Considerada uma das maiores tragédias do setor de petróleo e gás do Brasil, a explosão do navio-plataforma FPSO Cidade São Mateus, em Aracruz, no norte do Espírito Santo, completa dois anos neste sábado (11). O acidente com a embarcação de bandeira panamenha, operado pela norueguesa BW Offshore, terceirizada da Petrobras, deixou nove mortos e 26 feridos, em 11 de fevereiro de 2015.
Em maio do ano passado, o Ministério Público Federal no Espírito Santo (MPF/ES) denunciou à Justiça três pessoas por conta da tragédia. Os filipinos Ray Alcaren de Gracia, gerente da plataforma, e Bernard Vergara Vinãs, operador de marinha; e o russo Litvinov Vadim, superintendente de marinha, são acusados de homicídio doloso por nove vezes; uma lesão corporal grave; e por outras 24 lesões corporais. Com isso, eles podem pegar até 30 anos de prisão caso sejam condenados pela Justiça à pena máxima.
No entanto, o diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do Sindipetro-ES, Davidson Lomba, afirma que, até hoje, os responsáveis pela tragédia ainda não foram punidos e as famílias das vítimas não foram devidamente indenizadas.
“Na visão do sindicato, parece que nada aconteceu. Ninguém foi preso até agora e as famílias das vítimas estão desassistidas. Somente os familiares dos mortos receberam indenização. Os parentes dos feridos e das pessoas que não se machucaram fisicamente, mas passaram pelo trauma de presenciar a explosão, não receberam nada”, protestou..
Investigação
As investigações sobre a explosão do FPSO Cidade de São Mateus mostraram que a embarcação precisava passar por reparos em praticamente todos os seus tanques. Um deles, o 6C, deveria ser esvaziado e ter seu conteúdo – uma mistura de água e gás liquefeito – transferido para outro tanque. Essa operação foi executada por Vadim e Bernard e se deu normalmente até a véspera da explosão.
No entanto, segundo as apurações, como a taxa de escoamento estava bastante inferior à desejada, no dia 11 de fevereiro, Vadim passou a determinar diversas alterações operacionais não precedidas de análise de riscos, incompatíveis com o projeto operacional do navio e não comunicadas ao gerente da embarcação, Ray Gracia, que havia embarcado naquele dia.
O MPF/ES ressalta, ainda, que, após esse fato, Vadim continuou numa sucessão de atitudes arriscadas com objetivo de esvaziar rapidamente o tanque 6C, dando ordens a Bernard, mesmo este tendo questionado e alertado sobre o perigo de suas ações.
O superintendente de marinha, inclusive, valeu-se de sua sobreposição hierárquica e exigiu imediato uso de uma linha que não havia sido projetada para transferência de substâncias liquefeitas; determinou, ainda, o fechamento de uma válvula, mesmo sabendo que ela não havia sido alinhada ao sistema de gestão de mudança (MOC), a fim de que pudesse ser implementada sem riscos.