Campeão nacional de taekwondo vira símbolo de adoção tardia no ES
Mateus foi adotado junto do irmão Davi, em 2017, por Israel da Silva e o esposo: "É tudo muito bom. Eu digo que não tem diferença entre filho biológico e adotivo"
Existe coisa que mais combina com clima natalino do que família? O “Esperando por Você”, projeto desenvolvido pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES), em parceria com a Corregedoria Geral do Estado, incentiva a adoção de grupos de irmãos, crianças mais velhas ou com algum tipo de deficiência.
Mais de 25 meninos e meninas aguardam novos lares desde o início do projeto em 2017. Israel Leandro da Silva contou ao Folha Vitória sobre o amor que sente pelos filhos, adotados através do projeto. Junto do esposo Josélio Santos Nascimento, adotou os irmão Mateus e Davi em 2017, que na época tinham, respectivamente, 8 e 3 anos.
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"É tudo muito bom, a rotina, a correria da escola. Eles são muito amorosos, têm uma personalidade muito boa. Eu digo que não tem diferença entre filho biológico e adotivo, porque quando os meninos chegaram na nossa vida, foi como se eles tivessem acabado de nascer", contou.
Atualmente, Mateus é campeão brasileiro de taekwondo, e já participou de um campeonato estadual do esporte. Israel conta que o processo de adoção foi realizado com cuidado, e que os filhos aceitaram serem adotados por um casal homoafetivo.
"Nós moramos em Vitória. Chegamos no abrigo, em Linhares, sem as crianças saberem que estávamos lá para adotá-los. O Mateus veio tímido, e o Davi chegou com um sorrisão. Nós amamos eles já de cara. Ficamos os quatro no chão, brincando e conversando. O juiz permitia que passássemos o dia com eles aos finais de semana, e depois de um tempo de avaliação, permitiu que eles voltassem conosco para nossa casa", disse.
Israel conta que adotar compondo um casal homoafetivo é um sentimento único, e que, antes de Mateus e Davi, nunca havia pensando em ter filhos.
"O sentimento para nós, que somos gays, é único. Eu e meu esposo nunca pensamos em ter filhos. Eu amo crianças, sempre amei crianças, e foi maravilhoso quando meus filhos chegaram na nossa vida", contou.
Projeto incentiva adoção de crianças atípicas
A juíza Lorena Miranda Laranja do Amaral, da 1ª Vara da Infância e Juventude de Vitória, explica que a iniciativa é uma oportunidade para crianças e adolescentes com o sonho de ter uma família.
"A maioria das pessoas só quer uma criança pequena e saudável, mas nem todas que estão aptas à adoção estão nesse perfil. Crianças mais velhas, ou com algum tipo de deficiência, ficam muito tempo no abrigo aguardando pelo sonho de ter uma família. Esse projeto é uma oportunidade para eles", pontuou.
A juíza destaca que as fotos e vídeos das crianças e adolescentes que participam do projeto são realizadas de forma excepcional através da Corregedoria, com a manifestação da vontade de adoção, e para defender os interesses dos participantes.
"O adolescente tem que querer ser adotado. Nós fazemos uma filmagem através da Corregedoria, e subimos para o site do projeto. As fotos das crianças e adolescentes são divulgadas de forma excepcional, para defender os interesses das crianças", pontua.
Veja como ser um pretendente para adotar
Os pretendentes com interesse em adotar através da campanha deverão entrar no site do projeto, e preencher um formulário que consta logo abaixo da foto da criança escolhida. O documento será automaticamente enviado para a Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja-ES).
Após o cadastro, os pretendentes receberão uma resposta via e-mail, e a situação de habilitação será avaliada pelo Ceja. A comissão entrará em contato com os pretendentes habilitados via telefone, obedecendo a ordem da data do preenchimento do cadastro.
As principais características das crianças são apresentadas aos pretendentes, que terão o prazo de 48 horas para se manifestarem. Caso a resposta seja positiva, a Ceja informa a Vara de Justiça do respectivo município onde os pretendentes moram sobre o interesse manifestado.
Dentre as etapas da habilitação estão curso de habilitação, entrevista com psicólogo, envio de documentos, e até visita domiciliar de equipe responsável, explica a juíza Lorena.
"Os candidatos precisam fazer um curso de habilitação, passar por entrevista com psicólogo e assistente social, além de passar por um curso específico e, por vezes, receber visita domiciliar da equipe responsável. Também é necessário enviar documentos para a respectiva vara de justiça, como comprovantes de rendimentos, comprovante de saúde mental e física, cópias do CPF, RG, dentre outros", explicou.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê que o processo de adoção deve ser iniciado com buscas de candidatos habilitados no município onde a criança mora, dentro do sistema nacional de adoção gerido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Caso nenhum candidato habilitado e disposto a adotar a criança com as características apresentadas seja encontrado, a procura segue em cadência nos níveis estadual, nacional e internacional.