Geral

"O trem não sai da linha, nós que ultrapassamos no momento desnecessário", afirma morador de Cariacica

Seu Floriano, como gosta de ser chamado, trabalhou na manutenção da linha férrea da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). Vizinho da linha férrea há 65 anos, o aposentado relembrou histórias

Foto: Divulgação

Dizem por aí que a maior estação do mundo é a boca do mineiro, porque é de lá que sai a maioria dos trens que circulam pelas vias férreas do país. De fato, as ferrovias estão tão arraigadas na cultura do estado vizinho que, mesmo depois de ter quase desaparecido, o transporte ferroviário de passageiros está presente no cotidiano daqueles que habitam o território de Minas Gerais.

Mas se engana quem pensa que a cultura do ‘trem’ está enraizada apenas por lá. Aqui no Espírito Santo, não é raro encontrar capixabas com as mais diversas histórias, seja por morar próxima a linha férrea ou até mesmo quando esta foi a principal fonte de renda da família. 

Essa é parte da história de Floriano Alves Filho, de 70 anos. Hoje aposentado, seu Floriano, como gosta de ser chamado, trabalhou na manutenção da linha férrea da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) por cerca de 17 anos. 

“Eu vivi, literalmente, dentro da linha. Trabalhava renovando os trilhos, cuidando das linhas. Sabia dos riscos, mas sempre fui prudente. Já tive chefe que morreu por imprudência dele mesmo, por descuido ao atravessar a linha”, relata o aposentado. 

Morador do bairro Porto de Santana, em Cariacica há 65 anos, seu Floriano se recorda que a linha férrea sempre foi presente na vida dele. “Minha relação com trem era bem assídua: passava pela linha para ir a escola, voltar pra casa, ir na rua comprar as coisas, enfim, atravessa a linha constantemente. Até mesmo para brincar, ir para Itacibá, Alto Lage. O risco era constante, mas meus amigos e eu sempre fomos precavidos”, recorda. 

O único incômodo que o trânsito de vagões causava era um sinal sonoro durante a madrugada. “Quando a gente ouvia a buzina, a gente nem adiantava, nem passava. Tinha o sinal de alerta, ficávamos distante da linha, pra evitar que alguma pedra também pudesse voar e nos atingir. Mas a buzina de madrugada perturbava muito, muito mesmo. Principalmente porque tinha enfermo, acamado, pessoas idosas. Era uma barulheira danada. Mas agora parou essa agonia na parte da madrugada, melhorou bastante”.

Outro fator positivo que seu Floriano faz questão de ressaltar é a melhoria da segurança ferroviária ao longo da linha férrea. “As barreiras melhoraram a segurança, os acidentes diminuíram uns 70%. Já aconteceu de carro tentar atravessar a linha tentando passar com pressa, não respeitar a cancela. O trem não é um freio automático, o trilho é de ferro, ele vem. A pessoa precisa respeitar o sinal de alerta e as cancelas” aponta.

História da EFVM

Foto: Divulgação

A Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) completou 115 anos de história em maio deste ano. Única ligação diária de trem entre duas capitais do país – Belo Horizonte (MG) e Vitória (ES) -, pela ferrovia passam anualmente mais de 1 milhão de passageiros, em um trem modernizado para gerar mais conforto e segurança a cada ano.

Entre a mina e o mar, 70 locomotivas circulam diariamente por seus 905 quilômetros de extensão, muitas delas com mais de 150 vagões. Pelos seus trilhos, são transportadas mais de 119 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, além de aproximadamente 40% de toda carga ferroviária do país. Nos vagões, vão também produtos como aço, soja, carvão e calcário.

A rica história da EFVM começou em 13 de maio de 1904, com a inauguração do primeiro trecho e, desde então, a ferrovia trouxe grande desenvolvimento para as comunidades e para a mineração brasileira. Em 2014, atingimos muitas conquistas. Entre os destaques está o novo trem de passageiros, mais moderno, seguro e confortável. 

EFVM em números

> 905 quilômetros de extensão que ligam Belo Horizonte (MG) a Vitória (ES);

> 2.141,68 quilômetros de linha total;

> 119 milhões de toneladas de minério de ferro movimentadas;

> 22 milhões de toneladas de produtos diversos transportados.

> Frota de 322 locomotivas e 19.154 vagões;

> 32 viadutos e 137 elevados e pontes;

> 44 túneis e 58 passarelas.

Números do trem de passageiros

> Cerca de 1 milhão de pessoas utilizam anualmente o trem de passageiros;

> São 30 pontos de embarque e desembarque;

> 42 municípios atendidos;

> Único trem diário de longa distância do Brasil.