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Quem depende de remédios para fazer algum tratamento contínuo no Espírito Santo tem encontrado dificuldade em conseguir os medicamentos de forma gratuita, pela Farmácia Cidadã. Com isso, o jeito é desembolsar um valor, muitas vezes salgado, para conseguir a medicação em uma farmácia comum.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), dos 260 medicamentos disponibilizados nas farmácias de todo o Espírito Santo, atualmente 12 estão em falta. Cinco deles são de responsabilidade do governo do Estado fazer o fornecimento, e os outros sete, do Ministério da Saúde.
Segundo a Sesa, o maior problema enfrentado pelo Estado para fornecer os remédios de sua responsabilidade está relacionado aos “processos de compras fracassados e desertos, por conta de problema de mercado”. A Sesa garante, no entanto, que medidas estão sendo adotadas para solucionar o problema.
“É importante frisar que as compras dos medicamentos são programadas para que não haja desabastecimento na rede. No entanto, esclarece que algumas faltas estão relacionadas também a outros fatores externos como problemas de atraso nas entregas ou medicamentos que são de responsabilidade do Ministério da Saúde. Lembrando também que devido a pandemia, o mercado de medicamentos sofreu reflexos com a suspensão de fabricação ou falta de insumos”, disse a Sesa, em nota.
A produção da TV Vitória/Record TV solicitou à Secretaria da Saúde que identifique os nomes dos medicamentos em falta, tanto os de responsabilidade do Estado, quanto os do governo federal. No entanto, até o momento, não houve retorno para esse questionamento.
Dificuldade para achar remédios
Quem tem enfrentado dificuldade para conseguir remédios gratuitos pela Farmácia Cidadã é o aposentado Agnaldo Santos, de 65 anos. Ele conta que há seis anos sofre de polineuropatia, um distúrbio que afeta diversos nervos do corpo. Por causa da doença, ele sente dores e perde o controle dos membros.
“Se eu paro de tomar [o remédio], eu perco o controle das pernas, não consigo mais dominar minhas pernas. Dá dor nos braços e em todo o meu corpo”, relata.
Agnaldo faz uso contínuo do medicamento Gabapentina. Para controlar a doença, ele precisa de dois comprimidos por dia.
No entanto, segundo ele, o remédio está em falta na Farmácia Cidadã de Vila Velha. Por causa disso, o aposentado está tendo que comprar o medicamento em farmácias convencionais, o que tem pesado no orçamento doméstico.
“Tem 45 dias que está faltando na Farmácia Cidadã. Liguei para a ouvidoria e eles me disseram para ligar para lá amanhã ainda”, lamentou.
Outro que tem sofrido com a falta de remédios é o aposentado Renato Ferreira, que espera por um transplante de rim há quatro anos. Enquanto esse momento não chega, ele precisa tomar vários remédios por dia.
Cinco deles, Renato deveria buscar também na farmácia central de Alto Lage, em Cariacica. São eles: Clonazepam, Anlodipino, Losartana, Furosemida e Noex.
“Quando você chega lá para pedir um remédio e você ouve um ‘não tem’, você fica mais triste, porque não são só os cinco remédios que a farmácia dá que a gente não consegue pegar. Tem outros remédios que eu pego no CRE Metropolitano, tem alguns que o governo não fornece e eu tenho que comprar. Então quando junta tudo isso aí dá na faixa de oito remédios. Isso aí gera um custo de R$ 300 a R$ 400 por mês para mim”, afirmou.
Sobre a reclamação de Renato, a Secretaria Municipal de Saúde de Cariacica (Semus) informou que apenas o Noex (budesonida 50 mcg) não está disponível na farmácia central e nem no almoxarifado. Isso ocorre, segundo a prefeitura, por causa de falta de matéria-prima e atraso na produção.
“A Semus está tomando as medidas administrativas e será aberto um novo processo de compra”, informou a administração municipal, em nota.
A prefeitura garantiu que os medicamentos Clonazepan, Anlodipino, Losartana e Furosemida não estão em falta nem no almoxarifado e nem na farmácia central. No entanto, apesar de o município dizer que tem esses remédios em estoque, Renato afirma que tem voltado da farmácia central sem os medicamentos e que precisa comprar para continuar o tratamento.
“A parte da Hucam, que é a médica que cuida da gente, que faz a diálise da gente, nós temos um super tratamento, não falta material. Mas os remédios a gente está meio que abandonado”, lamentou.
A produção da TV Vitória também procurou o Ministério da Saúde para falar sobre a falta de medicamentos, mas até o momento não houve retorno.
Com informações do repórter Rodrigo Schereder, da TV Vitória/Record TV