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Nova ferramenta do Facebook que mapeia emoções gera polêmica

O jornal australiano 'The Australian' publicou que as informações fazem parte de um relatório de 23 páginas e é assinado por David Fernandez e Andy Sinn, executivos da rede social

O Facebook encaminhou nota esclarecendo a publicação do jornal australiano  Foto: Thamiris Guidoni

O Facebook criou uma nova ferramenta para identificar o estado emocional de jovens que navegam por suas respectivas páginas, de acordo com informações do jornal australiano ‘The Australian’.

A ideia é vender propaganda com anúncios direcionados. Com base em classificações como ‘feliz’, ‘triste’ e até mesmo ‘estressado’ e ‘nervoso’, a empresa de Mark Zuckerberg traça o perfil com base nas fotos postadas e nas atualizações dos perfis dos usuários. A empresa possui um banco de dados de 6,4 milhões de jovens.

O  ‘The Australian’ publicou que as informações fazem parte de um relatório de 23 páginas e é assinado por David Fernandez e Andy Sinn, executivos da rede social. Esse relatório teria sido apresentado aos quatro principais bancos da Austrália com o objetivo de mostrar a habilidade da empresa de entender seus usuários jovens, sobretudo adolescentes.

Um dos trechos vazados pelo jornal da Austrália diz que “as emoções espontâneas têm mais chance de serem expressas no início da semana, enquanto emoções mais profundas ocorrem no fim de semana”. De acordo com esse relatório do Facebook, “de segunda-feira à quinta-feira, é sobre construir confiança. E o fim de semana é para divulgar suas realizações”.

Por meio de nota o Facebook disse que “não oferece ferramentas para entregar anúncios baseados no estado emocional das pessoas”. A análise realizada por um pesquisador australiano foi feita para que os anunciantes entendessem como as pessoas se expressam sobre si mesmas no Facebook e não para uso de anúncios, destacou a rede social. Disseram ainda que “além disso, a pesquisa foi feita a partir de dados anônimos e agregados. O Facebook possui um processo estabelecido para revisão de pesquisas feitas e esse estudo não seguiu esse procedimento, por isso, estamos revisando detalhes para corrigir o ocorrido”, pontuou.

Segundo Marcelo Najnudel, presidente da Fulllab, empresa de soluções para o comércio eletrônico, as grandes empresas de tecnologia do mundo investem pesado em inteligência artificial. “Mas este caso específico de identificação de humor baseado em fotos, se for preciso, me soa algo bastante sofisticado. Existe uma história que diz que um grande varejo americano é capaz de saber que uma mulher está prestes a ficar grávida pelo tipo de matérias e produtos que pesquisa. Isto acaba com aquele ditado da minha avó de que não existe quase grávida”, brincou.

Daniel da Hora, sócio da agência de propaganda DH,LO, afirma que a interpretação de  imagens por algoritmo já é algo bastante robusto. “Assim como com os textos, as imagens são interpretadas e geram insights a partir disso. Estes insights podem ter como objetivo um relatório ou gerar mais dados para uma ativação. Para a internet com base em desktops, sim, este é um caminho que não tem volta. Mas o maior tráfego no curto prazo será do celular. Neste caso, outros paradigmas como a geolocalização são a chave do sucesso”, destacou.

Segundo Bruno Dreux, sócio da agência Amo, não é fácil processar informações tão complexas e subjetivas como o sentimento das pessoas. “Fácil sem dúvida não é. Ainda mais no volume de dados que o Facebook processa por segundo. Porém, é possível identificar fotos e legendas, junto de emojis, e tirar alguns indicadores.”

Sobre a privacidade

A privacidade é um dos assuntos debatido pelos especialistas. Para Bruno Dreux, usar a vulnerabilidade dos jovens para oferecer anúncios é totalmente incorreto. Marcelo Najnudel, da Fulllab, lembrou que em alguns países há legislações rígidas a respeito da privacidade, protegendo o que chamam de Dados Pessoais identificáveis (PII, na sigla em inglês), como número de CPF, e-mail e telefone. “Mas dados como gênero, cidade em que reside e interesses de consumo não são considerados dados sensíveis por nenhuma legislação do mundo. A publicidade mundial, online ou offline, faz uso destes dados.”

Segundo Hora, marcas e anunciantes comprometidos com suas audiência levam muito a sério a questão da privacidade. “Não se pode deixar isso de lado, e as melhores práticas devem sempre permear este tipo de preocupação.”