua, seja sozinho ou mesmo com sua família.

"Muita gente maldosa me vê na rua e diz que eu matei o animal. Eu estive dentro de um mercado e precisei ir embora porque apontavam para mim dizendo 'a Polícia Civil vai investigar'", disse o mergulhador, preocupado com toda a situação.

De acordo com o doutor em Oceanografia, Adriano Magesky, na autópsia feita na orca encontrada na praia, foi detectada a presença de plásticos que, segundo ele, contribuíram para a morte do animal.

Além disso, outros fatores também impactaram e prejudicaram a saúde da orca, porém, nenhum deles relacionado ao contato com os mergulhadores.

"A baleia que apareceu na praia, segundo a autopsia, tinha muito plástico ingerido. Isso tem sido comum para muitos mamíferos marinhos e interfere nas atividades do animal, que fica doente, não se alimenta e fica exposto a doenças e outros organismos oportunistas. Segundo a autopsia, também havia mordidas de tubarão-charuto, uma espécie pequena de tubarão que arranca nacos de carne das presas", explicou.

Magesky reforça a complexidade do comportamento desse animal, tendo em vista que o mesmo costuma andar em bandos e vivem em águas mais frias do que as presentes na costa capixaba.

"O comportamento das orcas é bastante complexo. São animais extremamente inteligentes, então é difícil saber a natureza da interação observada. Pode ter sido curiosidade dela. São animais que vivem em grupos onde há interação entre os membros. São animais de águas oceânicas e mais frias, então é pouco comum aparecerem em regiões costeiras tropicais. Pode ser que ela tenha se desprendido do grupo por estar mais fraca e doente", apontou o oceanógrafo.

O doutor ainda faz um alerta. "Ao ser vista próxima a águas costeiras, convém chamar os órgãos responsáveis pelo monitoramento de mamíferos marinhos (do governo ou ONGs)."