O Espírito Santo registrou, desde o início de março, 74 mortes por síndrome respiratória aguda grave, 67 a mais do que o contabilizado no mesmo período do ano passado, quando ainda não se ouvia falar em coronavírus. O crescimento representa um salto de mais de 900%, segundo dados do portal da transparência criado pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil).
Especialistas acreditam que esse fenômeno é reflexo da subnotificação de mortes provocadas pela covid-19 no estado, já que parte desses óbitos pode ter sido registrada como decorrente de síndrome respiratória aguda grave.
“Nessa época do ano, a gente tem outras viroses respiratórias, como a gripe. Mas, sem dúvida nenhuma, a impressão é que você tem mais síndrome respiratória aguda grave pela covid. Toda vez que tem uma doença, há o risco de subnotificação. Isso acontece, é relatado e a gente tem que estar preparado para isso. Existem também muitos casos com poucos sintomas circulando, ou seja, os casos oligossintomáticos. Existe uma estimativa que, para cada caso notificado, devem ter 15 ou 20 que passam despercebidos. Uma estimativa, no momento, talvez mais precisa foi de alguma coisa em torno de 90 a 100 mil capixabas expostos [ao coronavírus]”, afirmou o infectologista Lauro Pinto.
Especialistas no assunto também acreditam que essa possível subnotificação se deve à baixa testagem e à demora na divulgação dos resultados dos exames de covid-19. “O teste em si mesmo, que é o PCR, é demorado, porque ele é biomolecular. Então, às vezes, também pela quantidade, você precisa fazer aquele exame e esperar um pouco mais para você ter o resultado”, destacou a pneumologista Cinéia Martina.
Um caso recente de morte por suspeita de covid-19, mas que foi registrada como sendo por insuficiência respiratória aguda grave e síndrome respiratória aguda grave foi a da dona Eliete Ribeiro dos Santos, mãe do apresentador da TV Vitória/Record TV, Eduardo Santos. Ela estava internada no hospital Santa Casa de Misericórdia, em Vitória, com suspeita da doença, mas não resistiu e morreu na tarde da última quarta-feira (6), aos 91 anos.
Abalados, familiares de dona Eliete disseram que conversaram com os profissionais de saúde que cuidaram dela e que a equipe suspeita que ela tenha sido vítima do novo coronavírus. No entanto, dona Eliete sequer chegou a ser testada e, portanto, não entrou para o balanço de mortes por coronavírus no Espírito Santo, que nesta segunda-feira chegou a 196.
“Vários agentes podem te dar uma síndrome de desconforto. Pode ser uma pneumonia, pode ser uma infecção urinária com septicemia, pode ser o H1N1. Mas agora, no presente momento, está sendo o coronavírus, porque ele é um agente extremamente violento, agressivo, e ele faz uma resposta rápida inflamatória do nosso organismo. Essa resposta rápida sai da região das vias aéreas superiores e começa a pegar parte do pulmão. Esse pulmão fica inchado, cheio de água, começa a fazer pedaços de sangue, como se fossem coágulos, e eles vão ficando dentro desse pulmão, impedindo sua capacidade de ir e voltar. E passa a ficar um pulmão duro, fibrótico, como se fosse uma pedra. E aí então é a hora que a gente precisa, urgentemente, de leitos e de ventilação mecânica”, explicou a pneumologista.
A produção da TV Vitória questionou à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) se as mortes por síndrome respiratória aguda grave com suspeita de covid-19 entram no balanço diário de óbitos provocados pela doença, mesmo que não imediatamente. Entretanto, até a noite desta segunda-feira, a demanda ainda não havia sido respondida.
Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV