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O relato de Degina, professora que sobreviveu após 5 tiros em ataque a escola de Aracruz

Degina Rodolfo, de 37 anos, foi alvo de cinco tiros durante os ataques as escolas de Aracruz, em 25 de novembro. A professora recebeu alta na última sexta (16)

Foto: Reprodução / Internet

Degina Rodolfo de Oliveira Fernandes, de 37 anos, é uma verdadeira sobrevivente. A professora de Inglês foi alvo de cinco tiros durante os ataques as duas escolas de Aracruz, em novembro deste ano. 

À reportagem do Folha Vitória, ainda com certa dificuldade para falar após 22 dias de internação, Degina concedeu breve entrevista nesta segunda-feira (19) e se emocionou ao descrever como é estar de volta para casa após a tragédia.

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A professora recebeu alta na última sexta-feira (16) do Hospital Jayme dos Santos Neves, na Serra. Degina, que é mãe de três filhos — gêmeos de 7 anos e um bebê de apenas 9 meses — contou que as coisas simples a alegram após a volta para casa, como sentir o cheiro do bebê.

"Foi emocionante, meus filhos me abraçaram, o bebê sorriu para mim. Não consigo pegar o bebê no colo por causa do braço, mas vê-lo, poder cheirar ele já me deixa feliz", disse. 

A professora, que ainda tem dificuldades de falar por conta da entubação que durou 10 dias, comemora as pequenas vitórias, como o fato de não precisar enfrentar uma cirurgia, mas ainda sofre algumas sequelas do ataque. 

"Meu braço esquerdo formiga e queima e eu perdi um pouco da força nele. Minha perna está com um aparelho para ajudar o osso a colar, vão tirar depois de um pouco mais de um mês, me disseram que não precisarei de cirurgia na perna. Minha voz ainda está bem baixa. Estou tossindo porque meu pulmão está se desenvolvendo na nova situação"

Interação com colega também vítima de ataque e carinho dos profissionais de saúde

Durante o período que esteve no hospital, Degina pôde ver e interagir com uma das colegas, uma professora de 51 anos que ficou internada na mesma unidade e lembra com carinho dos profissionais de saúde que atenderam ambas. 

"Ao hospital só posso agradecer, achei anjos sem asas lá que cuidaram de mim e me motivavam e até alegravam meus dias. Coisas como marcar sessões com a mesma fisioterapeuta da colega que está internada, para a gente poder se ver, me incluir nas brincadeiras que aconteciam ali no momento para eu fazer parte da situação", contou. 

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"Eu lembro o primeiro banho de chuveiro que tomei, eu até falei com a enfermeira que ela parecia minha mãe, porque ela me deu um banho mesmo. Lavou meu cabelo, penteou, passou creme, eu me senti muito bem cuidada, muito bem tratada, profissionais muito capacitados, eu só tenho a agradecer mesmo".

Sobre o reencontro com a colega durante a internação, a professora classifica a conversa como um renascimento. "Foi ótimo, choramos, demos as mãos e ficamos gratas por nascermos novamente".

No hospital, Degina contou também com o apoio do marido e dos pais, um momento que ela descreve como emocionante, principalmente por conta da relação próxima com a mãe que se estreitou ainda mais durante o período. 

"Triste pelas pessoas que se foram e seus familiares"

Degina não se sente à vontade para falar sobre o atentado, cometido por um ex-aluno da Escola Primo Bitti, que a deixou ferida e tirou a vida de três colegas, além de uma aluna no Centro Educacional Praia de Aracruz. 

Foto: Divulgação | Montagem FV
"Não me sinto muito bem falando sobre isso. Só posso dizer que eu fiquei lúcida o tempo todo, até chegar ao Jayme. Fiquei triste pelas pessoas que se foram e seus familiares. Eu e meu marido estamos felizes pela minha recuperação, mas a gente não fica tão feliz porque a gente sabe que tem famílias que não vão receber os filhos de volta."

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A professora ainda não reencontrou os colegas da escola, mas já espera visitas durante a semana para matar a saudade e contou ainda que recebeu mensagens de apoio de alunos e colegas atuais e do passado. 

Ela ainda agradeceu o apoio de todos durante o período de dificuldade. "Pude sentir essa união, ver pequenos milagres no hospital e me recuperar em poucos dias de um estado gravíssimo graças a oração de todos."

Relembre o Atentado 

Por volta de 9h30 de 25 de novembro, um ex-aluno da Escola Primo Bitti, invadiu a escola com duas armas: uma pistola .40 e um revólver 38, ambas pertenciam ao pai, que era tenente da Polícia Militar. Na escola ele matou três pessoas e depois se dirigiu ao Centro Educacional Coqueiral de Aracruz, onde tirou a vida de uma aluna. 

Ele foi julgado e cumprirá medida socioeducativa por três anos, no  Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases). O menor admitiu que planejou o ataque por dois anos, 

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