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Secretário de Saúde diz que lockdown pode ser adotado nas próximas semanas no ES

Nésio Fernandes afirmou que o estado trabalha para que a medida não seja aplicada, mas depende da conscientização da população

Foto: Reprodução / Youtube

Na manhã desta sexta-feira (08), o secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, concedeu uma nova entrevista coletiva para falar sobre as ações do Estado com relação ao combate ao novo coronavírus. Um dos pontos destacados foi a possibilidade de o estado entrar em sistema de lockdown nas próximas semanas.

De acordo com o secretário, o estado trabalha para que essa medida não seja aplicada, mas enfatizou a importância da conscientização da população capixaba. “A decisão do lockdown pode ser uma decisão para as próximas semanas no Espírito Santo. Trabalhamos com todas as energias para que isso não ocorra. O que vai garantir que a gente não chegue ao lockdown é a cidadania e a consciência das pessoas, não os decretos do governador e nem da Assembleia Legislativa”, disse.

Ele ainda ressaltou que essa é uma medida extrema, que leva em conta uma série de fatores. “O lockdown é uma medida extrema que leva em consideração, principalmente, o esgotamento da capacidade dos serviços de saúde de suportarem o aumento do número de casos da covid-19 e de outras doenças”, disse.

Acompanhado do subsecretário em Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, o secretário iniciou a coletiva com alguns instantes de silêncio, dedicados aos capixabas que perderam a vida em decorrência da covid-19. Ele ainda leu um pequeno trecho bíblico, do livro de Eclesiastes, que diz que “mais vale uma casa em luto do que uma casa em festa, porque este é o fim de todo ser humano”.

Com o Dia das Mães se aproximando, Nésio Fernandes destacou que este é um momento em que o Espírito Santo e o Brasil vivem em luto. Por isso, não é esta a hora de sair, visitar os amigos e deixar o isolamento social, de acordo com as palavras do secretário. “O distanciamento social precisa ser reforçado neste momento”, afirmou.

Em seguida, o secretário falou sobre o Painel Covid, que dispõe as informações do novo coronavírus no Espírito Santo e que levou o estado a ocupar o primeiro lugar no ranking de transparência nas informações. “Optamos por ter a máxima transparência e transparência com qualidade”, afirmou o secretário.

Sobre a taxa de letalidade, que é a proporção de mortes com relação ao número de casos, ele ressaltou o fato de que esta taxa em alguns municípios é de 100%. “Isso porque alguns municípios possuem um diagnóstico e um óbito, por exemplo. Isso faz com que a letalidade desses municípios fique muito acima da média, inclusive do Espírito Santo”, disse o secretário, citando Ecoporanga, Iúna, Presidente Kennedy, Nova Venécia, Pinheiros, entre outros como exemplos.

Sobre o índice de testagem do Espírito Santo, o secretário afirmou que o estado capixaba realiza testes acima da média nacional, pois no Brasil, os testes são feitos nos pacientes graves, profissionais de segurança e da Saúde. No estado, outros grupos, como o de pessoas acima de 45 anos com comorbidades, também são testados. “No Espírito Santo, já tivemos mais de 24 mil notificações e 18 mil testes realizados”, citou.

Para agilizar ainda mais o processo de identificação dos casos, Nésio Fernandes informou que a partir da próxima semana, equipamentos serão instalados nos hospitais de referência para garantir que todo paciente grave seja testado no próprio local. Os demais pacientes continuam sendo encaminhados ao Lacen.

Em termos de comparação, o secretário ressaltou que, no dia 31 de março o Espírito Santo contava com 77 leitos disponíveis para pacientes com o coronavírus. No dia 30 de abril, este número, segundo ele, era de 549 leitos. Na quarta-feira desta semana, dia 6 de maio, já são mais de 750 leitos disponíveis. 

“Atualmente, temos uma taxa de ocupação hospitalar de 64% dos leitos de UTI e 36% dos leitos de enfermaria. Não temos problemas com o leito de enfermaria. O grande dilema para nosso estado é o leito de UTI. Temos uma expansão adequada de leitos com ventiladores”, disse o secretário, citando ainda que mais de 300 ventiladores adquiridos pelo Estado são aguardados.

Sobre a proposta de construção de um hospital de campanha no Espírito Santo, Nésio Fernandes afirmou que esta não é uma opção descartada. No entanto, ele ressaltou que, no momento, não é a prioridade. “Os hospitais de campanha são concebidos para serem hospitais de média e baixa complexabilidade. O desenho destes hospitais é um leito de enfermaria, não de UTI. Os estados que optaram por este modelo, tiveram que construir também leitos de UTI dentro deles”, disse.

Com base nos números de leitos já criados pelo estado para que os pacientes da covid-19 sejam atendidos, o secretário diz que “na prática, nós disponibilizamos quatro ou cinco hospitais de campanha dentro dos hospitais que já são maduros nesse tipo de tratamento. Esse é o motivo que leva o Espírito Santo a ser um estado de baixa letalidade. A opção pelo Hospital de Campanha não está descartada, pode ser acionada no futuro”.

Em seguida, o subsecretário em Vigilância em Saúde Luiz Carlos Reblin fez uma projeção para os próximos dias, com base no número médio de casos que estão sendo registrados. “Ao final da próxima semana, considerando o numero médio, vamos chegar próximos aos 250 óbitos”, alertou.

Em seguida, o secretário Nésio Fernandes comentou sobre alguns pontos questionados:

Colapso na Saúde do Espírito Santo

Tenho uma convicção de que o final é sempre melhor que o início. Creio que os estudos e as estatísticas vão mostrar que os estados que tomaram as medidas precoces de distanciamento social conseguiram reduzir a quantidade de óbitos e casos que existiriam nestes estados. Estes estados também se anteciparam e garantiram a expansão rápida de leitos hospitalares. No Espírito Santo, conseguimos aumentar muito nossa quantidade de leitos disponíveis para atender os pacientes de covid-19. Nossa rede não colapsou porque entendemos, no momento oportuno, que era necessário se preparar e nós nos preparamos. Por ter tido essa coesão, pesquisas apontam que 65% apoiam nossas medidas. Isso quer dizer que temos um alto grau de convergência social no nosso estado. Esse fenômeno é o que nos protegeu. No entanto, não somos uma ilha. Se o país colapsar, nós também podemos colapsar.

Pacientes de outros estados

Nós já recebemos pacientes de outros estados em nosso serviço de Saúde ao ponto de que um número importante são administrados aqui. Já diagnosticamos 146 pacientes de outros estados da federação em solo capixaba. É possível que ocorra, individualmente, essa migração de casos. Gera um fenômeno que já existia no estado. Os hospitais das regiões Sul, da Central e da região Norte recebem, com mais frequência, os pacientes de outros estados, assim como os hospitais da Grande Vitória. Já é parte do nosso cotidiano essa migração. É inevitável que na pandemia isso não ocorra também. Na medida que os outros estados colapsem, isso pode ser intensificado.

Lockdown no Espírito Santo

O lockdown é uma medida extrema que leva em consideração, principalmente, o esgotamento da capacidade dos serviços de saúde de suportarem o aumento do número de casos da covid-19 e de outras doenças. As pessoas podem morrer, como tem acontecido em outros estados, não pelo covid, mas porque ela vai para um hospital de trauma e os leitos estão ocupados por pacientes da covid. O paciente com suspeita chega e desorganiza o serviço. O aumento no número de óbitos da covid é um indicador importante para essa decisão. A decisão do lockdown pode ser uma decisão para as próximas semanas no Espírito Santo. Trabalhamos com todas as energias para que isso não ocorra. O que vai garantir que a gente não chegue ao lockdown é a cidadania e a consciência das pessoas, não os decretos do governador e nem da Assembleia Legislativa.

Ao concluir a coletiva, o secretário voltou ao assunto inicial e desejou um feliz Dia das Mães, reforçando a importância do distanciamento social. “Distanciamento, neste final de semana, é um gesto de amor. Não é o momento de fazer festa. É o momento de distanciar. Que possamos viver um final de semana feliz e diferente, para que futuramente possamos voltar a nos abraçar e ficar juntos, todos vivos e sem perder nossos entes queridos”, disse.

Acompanhe a coletiva completa: