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Problema antigo: moradores reclamam da sujeira deixada pelo pó preto

Além do incômodo estético nas casas e apartamentos da Grande Vitória, o acúmulo destas partículas pode trazer graves prejuízos para o organismo

Foto: Reprodução / TV Vitória

O problema é antigo e, além do incômodo pela sujeira, o famoso pó preto, um velho conhecido dos moradores da Grande Vitória, também pode ser prejudicial à saúde. Mesmo com uma série de estudos e investimentos para amenizar a emissão de poluentes, os moradores continuam sentindo o problema na pele ano após ano.

Mesas de vidro, esquadrias de alumínio e telas de proteção em janelas são alguns dos locais em que a sujeira está mais marcada. Com este agravante, a rotina de limpeza ganha um empecilho a mais, pois mesmo com luvas, panos e produtos de limpeza, no final do dia, o pó prevalece.

“Limpo todos os dias e toda vez é assim, quando lava a roupa, e coloca no varal, eu pego,  balanço, e sai aquele brilho de pó de minério”, disse o zelador Sérgio Viana, que trabalha em um condomínio do bairro Jardim Camburi, em Vitória.

Prejuízos para a saúde

De acordo com dados do Instituto Internacional de Asma, a Grande Vitória registrou 30% mais casos da doença do que a média nacional no ano de 2019. No mesmo ano, a Secretaria Estadual da Saúde registrou quase 5 mil internações de crianças por doenças como asma, bronquite, sinusite e alergias respiratórias.

A pneumologista Jéssica Polese conta que o problema pode ser ainda mais grave dependendo do tamanho das partículas.

“As partículas podem se depositar a nível mais externo causando rinites, sinusites, traqueobronquites. Quanto a nível cada vez mais interno, as partículas menores podem causar crises de asmas, broncoespasmo, fibrose, piorando os pacientes que já têm algum problema respiratório. Quanto às partículas bem pequenininhas, elas podem penetrar na corrente sanguínea desencadeando hipertensão, problema cardiovascular e a aterosclerose”, explicou.

A polêmica sobre as causas da poluição do ar na Grande Vitória é antiga. Vários estudos já mediram a poluição e apontaram a responsabilidade. Desde trânsito, construção civil e salinidade das marés, até atividade industrial da mineradora Vale e da siderúrgica Arcelor Mittal. 

Em 2015, uma CPI na Assembleia Legislativa fez uma série de recomendações às empresas. Mas o problema, segundo o ambientalista Carlos Eduardo Tadokoro, é que as medidas implantadas não surtiram efeito. Ele recomenda que os pátios de estocagem de minério sejam cobertos.

“A gente tem, inclusive, a emissão dos escapamentos dos carros, dos automóveis e as pessoas se esquecem de lembrar. Temos também o pó de construções que são feitas na Grande Vitória, o asfalto onde os carros circulam, a borracha dos pneus, tudo isso pode contribuir para a formação desse material particulado, além das próprias fontes naturais, a poeira que existe da terra que acaba formando este material”, explicou o ambientalista.

A mineradora Vale afirma que reduziu a poluição das chaminés em 55%, e cobriu esteiras, além de 2 das 8 áreas de armazenagem. No total, a previsão é investir R$ 1 bilhão e 300 milhões de reais, reduzindo em 93% a emissão de partículas na atmosfera até o ano de 2023. 

A Arcelor diz ter investido um valor aproximado de R$ 140 milhões de reais, de um total que vai ultrapassar R$ 1 bilhão e 100 milhões, previstos também para 2023, em equipamentos, projetos ambientais e novas tecnologias. 

O Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) realiza o trabalho de monitoramento da qualidade do ar em 9 estações automáticas, com divulgação dos dados em tempo real. Na tarde desta quinta-feira (21), a classificação era boa. Já o pó preto, é monitorado em 12 estações manuais e divulgado em um relatório mensal. O último dado disponível é de novembro e registrou 11,4 gramas de partículas por metro quadrado. Em outubro, eram 10.

De acordo com Eraylton Moreschi, integrante da ONG Juntos SOS Ambiental, a solução seria a construção de domos. “A solução são os domos, para quem não sabe, são simplesmente armazéns que cobrem as pilhas e que o vento não faz efeito”, disse.

* Com informações do repórter Alex Pandini, da TV Vitória/Record TV.