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Grande Vitória pode ter que racionar água se não chover em 30 dias

Segundo o Governo, crise hídrica entrou no seu período mais agudo. Com isso, os próximos meses serão de alerta e intensificação das ações para minimizar os impactos da falta de chuva

Segundo o Governo do Estado, crise hídrica entrou em seu período mais agudo no Espírito Santo Foto: Divulgação/Governo

No terceiro ano consecutivo de escassez de chuva, o Espírito Santo completa 1000 dias de crise hídrica. Com um cenário preocupante, o Governo do Estado, por meio do seu Comitê Hídrico, renova o alerta feito em abril, antes do inverno, período tradicionalmente com menos incidência de chuva, para que a população economize e use a água de forma racional, sem desperdício.

A avaliação do cenário aponta que a crise hídrica entrou no seu período mais agudo. Os próximos meses, até o fim do ano, serão de alerta e intensificação das ações para minimizar os impactos da escassez de chuva. Na Região Metropolitana da Grande Vitória, a situação se agravou nas últimas semanas.

Em todo o mês de agosto, os Rios Jucu e Santa Maria registraram vazões que ultrapassaram o limite considerado crítico. No dia 31, as vazões medidas foram 4.061 l/s e 2.376 l/s, respectivamente, o que representa 26% e 31% da média mensal de vazões para esse período. Antes, as médias mensais eram de 15.345 l/s no Rio Jucu e 7538 l/s no Rio Santa Maria.

O mês de agosto foi mais quente e seco do que o normal em praticamente todo o Estado, mesmo com a passagem de três frentes frias ao longo do mês (a média de passagem do sistema em agosto no estado é de duas frentes frias).  Quanto às chuvas, a quantidade registrada mal corresponde à metade do esperado.

A previsão de chuva para os próximos três meses no Espírito Santo não vai alterar de imediato os efeitos da crise hídrica. A chuva não deve ser suficiente para recarregar completamente o lençol freático, que em decorrência de três anos consecutivos de chuvas abaixo da média histórica, está muito aquém do normal. O solo está muito seco, degradado e sem cobertura vegetal, o que compromete a infiltração de água.

Na Grande Vitória, onde residem 50% da população capixaba, é necessário um esforço conjunto adicional. As vazões dos Rios Jucu e Santa Maria, principais rios que abastecem a Região Metropolitana, vem caindo sucessivamente. Com a falta de chuvas capazes de normalizar o volume de água, há a possibilidade de adoção de medidas mais severas. Caso a vazão caia mais 10% nesses dois mananciais e não haja economia por parte dos usuários, será necessário racionar a distribuição.

No interior do Estado, especialmente nas Regiões Norte e Noroeste, a situação dos rios é ainda mais crítica, e em alguns municípios sob a concessão da Cesan já há racionamento.

Nos municípios atendidos pela Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan), de janeiro a julho de 2015, a população atendeu ao alerta do Governo e economizou 7,5 bilhões de litros de água. Nos primeiros sete meses de 2016, a situação se manteve, porém, em função da piora do cenário, é necessário um esforço adicional.

Setembro ainda faz parte do período seco no Espírito Santo. O mês é marcado pelo início da primavera, que começa às 11h21 do dia 22 de setembro. No geral, a chuva média nas Regiões Sul e Sudeste capixaba é 60 mm. A região que mais recebe chuvas em setembro é a do entorno de Alfredo Chaves, que começa a ser influenciada pelas pancadas de chuva principalmente à tarde. No entanto, os valores de precipitação nessa área correspondem a apenas 60-90 mm. As temperaturas sobem um pouco (em torno de 2° C na média). O esperado pela equipe do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) é que mesmo que a chuva fique dentro do normal, ela não deve ser significativa quando comparada à precipitação registrada no período chuvoso.

Para outubro, que marca a transição entre o período seco e o chuvoso, o Sistema de Informações Meteorológicas do Incaper prevê que a chuva fique dentro da média do mês (entre 40 e 120 mm). Já para novembro, por ora a previsão aponta chuvas acima do normal (entre 150 mm a 300 mm).

El Niño

A previsão climática indica que as atuais condições oceânicas e atmosféricas no Oceano Pacífico Equatorial mostram uma situação de neutralidade no que se refere ao fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS), agora em transição para um fraco episódio de La Niña. No Espírito Santo, o fenômeno não exerce influência direta no regime de chuvas, mas normalmente deixa as temperaturas mais baixas que o normal no verão.

Sobre a previsão climática

A previsão climática por consenso para o trimestre setembro-outubro-novembro de 2016 (SON/2016) é elaborada pelo Grupo de Trabalho em Previsão Climática Sazonal do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (GTPCS/MCTIC), com a colaboração de meteorologistas do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) e Centros Estaduais de Meteorologia, como o Incaper. A previsão baseia-se na análise diagnóstica das condições oceânicas e atmosféricas globais e nos prognósticos de modelos dinâmicos e estatísticos de previsão climática sazonal. A previsão climática apenas aponta tendências para um determinado período (um mês, uma estação), focando na qualidade do regime de chuva e anomalias de temperatura. Eventos extremos de chuva, vento, frio ou calor só podem ser previstos com alguns dias de antecedência ou, dependendo de sua intensidade/deslocamento, poucas horas ou minutos. A atualização da previsão de temperatura e tempo, assim como avisos meteorológicos especiais, quando é o caso, podem ser acessados em: http://hidrometeorologia.incaper.es.gov.br

Ações

Um conjunto de ações de curto e longo prazo está sendo implementado pelo Comitê Hídrico. Na Grande Vitória, a Cesan vai reforçar e impermeabilizar o enroncamento (blocos de pedras colocados uns sobre os outros) localizado no Rio Jucu para acumular mais água na área de captação da estação de tratamento de Caçaroca. No Rio Santa Maria da Vitória, a água represada na barragem de Rio Bonito serve para regular a vazão do rio e dando condições para captar o suficiente para o abastecimento.

Outra medida de curto prazo é que o Sistema de Abastecimento de Água de Reis Magos, que está com 61% das obras concluídas, deve entrar em operação até o fim do ano. Esse novo sistema terá capacidade de fornecer 500l/s de água para parte da Serra, retirando a sobrecarga sobre o Rio Santa Maria. No Rio Jucu, a Cesan está realizando o projeto básico para construção de uma represa que irá armazenar 21 bilhões de litros de água, garantindo abastecimento por quatro meses sem chuva. Os estudos para esse projeto estavam programados para iniciar em 2020 e foram adiantados para 2016. O investimento no projeto básico é de R$ 480 mil.

Outra iniciativa da Companhia é a abertura de dez poços profundos que vão beneficiar moradores das cidades de Santa Teresa, Conceição da Barra, Ecoporanga, Mucurici, São Roque do Canaã, Serra, Vila Pavão, Muqui e Pinheiros. Alguns municípios, inclusive, estão sob racionamento de água. Os trabalhos devem ser concluídos em até seis meses.

Segundo levantamento da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), 19 municípios do Estado estão em situação extremamente crítica, ou seja, municípios integrantes da Resolução AGERH nº 38 em que as concessionárias de Abastecimento (SAAE/CESAN) afirmaram ter capacidade de manter o abastecimento humano por período inferior a 30 dias.

Alguns municípios que se encontravam na relação de extremamente críticos assinaram um Acordo de Cooperação Comunitária e foram automaticamente excluídos da relação, podendo voltar a realizar a captação de água mediante restrições pactuadas com a Agerh, com os comitês de bacias hidrográficas e com as concessionárias de abastecimento.

Os Acordos de Cooperação Comunitária, ou ACCs, reúnem um conjunto de ações e normas relacionadas aos usos da água, decididos coletivamente, e que garantirão as condições para o abastecimento humano, enquanto estiver vigorando o Cenário de Alerta. 

Municípios em situação extremamente crítica em relação ao abastecimento de água