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Policial, enfermeira e motorista: conheça a rotina de mães capixabas que trabalham por escala

Além de se dedicarem aos filhos, as mães precisam ter jogo de cintura para dividir o tempo com outras atividades. Conheça a história de três mães capixabas!

Aline Carvalho e Elizangêla do Nascimento Foto: Reprodução

Uma rotina dupla, cansativa e que exige muita dedicação e coragem para vencer os obstáculos, preconceitos e seguir em frente, sempre. Ser mãe está longe de ser uma tarefa fácil, mas o amor inexplicável pelos filhos é o maior combustível para continuar na estrada.

Além de se dedicarem aos filhos, as mães precisam ter jogo de cintura para dividir o tempo com outras atividades. Administrar esse tempo fica ainda mais complicado quando elas precisam trabalhar por escala e as únicas horas vagas são apenas à noite, ou de madrugada.

 A enfermeira Aline Carvalho, que atua no São Bernardo Apart Hospital, em Colatina, muitas vezes abre mão do descanso e das horas de  sono para dar atenção à filha, que tem 1 ano e 10 meses. 

 “Trabalhar por escala não é fácil para quem é mãe porque a gente perde muita coisa importante na vida dos filhos, seja um momento especial ou pequenas comemorações. Isso me deixa um pouco triste, mas dentro do trabalho o tempo que fico longe dela parece passar mais rápido porque gosto do que faço. Percebo que ela sente falta e chora, mas tem dias que ela aceita. Quando trabalho um fim de semana inteiro, no dia seguinte ela está mais carente. Tem dias que só tenho a parte da manhã para ficar com ela, e é o tempo que tenho para dormir e descansar, mas não faço nada disso porque não consigo deixar minha filha sem atenção”.

Aline explica como foi o processo de adaptação e readequação da rotina. “No início foi um pouco difícil porque tinha ficado vários meses com ela, sem sair para nada, e aí comecei a ficar um tempo maior sem ela para trabalhar. A gente fica um pouco insegura e pensa ‘será que está bem? Comeu direito? Dormiu na hora certa?’, e a vontade é de sair correndo para ver se está tudo bem. Mas quando chego em casa, vejo que ela está bem e fico mais tranquila. A minha sorte foi que encontrei uma babá que gosta muito dela. Além disso, gosto muito de ser enfermeira, e a experiência que tenho aqui posso levar para casa e ajudar nos cuidados da minha filha. Tiro dúvidas com médicos e aprendo muito. Meu trabalho não me atrapalha, ainda consigo passar as manhãs com ela no meio de semana”, diz.

Para Aline, a maternidade não foi algo planejado, principalmente por conta da rotina da profissão, mas o nascimento da filha transformou a vida de toda a família.

“Não foi uma coisa que eu planejava por conta do meu trabalho, mas foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida e em meu casamento. Minha vida ficou mais completa com o nascimento da minha filha. Ela é carinhosa, uniu as famílias e os avós têm um amor enorme por ela. Acho que ela veio na hora certa, mesmo sem planejamento”, conta a enfermeira.

 A policial militar Elizângela do Nascimento, que vai passar o Dia das Mães pela primeira vez longe da filha, afirma que, apesar de cansativa, a rotina da mãe e felicidade da criança são as maiores recompensas.

 “Tem hora que estou um caco e é cansativo, sabe? A rotina de mãe e trabalhar fora é cansativa. Muitas vezes chego do serviço e ela quer ficar brincando. Um vez cheguei às 22 horas, e ela quis brincar comigo, fui dormir quase uma hora da manhã. Tem que ter muita dedicação porque aquela a criança quer ficar pertinho de você. Mas é gratificante. Minha filha significa tudo para mim, tudo de bom que você possa imaginar. Ser mãe é uma coisa que impulsiona a gente para continuar lutando e para ser uma pessoa melhor. Repenso minhas atitudes porque sei que existe uma pessoa que é super dependente de mim. É muito bom ser mãe”, reflete.

Sobre a rotina de escala, principalmente a questão de trabalhar à noite, Elizângela conta que agora a filha está acostumada e entende a profissão da mãe. “Hoje ela está mais acostumada com minha rotina porque tem uma tia de consideração que fica com ela quando estou escalada à noite. Quando comecei a trabalhar nessa escala, ela já estava com 2 anos. No início ela sentiu um pouco, mas eu esperava ela dormir e depois saía para o serviço. Quando ela acordava, eu já estava lá com ela. Sempre conversei muito com minha filha e explicava que precisava trabalhar para pagar as contas, os presentes. Ela entendia e ainda entende. Tem dias, claro, que é mais difícil porque ela está mais carente e precisa de atenção. Minha escala é boa porque nos dias de folga fico só com ela. Embora não seja fácil, essa questão de trabalhar à noite compensa com a folga”, explica.

 Quem também sempre compreendeu desde criança a profissão da mãe, são os filhos da motorista de ônibus Marilza Nunes. Ela, que dirige um dos veículos do sistema Mão na Roda, conta que deixava os pequenos no berçário ou creche para conseguir trabalhar. 

 “Olha, é preciso muito jogo de cintura para trabalhar e cuidar das crianças. Agora meus filhos tem 24 e 21 anos e me dão muito orgulho.  Mas antigamente, trabalhava de segunda à sábado e só folgava no domingo. Primeiro, entrei como cobradora, que também trabalha por escala. Não foi muito difícil porque meu marido sempre me ajudou muito e meus filhos entendiam bastante. Quando comecei a trabalhar no Transcol, os meninos já eram maiores e conseguiam se virar sozinhos. Nunca cobraram de mim e sempre conversei e expliquei que tinha que trabalhar para eles estudarem. Agora, minha filha faz faculdade e meu filho também vai virar motorista de ônibus”, conta.