Rio – O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), minimizou, nesta quarta-feira, 3, a conclusão precipitada das investigações do assassinato do médico Jaime Gold, esfaqueado na Lagoa Rodrigo de Freitas em 19 de maio. Até a terça-feira, 2, desconhecido da polícia, um adolescente de 17 anos confessou participação, inocentou o menor, de 16, que já fora apontado como assassino e confirmou o envolvimento de outro, de 15. O trio está detido por ordem judicial.
“Nenhum dos três é inocente. Todos os três vivem em função de assaltos. Agora, quem matou, isso vai surgir no decorrer das acareações e das investigações. Pelo menos dois deles estavam no caso do médico”, afirmou Pezão, que admitiu a possibilidade de ter havido erro policial na apuração do caso. Para o governador, “pode ter havido engano”.
“As falhas, a gente tem de corrigir, é inadmissível ter erros, principalmente quando uma pessoa é acusada de um crime que não cometeu. Mas (ele) assaltou outros, esfaqueou outros”, disse Pezão. Com o surgimento do terceiro adolescente, a Delegacia de Homicídios busca mais imagens de câmeras de segurança e tenta achar o motorista do ônibus que teria levado os assassinos até a zona sul.
Imagens
Testemunha única do crime, um frentista cujo nome é mantido em segredo, contou em depoimento só ter visto dois jovens, em uma bicicleta, atacando o médico. As imagens até agora coletadas mostram a ação da dupla de bicicleta, mas, pouco nítidas, não permitem a identificação dos suspeitos.
Um deles seria negro. O outro, pardo, relatou a testemunha ao jornal O Estado de S. Paulo um dia após ter reconhecido um dos jovens para agentes da Delegacia de Homicídios. A mesma versão foi apresentada aos policiais. Os dois adolescentes apreendidos inicialmente são negros. O terceiro suspeito é pardo.
O frentista afirmou à reportagem que se sentiu “indeciso” ao reconhecer o primeiro suspeito no álbum de fotos apresentado por policiais. “Eles me mostraram inúmeras (fotos), mas como são vários, e são muito parecidos, eu fiquei até assim, meio indeciso em dizer quem era quem. O fato aconteceu muito rápido, muito rápido mesmo.” Depois de apreendido, o garoto de 16 anos, também por foto, foi identificado pelo frentista.
Anteontem, em depoimento, o menor de 17 anos disse que não havia sido ele, mas o segundo adolescente, de 15, quem esfaqueou o médico. Denunciado pelo Ministério Público por ato infracional análogo a latrocínio, o suspeito também inocentou o adolescente detido primeiro pela polícia, mas contou que os três se conheciam. O advogado Alberto Oliveira Júnior disse que pedirá à Justiça a libertação do menor de 16 anos.
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos criadores do Movimento Humanos Direitos, o padre Ricardo Rezende criticou o governador. “Quando se trata de pobre, a inocência é desrespeitada. O senso comum diz que bandido bom é bandido morto, mas é inaceitável que governantes repitam um discurso parecido com este.”