
Diante de um planeta que sente a exploração descontrolada dos recursos naturais, a diretora-presidente do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), Sueli Tonini, aposta na eficiência do Prêmio Ecologia para propagar ações necessárias à proteção do meio ambiente.
Na visão da Tonini, grande parte dos recursos naturais ainda são explorados de forma equivocada e trazem prejuízos para a população. “A raça humana é que corre risco por causa da forma errada de utilização dos recursos naturais”.
Em entrevista ao jornal online Folha Vitória, Sueli Tonini explica como a educação ambiental pode contribuir para o desenvolvimento sustentável.
Confira:
Folha Vitória – Qual a importância da educação ambiental e do Prêmio Ecologia?
Sueli Tonini – A educação ambiental é a principal ferramenta para mudança de atitude. É necessário se discutir o desenvolvimento ambiental. Precisamos pensar diferente. Pensar na nossa forma de produzir. Produzimos hoje sem atenção aos limites dos recursos naturais e isto tem que ser revisto.
FV – E como essa mudança deve ser feita?
ST – A forma como consumimos e como produzimos deve ser repensada. Os currículos nas escolas devem ser olhados com atenção. É preciso uma mudança de atitude do pai de família. No Caparaó, fizemos apresentação de diversos projetos, como o do tratamento do esgoto sanitário em propriedade rural.
FV – A mentalidade está mudando?
ST – Aos poucos os proprietários rurais se dedicam a empreender. Vemos a situação na Grande Vitória. Tivemos um programa instalado, mas os moradores deixam de coletar e tratar. Ainda não fizeram a ligação das redes de esgoto, por exemplo.
FV – Como mudar essa postura?
ST – É com eventos e iniciativas nas escolas. O tempo está cada vez menor para mudar o rumo. É preciso conservar a água, o solo, usar o alimento de forma racional. Não tem como produzir alimento com o solo fértil indo embora.
FV – E como conscientizar as pessoas no interior? É mais complicado?
ST – É preciso olhar para as propriedades rurais. É preciso realizar uma mudança na forma de fazer. Na região Caparaó, estamos falando que o melhor lugar para guardar agua é no solo. O solo libera a água aos poucos.
FV – O Prêmio Ecologia é um instrumento importante nesse trabalho?
ST – O Prêmio Ecologia busca estimular cada vez mais iniciativas junto à escola, à comunidade. É preciso fazer diferente para que tenhamos chance de sobreviver no planeta. A raça humana é que corre risco por causa da forma errada de utilização dos recursos naturais.
FV – E quanto à biodiversidade? As pessoas estão preocupadas com a preservação?
ST – É pouco pouco reconhecida a biodiversidade. Quando vamos na farmácia e vemos a essência de algo que cura doença, não há uma atenção específica à biodiversidade. Quando se perde floresta, perde-se biodiversidade.
FV – As chuvas extemporâneas ajudaram os mananciais capixabas?
ST – Estão ajudando, trazem equilíbrio e estão nos surpreendendo. Estamos entrando em ciclo novo. Em 2014 quando nos apontavam para período de chuva, tivemos seca. Os cientistas têm nos trazido esse alerta de que as coisas estão mudando. É preciso fazer o alerta relativo às nossas ações. Jogamos coisas fora, somos perdulários. Três planetas não dariam conta para fazer frente a esse desperdício. Estamos acostumamos a ligar ar condicionado sem pensar nos gases de efeito estufa. É preciso prestar atenção à ocupação do solo, é difícil parar radicalmente, mas é necessário fazer uma reflexão, começar a observar e pensar no reaproveitamento, reutilização e reuso das águas.
FV – Os parques estaduais estão com visitação limitada nos finais de semana. O que houve? O acesso a esses locais não seria também uma forma de conscientização?
ST – Conversamos com o pessoal da Secretaria de Turismo para manter o uso público. Os parques são unidades de conservação e é preciso cuidado. Nossos técnicos estão realizando estudos para conservação, e essa atividade concorre com a recepção. A ideia é de estimular a iniciativa privada a explorar. Para isso, será preciso organizar licitação ou concessão de uso público, da mesma forma como são feitas em outras unidades no Brasil e no mundo. Para que a recepção nos finais de semana e feriados não sobrecarregasse os técnicos, foi preciso interromper as atividades. Precisamos desses técnicos para monitorar a capacidade dos parques.