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Projeto monitora e preserva jacarés com risco de extinção no Espírito Santo

O jacaré-do-papo-amarelo, uma das espécies mais emblemáticas da Mata Atlântica e da biodiversidade, é também muito comum no Espírito Santo, porém ameaçada de extinção em todo o país

Foto: Leonardo Merçon
Jacaré-do-papo-amarelo, uma das espécies mais emblemáticas da Mata Atlântica, é também muito comum no Espírito Santo.

O expressivo aumento da quantidade de jacarés que vive em localidades urbanas levou à criação de um projeto no Espírito Santo que zela pela saúde, proteção e bem-estar destes animais. A ideia é capturar, fazer exames e tratar o réptil, caso seja necessário, para evitar a extinção da espécie.

Criado no início de 2015, o Projeto Caiman atua apenas no Espírito Santo. O projeto de pesquisa e conservação do jacaré-de-papo-amarelo monitora áreas estratégicas localizadas principalmente nos municípios de Sooretama, Linhares e Cachoeiro de Itapemirim, além da Grande Vitória.

Uma das áreas de estudo do Caiman é a ArcelorMittal Tubarão, na área chamada de “santuário dos jacarés”, que comporta uma população de quase 500 jacarés-do-papo-amarelo, a maior do Espírito Santo. Segundo Yhuri Nóbrega, médico veterinário e coordenador do Projeto Caiman, este é considerado um bom lugar para os animais. “Além dos lagos, a área possui segurança, o que inibi a captura clandestina e permite que os mesmos sejam cuidados e monitorados pelos pesquisadores do projeto” contou.

O jacaré-do-papo-amarelo, uma das espécies mais emblemáticas da Mata Atlântica e da biodiversidade, é também muito comum no Espírito Santo, porém ameaçada de extinção em todo o país. Pesquisadores do projeto afirmam que a abordagem científica é fundamental para compreender os riscos que os animais correm por causa da incidência em áreas urbanas e propor ações para a conservação dos jacarés-de-papo-amarelo no estado.

A atuação do projeto acontece de várias formas, desde o trabalho com o animal e seu habitat, até a conscientização da população, apresentando-lhes o jacaré em sua essência, já que muitas pessoas têm apenas uma imagem negativa do animal.

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A espécie hoje é ameaçada de extinção e chegou a este nível devido a uma série de atividades impostas pelos humanos sobre a população dos jacarés, sendo elas a caça, a degradação e perda de habitat, e as doenças. O que muitas pessoas não sabem é que essas ameaças não afetam somente a espécie, mas também nós, seres humanos. Yhuri deu o exemplo da caça, considerada pelo Caiman como um problema muito sério. 

“Primeiro por causa da perda genética, já que os animais são capturados e mortos. Segundo porque é considerado um crime ambiental. E terceiro por colocar em risco em risco a saúde pública, já que o animal, quando caçado clandestinamente para consumo, não passa por nenhuma inspeção sanitária. Assim, acaba expondo quem consome a carne, pois os jacarés podem conter bactérias que transmitem doenças para a população humana”, explicou o coordenador.

“Marginais”

Toda a história e trajetória do projeto, os desafios da conservação de animais silvestres marginalizados e as ações empreendidas pelo governo brasileiro para a preservação se transformaram em um livro. 

Com o nome de “Marginais”, a obra, ao longo de suas 208 páginas, promove a reflexão sobre o tratamento oferecido aos jacarés pela sociedade e combate o desconhecimento, mostrando a fascinante história dessa espécie pré-histórica e a importância biológica que esses animais exercem como predadores de topo de cadeia.

“O livro coroa um trabalho lindo que o projeto Caiman tem desenvolvido, em parceria com a ArcelorMittal, e que tem gerado frutos reais, não apenas para a biodiversidade, mas também para a sociedade. O coração está cheio de alegria e felicidade com o lançamento do livro, mas também de esperança. Esperamos que daqui pra frente, cada vez mais a relação entre o homem e o jacaré seja harmoniosa”, disse o co-fundador do projeto Caiman, Yhuri de Nóbrega. 

Apesar de estar fisicamente localizado no Espírito Santo, o trabalho do Caiman é reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Essa é a visão do representante da União Internacional para Conservação da Natureza, Pablo Siroski. 

Estou envolvido no mundo dos crocodilos há vários anos e conheci muitas pessoas, mas poucas com tanto talento e esforço para preservá-los quanto os membros do Projeto Caiman”, afirmou. 

Confira a entrevista com Pablo Siroski sobre a importância do projeto a nível mundial:

O lançamento do livro foi realizado na sede ArcelorMittal Tubarão, na Serra, antiga parceira do projeto. “Os jacarés fazem parte da nossa identidade. A ArcelorMittal co-existe e produz aço em harmonia com os jacarés. São 500 jacarés em nossas sete lagoas. Muitos podem perguntar por que uma empresa que é referência na produção de aço dedica tempo e investimento para preservar espécies, como jacarés. Nossa relação com esses répteis está inserida em um contexto mais amplo que está associado à prática do desenvolvimento sustentável e à nossa responsabilidade corporativa”, disse o gerente Geral de Sustentabilidade e Relações Institucionais da ArcelorMittal Tubarão, João Bosco Reis da Silva. 

Ouça a entrevista com o gerente Geral de Sustentabilidade e Relações Institucionais da ArcelorMittal Tubarão, João Bosco Reis da Silva:

O projeto

Desenvolvido através do Instituto Marcos Daniel, as principais iniciativas do Projeto Caiman – Jacarés da Mata Atlântica são a pesquisa e conservação de Jacarés brasileiros. O coordenador explicou que as atividades incluem, além do desenvolvimento de pesquisas, a educação ambiental e a formação de jovens pesquisadores através do programa de iniciação científica.

“Trata-se de um projeto pioneiro, fundamental para a conservação da biodiversidade capixaba. O Projeto Caiman é uma iniciativa continua de pesquisa e conservação das populações de Jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris). Através do uso do jacaré como uma espécie bandeira, o projeto tem o objetivo de promover a conservação dos crocodilianos e da Mata Atlântica como um todo”, afirmou Marcelo Santos, professor e presidente do Instituto Marcos Daniel

O Projeto Caiman atua em quatro vertentes principais, como pesquisa em conservação, desenvolvimento tecnológico e científico do Brasil, formação de jovens pesquisadores e educação e sensibilização ambiental. Ele também capacita estudantes de diversas instituições de ensino no Brasil e é referência em conservação de jacarés no Brasil.