Após conquistar mais de 270 delegados do Colégio Eleitoral na eleição dos EUA, o candidato Joe Biden é considerado o novo presidente dos Estados Unidos a partir de 20 de janeiro de 2021. O fim do mandato de Donald Trump e do governo republicano traz a tona uma série de mudanças para a política externa do país e pode ter consequências para o Brasil.
De acordo com o professor do curso de Relações Internacionais da ESPM, Roberto Uebel, o governo democrata deve ser um pensamento semelhante ao governo de Barack Obama. “O governo Biden deve ser uma ruptura com as políticas externas de Trump. Deve ocorrer uma mudança de posicionamento dos EUA diante do mundo”, explicou.
Outra visão que diz respeito ao novo presidente é sobre a maior presença norte-americana em assuntos de agenda global e uma maior aproximação de organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).
O professor especializado em Relações Internacionais do Insper, Leandro Consentino afirma que neste novo governo pode haver a ascensão do multilateralismo. “Com Biden no poder, nós devemos assistir a uma volta ao multilateralismo, que é uma tradição do partido Democrata e vai contra a bandeira nacionalista de Trump do ‘America first’”, contou.
Questões ambientais
Como Joe Biden já havia demonstrado durante sua campanha eleitoral, um dos propósitos do seu governo seria abordas as questões ambientais. Nesta semana, os Estados Unidos concluíram a saída do Acordo de Paris, que foi assinado por quase 200 países. O motivo da retirada foi o fato do governo acreditar que o acordo fosse acarretar em consequências negativas para a economia e para os trabalhadores norte-americanos.
“Joe Biden já se posicionou, antes mesmo do resultado, que o país retornará ao Acordo de Paris. Isso é um indicativo que é uma das preocupações do seu governo. O Brasil foi inclusive citado no debate presidencial por conta da questão da Amazônia e do Pantanal neste ano”, explicou o professor Uebel.
O docente do Insper disse que o novo governo, mais próximo das pautas ambientais, pode trazer vantagens para o Brasil. “O fato de ser uma administração que focará na questão ambiental e mais aberto a ter relações com outros países ajuda o Brasil a se posicionar de uma maneira mais tranquila dentro do cenário internacional, o que é uma ótima oportunidade”, argumentou.
Brasil
No Brasil, o governo de Jair Bolsonaro é, de certa forma, próximo ao governo de Donald Trump nos EUA. Ambos os presidentes acreditam ter uma amizade e compactuam com uma série de posicionamentos em alguns temas relacionados à política internacional.
“O Biden é um estrategista de política externa, inclusive exercia esse papel quando era o vice de Barack Obama. Não acredito que mude a relação entre o Brasil e os EUA se os presidentes não forem tão próximos. Não deve acontecer um distanciamento porque é mais uma questão estratégica do que passional”, disse o professor Consentino.
O governo de Joe Biden não deve prejudicar a boa relação com o Brasil, mas pode aumentar o isolamento do país.
“Com a eleição do Biden, o Brasil pode ficar mais isolado. O país perde esse grande apoio do presidente Trump e pode ficar sozinho no continente americano e afastado nas pautas internacionais”, explicou o professor da ESPM.
Uebel afirmou que a mudança na Casa Branca pode fazer o Brasil repensar a política externa para ser mais “pragmático”.
“Eu vejo a necessidade de o Brasil enxergar a realidade do mundo. Evitar conflitos com a China, que é o principal parceiro econômico do país. Um governo Biden pode forçar o Brasil a se reaproximar dos países do Mercosul, principalmente da Argentina, e também da União Europeia”, afirmou.
China
Outra provável alteração na política externa dos EUA é a reaproximação do país com a China. Desde a campanha em 2016 até o seu mandato, a postura de Donald Trump sempre apresentava resistência quanto ao território chinês.
As chances de uma reaproximação não aponta uma amizade entre EUA e China, mas uma maior flexibilização na política e no comercio entre os dois países. O professor de relações internacionais aponta que tal mudança também deve impactar o Brasil, que tem a China como principal cliente no setor de exportação de grãos.
“Biden deve tentar reerguer a economia norte-americana em bases sustentáveis. O partido democrata costuma ter uma atenção maior para as pautas ambientais. É também uma questão estratégica na disputa comercial com a China ao mostrar que é possível ter uma economia forte e preocupada com o meio ambiente”, explicou o professor Consentino.
* Com informações do Portal R7