Cunhada gera bebê de mulher com doença degenerativa no ES: "Um sonho"
A agricultora Rosane Faria realizou o sonho de ser mãe após a cunhada, Miriam Correa, propor a gestação de Sarah, que nasceu em fevereiro de 2024
Uma história no Espírito Santo, em Barra de São Francisco, mostra como o desejo de ser mãe pode superar limitações físicas.
Miriam Cristina Vieira Correa, auxiliar contábil de 40 anos, aceitou ser "barriga solidária" para que sua cunhada, Rosane Raimundo Faria, agricultora de 43 anos, e o marido, Renato da Silva Vitor, pudessem realizar o sonho de ter um filho. O fruto desse sonho é Sarah, que nasceu em fevereiro de 2024.
Rosane enfrentou muitos desafios para ser mãe. Diagnosticada com menopausa precoce aos 18 anos e portadora de atrofia muscular espinhal progressiva (AME), condição que causa fraqueza muscular e instabilidade motora, ela foi desaconselhada a engravidar.
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"Eu tenho muito desequilíbrio e dificuldade de caminhar, se eu ficasse grávida seria pior. Foi maravilhoso o que a minha cunhada fez por nós, não tem dinheiro, não tem nada que pague. Não tem como explicar como é maravilhoso ser mãe, é a realização de um sonho", disse.
Médicos alertaram para o risco de complicações severas, incluindo a necessidade permanente de cadeira de rodas, caso Rosane engravidasse.
A fertilização in vitro, com óvulos de uma doadora anônima, e o sêmen do marido, Renato, foi a solução indicada, e a gestação foi realizada por meio do útero de substituição, e Miriam, que é casada com o irmão de Rosane, como a "barriga solidária".
A auxiliar contábil conta que sempre teve uma boa relação com a cunhada, e que via o sofrimento de Rosane por não conseguir ser mãe. Quando estava grávida do segundo filho, Miriam propôs ser a barriga solidária.
"No final da gravidez do meu segundo filho eu perguntei se ela tinha muita vontade de ter bebê, e a Rosane disse que sim. Então eu fiz a proposta, ela corria atrás da fertilização, e eu geraria o filho dela", contou.
Veja as fotos de Sarah:
Apesar do carinho envolvido, a gestação não foi fácil. Durante a gravidez, Miriam precisava receber injeções na barriga, e chegou a contrair Covid-19.
"Gerar a Sarah foi uma benção, mas não foi fácil. Eu tive tendência a ter embolia pulmonar durante a gravidez, e precisei tomar injeções na barriga durante toda a gestação. Quando eu estava com 36 semanas de gravidez, contraí Covid e fiquei internada em um hospital em Colatina por uma semana, passei muito mal", disse.
Momento do parto foi compartilhado entre Miriam e Rosane
Após se recuperar do coronavírus, Miriam conta que ficou, junto de Rosane, em uma casa de parentes em Colatina. O medo da auxiliar contábil era não chegar a tempo no hospital no dia do parto, já que a viagem partindo de Barra de São Francisco demoraria.
"São duas horas de viagem. No dia do parto, acordei sentindo muita dor nas costas, e como eu já tive partos antes, disse à Rosane que a Sarah estava querendo vir. Ficamos cinco dias esperando ela vir, e os maridos não conseguiram chegar a tempo. Na hora do parto, foi só eu e ela, foi um momento compartilhado entre nós duas", contou.
Miriam conta que o parto ocorreu sem complicações, e que Sarah nasceu de cesárea. A médica perguntou se ela queria receber o bebê nos braços, mas Miriam pediu para entregar à Rosane.
"Eu respondi que podia entregar o bebê direto para a Rosane, porque ela é a mãe. Eu fui só a casinha, a estufa da Sarah. Alguns médicos desaconselharam, disseram que isso não era certo, mas a médica que acompanhou todo o processo foi super carinhosa", falou.
Rosane conta que a filha convive o tempo todo com os primos, filhos de Miriam, principalmente durante as reuniões familiares.
"Temos muito amor uma pela outra, nós convivemos muito bem. As crianças dela estão comigo quase todo dia, nós moramos pertinho uma da outra, e minha mãe mora perto também. É maravilhoso, nós nos reunimos na casa do meu pai, toda a família gosta dela, e ela gosta de estar junto conosco", declarou.
Procedimento de "barriga solidária" é permitido em caso de gravidez de risco
A doutora em Reprodução Humana, Layza Merizio Borges, explica que a técnica de "útero de substituição" é uma solução viável para mulheres que não podem engravidar por questões de saúde, para casais homoafetivos, homens solteiros e outras situações específicas.
"A gestação de substituição, mais conhecida como 'barriga solidária', é permitida quando a mulher tem uma doença que pode gerar problemas na gravidez, ou em risco de morte. Para casais masculinos o tratamento também é permitido", apontou.
A médica explica que o tratamento não pode ser remunerado, e que o suporte psicológico é fundamental, para que todos os envolvidos estejam a par das funções, e para que a mulher que está gerando o bebê saiba que não é a mãe.
"Tudo deve ser documentado em termos de consentimento, para que a criança seja registrada pelos pais biológicos. Todos os custos que a gestante tiver durante a gravidez devem ser arcados pelos pais biológicos", explicou.
Mais conhecida no Brasil pelo termo afetuoso "barriga solidária", o útero de substituição é regulamentado pela Resolução nº 2.320/22 do Conselho Federal de Medicina (CFM), permitindo que parentes consanguíneos de até quarto grau de um dos parceiros, ou pessoas autorizadas pelo Conselho Regional de Medicina, sejam responsáveis pela gestação.
No caso de Rosane, a ausência de parentes que atendessem aos requisitos levou a equipe médica a solicitar uma autorização especial ao Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES).