Dirigentes, médicos e autoridades estão em alerta para a chegada da fase de pico da pandemia de coronavírus, e a maior preocupação, são os cuidados com uma das parcelas mais vulneráveis à doença: a dos idosos recolhidos em abrigo e casas de repouso, que no Brasil somam cerca de 110 mil idosos.
Registros de contaminação em unidades do país são preocupantes. A ideia é fazer um esforço conjunto para evitar que a situação nesses abrigos se torne grave como na Itália e nos Estados Unidos.
A diferença de estrutura e recursos existente entre essas casas, é dificultada para a uniformidade no combate à pandemia, pois 70% delas são públicas, mistas (bancadas com dinheiro público e complementos privados) ou sustentadas com colaborações.
Apenas três em cada dez (30%) são completamente privadas, financiadas com mensalidades pagas pelas famílias, muitas delas acima dos R$ 5 mil mensais. Essa fatia “de elite” sofre menos os efeitos da falta ou atraso de verbas. Como era de se esperar, enfrentam menor dificuldade para aplicar os procedimentos de combate e já começam a colher melhores resultados do que a média.
O patologista e pesquisador Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, afirma que os abrigos possuem a estrutura de casas com diferentes padrões, o que, no caso dos particulares, influencia diretamente no preço cobrado: “Os idosos se reúnem frequentemente, fazem refeições juntos, ficam perto uns dos outros por muito tempo por conta das terapias de convivência. Mesmo com a proibição de visita, se havia gente contaminada antes, o cenário para a disseminação continua montado.
O patologista acredita que o distanciamento de proteção de dois metros, definido no início da pandemia, não pode mais ser considerado seguro em casas de repouso: “Um espirro ou tossida forte pode deixar no ar partículas submicrométricas, com tamanho abaixo de um milésimo de milímetro e alto poder de contágio. Elas flutuam e ficam às vezes horas no ar, dependendo das condições de ventilação, umidade e temperatura. Podem contaminar alguém que entra num cômodo tempo depois da saída de quem as deixou por lá”. Saldiva desconfia que a maior parte dos casos iniciais de contaminação em níveis preocupantes se estabeleceram dessa forma.
Indícios levam a crer que o vírus foi levado a essas casas de repouso por parentes, antes da suspensão de visitas, e por funcionários. “Grande parte dessas casas abriga de dois a quatro idosos por quarto. Algumas até cinco ou mais, o que foge do padrão autorizado. Como o vírus tem um período relativamente longo de incubação – dez, até 12 dias -, os assintomáticos contaminam outros sem saber que estão infectados”, explica.
Como forma de prevenir que a doença se propague nessas casas, foi promovido em alguns locais o isolamento inverso, ou seja, a remoção dos idosos que testaram negativo, para um hotel. “Com tantos contaminados, surgiu a obrigação adicional de preservar quem não possui o vírus no organismo”, detalha o patologista.
*Com informações do Portal R7