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Drogas, bebidas e jogos: especialistas destacam mitos e verdades sobre vícios

Algumas crenças populares sobre dependência muitas vezes dificultam o tratamento e a recuperação. Veja o que dizem especialistas

Kayra Miranda

Redação Folha Vitória
Foto: divulgação/freepik

O tema "vícios" ainda é cercado por muitos mitos e preconceitos que dificultam o entendimento e o tratamento adequado.

Muitas crenças populares sobre dependências afastam as pessoas de abordagem que poderia salvá-las de vícios como álcool, drogas, cigarro e jogos.

Procurados pela reportagem do Folha Vitória, especialistas relatam alguns diferentes métodos de recuperação que podem ajudar na superação.

Mitos e fatos sobre vícios:

MITO: “É fácil parar quando quiser”

"Quem quer, consegue. É fácil". Essa abordagem, dita muitas vezes a dependentes, é amplamente refutada por especialistas.

Segundo a Médica Psiquiatra Renata Lage, o vício não é apenas uma questão de força de vontade, mas sim um problema que envolve alterações no cérebro, como o comprometimento do sistema de recompensa e do controle de impulsos.

"Não se trata apenas de querer, mas de como a dependência afeta o organismo, tornando a superação um desafio que exige apoio e tratamento adequado."

MITO: “Somente pessoas de baixa renda são afetadas por vícios”

Outro mito é associar a dependência a um grupo específico. Na realidade, como destaca Renata Lage, o vício pode atingir qualquer pessoa, independentemente de classe social, idade ou histórico de vida.

A dependência é uma questão multifatorial, influenciada por aspectos genéticos, psicológicos e ambientais.

MITO: “É preciso chegar ao fundo do poço para buscar ajuda”

Esse é um dos mitos mais perigosos. Quanto mais cedo a pessoa busca tratamento, maiores são as chances de sucesso. Esperar o agravamento do quadro pode levar a consequências graves para a saúde física e mental.

Impactos na saúde física e mental

Foto: Reprodução / Instagram

A dependência afeta tanto o corpo quanto a mente. No âmbito mental, a médica Psiquiatra explica que as mudanças no sistema de dopamina podem levar à depressão, ansiedade e isolamento.

Já fisicamente, o uso prolongado de substâncias viciantes pode causar danos graves ao fígado, rins e coração. No caso da dependência de jogos, problemas como sedentarismo e distúrbios do sono também são comuns.

Existem diferentes abordagens para o tratamento de vícios. Há o tratamento tradicional, que pode incluir medicamentos e terapia intensiva, e métodos usados em comunidades terapêuticas, como as adotadas pela Fazenda da Esperança e pela Comunidade Edificar.

O coordenador da Fazenda da Esperança, Rafael José da Silva, destaca que o trabalho e a espiritualidade são pilares centrais no processo de recuperação no local.

“Aqui, as pessoas descobrem um novo estilo de vida. Não se trata de ‘parar porque eu quero’, mas de uma mudança profunda onde o vício deixa de fazer sentido no novo contexto de vida”, destaca.

A Fazenda da Esperança oferece um ambiente aberto, sem contenção física ou uso excessivo de medicamentos, o que, segundo Rafael José, permite que os acolhidos escolham permanecer e se engajar no processo de transformação.

Já a assistente social da Comunidade Edificar, Gisele Mesquita, ressalta a importância de reconhecer sinais de alerta.

"Mudanças bruscas de comportamento, como isolamento, descuido com a higiene e alterações no apetite, são indicativos claros de que a pessoa pode precisar de ajuda urgente", explica.

Transformação e superação

A gerente executiva do Instituto Américo Buaiz (IAB), Paula Martins, reforça o papel das comunidades terapêuticas como espaços de recuperação baseados no apoio mútuo e na vontade de mudar.

“As pessoas estão lá por decisão própria, sem imposições legais, o que demonstra o compromisso delas com a própria recuperação”, afirma.

Esses métodos têm se mostrado eficazes, especialmente ao oferecer uma abordagem humanizada e integrada, que vai além do tratamento convencional.

Desmistificar os mitos sobre vícios é o primeiro passo para enfrentar o problema. Entender que dependência é uma condição complexa, que vai além da força de vontade, ajuda a abrir espaço para abordagens eficazes e humanizadas, promovendo recuperação e reintegração à sociedade. 

Seja por meio de métodos tradicionais ou comunidades terapêuticas, o importante é buscar ajuda o quanto antes e acreditar na possibilidade de transformação.

Nesse contexto, iniciativas como as do Instituto Américo Buaiz, que apoia comunidades terapêuticas comprometidas com uma recuperação voluntária e humanizada, reforçam a importância de unir esforços para transformar histórias de dor em exemplos de superação.