“Objetivo é identificar se houve falha de projeto ou execução”, aponta engenheiro sobre desabamento de prédio em Vitória
A área de lazer do condomínio desabou na madrugada da última terça-feira (19). O síndico e três funcionários ficaram feridos e um porteiro morreu
Dois dias após o desabamento da área de lazer do condomínio Grand Parc Residencial, na Enseada do Suá, em Vitória, a Avenida Nossa Senhora dos Navegantes continua com parte das vias interditada. A área do prédio foi toda interditada e os moradores não tem previsão de voltar ao local nem para pegar novos pertences.
Com o acidente, quatro pessoas ficaram feridas, entre elas o síndico do condomínio e mais três funcionários. Além deles, um porteiro morreu soterrado. O corpo dele só conseguiu ser retirado na madrugada da última quarta-feira (20).
No dia seguinte à tragédia, o engenheiro e diretor-presidente do Instituto Capixaba e Mineiro de Perícia, Eder Mascarenhas, fez uma análise da estrutura do prédio. Segundo ele, o objetivo agora é identificar se houve falha de projeto ou execução. “Um dos erros mais comuns em projetos são falhas em cálculos estruturais e na execução da obra é a mudança dos parâmetros do projeto”, explicou.
Confira a entrevista completa:
>> Quais passos devem ser tomados em relação à perícia no local do desabamento?
Eder Mascarenhas – “Nesse tipo de desabamento, que resulta em morte, a primeira perícia a ser realizada é da Polícia Civil, no qual vai se buscar a causa do sinistro e identificar o responsável criminal. A causa da morte é constatada pelo Instituto Médico Legal e os peritos engenheiros da sessão técnica da engenharia legal buscam identificar a causa do desabamento.
Para essa identificação, o primeiro passo é a realização de um levantamento no local através de uma leitura visual da identificação do ponto de onde se originou o desabamento. Em seguida, o perito faz a solicitação de projetos e documentos referentes à edificação.
No caso do desabamento de grandes proporções, como o que ocorreu no condomínio, é indicada a contratação de um perito engenheiro, com expertise na área de edificações, para que ele possa buscar a leitura do projeto a fim de realizar a remoção do entulhos e rejeitos, por empresas especializadas, e também buscar a identificar de patologias que deram causa do sinistro. A contratação de uma perícia independente vai dar sustentação técnica à perícia oficial da Polícia Civil bem como aos profissionais peritos das empresas responsáveis pela construção”.
>> O desabamento pode ter abalado as torres?
EM - “Macroscopicamente falando, a área de lazer que desabou aparenta que foi construída de forma independente as torres. Em um levantamento visual se percebe isso nas juntas de dilatação entre a laje da área de lazer e os prédios. Outra constatação que comprova que a estrutura das torres não foi abalada foi através da visualização das janelas, que estão intactas, das portas que não sofreram nenhum tipo de abalo interno e da ausência de rachaduras. Lembrando que tudo isso tem que passar por um estudo minucioso buscando a leitura dos projetos, execução da obra e materiais empregados”.
>> Quais as possibilidades relacionadas à piscina que podem ter causado todo o desabamento?
EM - “São várias as possibilidades. Pode ter acontecido erro de projeto, erro de execução, material empregado não apropriado ou excesso de carga. Um peso excessivo, não especificado no projeto, pode ter abalado a estrutura da coluna ou da própria fundação”.
>> Conforme entrevista do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil, a estrutura da área de lazer desabou em efeito dominó. Como se explica esse efeito?
EM - “A parte maior com sobrecarga da área de lazer era a piscina. Como toda a estrutura dessa área era interligada, o desabamento da piscina colocou em colapso toda a estrutura”.
>> Como os moradores podem requer o ressarcimento dos danos?
EM - “Em primeiro lugar, deve ser avaliado qual foi a forma de contratação do seguro da edificação. Saber se ele cobre o ressarcimento por danos na área estrutural, se cobre o ressarcimento pelos veículos estacionados na garagem e se cobre o ressarcimento em caso de mortes”.
>> Como fica responsabilização dos possíveis culpados?
EM - “Se o laudo da Polícia Civil identificar a responsabilidade criminal do engenheiro responsável (RT), por exemplo, ele pode responder provavelmente por um crime culposo. Quanto à questão de indenização em caso das vítimas, a construtora poderá ser acionada civilmente como coparticipante do condomínio tendo em vista que a vítima fatal era funcionário. Já os condôminos poderão acionar a construtora por perdas e danos matérias e moral”.
>> O senhor acredita que os imóveis podem sofrer alguma depreciação do valor devido ao desabamento?
EM - “Essa resposta é relativa. Após a avaliação da perícia dos projetos e a reconstrução da área de lazer, em minha opinião, o valor do imóvel deve continuar o mesmo de mercado. Porém o trauma pessoal de cada morador permanece”.