Após contaminar pelo menos 250 pontos do litoral nordestino, a mancha de óleo avança em direção ao Espírito Santo. Nesta quarta-feira, o poluente mais próximo ao Estado foi avistado em Belmonte (BA), a 300 km do Parque Estadual de Itaúnas, no município de Conceição da Barra, extremo Norte do ES. Esta será a primeira região a ser atingida, caso o petróleo cru chegue ao Sudeste, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEAMA).
O problema é que uma mudança na direção dos ventos pode acelerar o deslocamento da substância. De acordo com o coordenador do curso de Oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Agnaldo Martins, o trecho pode ser percorrido em até menos de uma semana, se o ritmo atual se mantiver.
Capacitação para limpeza das praias
Enquanto isso, ações de prevenção ganham força em Conceição da Barra. Nesta quarta-feira à tarde, houve uma reunião de esclarecimentos e capacitação sobre os procedimentos no manejo do óleo. O evento ocorreu no auditório da prefeitura, e reuniu servidores municipais, bem como representantes da SEAMA, Ibama, UFES, ICMBIO, Polícia Ambiental, Corpo de Bombeiros, educadores, empreendedores, pescadores, gestores públicos e voluntários.
De acordo com o Secretário Municipal de Meio Ambiente, André Tebaldi, foram definidas estratégias para a limpeza das praias, caso a mancha se aproxime. “O objetivo é criar uma rede de trabalho organizada para uma eventual chegada do óleo às praias do Estado”, diz. Materiais informativos estão sendo distribuídos no município, com procedimentos de segurança relacionados à fauna oleada (animais marinhos afetados pelo óleo) e também de segurança para contenção de resíduos, priorizando as áreas sensíveis, como manguezais.
Também foram ressaltados os danos que o contato com a substância pode causar e repassadas orientações para os voluntários que já começaram a se cadastrar. “É importante que proprietários e funcionários dos estabelecimentos que recebem o fluxo turístico do município saibam informar banhistas sobre a chegada do óleo em nossas praias”, explicou Tebaldi. “Aqueles que pretendem se voluntariar para uma eventual ação de limpeza serão muito bem-vindos ”, completou o secretário.
Quem quiser se cadastrar como voluntário ou registrar alguma anormalidade nas praias locais, pode acionar a Administração Municipal, pelo telefone (27) 98878-9775, ou a Secretaria de Meio Ambiente, através do telefone (27) 99988-8103. O e-mail é: [email protected].
Comitê de Preparação da Crise
Nesta terça-feira, o Comitê de Preparação da Crise, criado para construir ações preventivas, também se reuniu para traçar novos planos de ação, no combate ao derramamento de óleo. O Plano foi dividido em 3 etapas: Prévia ou atenção, que são ações voltadas à previsão, monitoramento, comunicação e suporte logístico; Operacional, com a contenção, limpeza e destinação final dos resíduos recolhidos, além do atendimento à fauna oleada e início do trabalho de mensuração dos impactos nos ambientes costeiro e marinho; e Posterior ou de Avaliação, que consiste no monitoramento dos locais atingidos e levantamento dos danos ambientais e socioeconômicos, bem como realizar valoração monetária dos impactos.
Em paralelo, nove empresas privadas se comprometeram a colaborar com equipes de profissionais e voluntários. Serão doados equipamentos de proteção individual, material de contenção e embarcações. O recolhimento e reaproveitamento da substância também foi pré-definido.
No entanto, para o professor universitário Agnaldo Martins, não será tarefa fácil. “A densidade do óleo faz com que a mancha se desloque abaixo da superfície da água, e por isso, só é possível percebê-la quando ela chega à praia”, explica. As manchas de óleo surgiram na Paraíba, no dia 30 de agosto, e vem se deslocando em direção ao sul, desde então.
Visita a Ilhéus
Representantes da SEAMA, em visita a Ilhéus, na Bahia, acompanharam os trabalhos dos gestores e técnicos na limpeza e recuperação das praias afetadas. Participaram de reuniões de planejamento, integradas com órgãos federais, estaduais, municipais e voluntários. Também foram recolhidos fragmentos do material residual (óleo) para pesquisa e análise nos laboratórios do Espírito Santo, para futuros estudos – que vão desde reuso do material até possíveis efeitos à saúde humana e animal. A UFES foi convidada a receber o material recolhido.
Pelas informações oficiais do Ibama e da Marinha, Ilhéus foi atingida novamente pelo óleo em quantidades maiores. Numa cronologia observada, primeiramente chegam à praia pequenos fragmentos de óleo, classificados como vestígios, pelos técnicos. Nos dias seguintes, novas manchas pequenas aparecem e após mais alguns dias surgem manchas de óleo maiores.
Outra preocupação da Seama é com a proteção das áreas de manguezais. Não foi possível estabelecer, até o momento, medidas totalmente eficazes para proteção dos estuários. Na Bahia, foram instaladas redes de pesca, com malha fina, utilizadas no arrasto do camarão, para diminuir os impactos ambientais. A secretaria não descarta a compra deste material.
Novas capacitações
Outros encontros de alinhamento estão programadas para São Mateus e Linhares nesta quinta-feira (31), podendo se estender a outras cidades, caso seja necessário. Ao todo, são 14 cidades costeiras no Espirito Santo, uma extensão de 411 km.
Pesca proibida
A partir da próxima sexta-feira, até o dia 31 de dezembro, está proibida a pesca de camarão, no extremo Norte do Estado, na divisa com a Bahia. A normativa foi publicada no Diário Oficial da União, pelo Ministério da Agricultura. Por causa do avanço do óleo no mar, cerca de 60 mil pescadores artesanais não podem mais trabalhar, e podem receber o Seguro Defeso.
Parque Estadual de Itaúnas
Caso o óleo aparece no Espírito Santo, as praias do Parque Estadual de Itaúnas serão as primeiras áreas a serem afetadas. Por se tratar de uma área de desova de tartarugas marinhas, todo o trato de manejo desta fauna será de forma manual, sem a presença de máquinas pesadas como tratores, caçambas ou escavadeiras, para não danificar os ninhos das tartarugas.
O parque, criado em novembro de 1991, é um fragmento de floresta em extinção no Espírito Santo. Possui ambientes como a mata de tabuleiro, mangues e restinga, mas é muito conhecido por suas dunas. É por onde passa o rio Itaúnas e a mais representativa região de alagados do Espírito Santo. O bom estado de conservação destes habitats, aliado à grande diversidade de espécies vegetais, coloca a unidade como local de extrema importância para o Estado.
De acordo com o Iema, são mais de 414 diferentes espécies vegetais, 43 de mamíferos, 183 de aves, 32 de répteis, 29 de anfíbios e 101 de peixes. O Parque abriga ainda 23 sítios arqueológicos, locais de concentração de vestígios de assentamentos humanos pré-históricos como pedras lascadas, cerâmica indígena e diversos artefatos da época da colonização.
Área aproximada: 3.481 ha.
Localização: Município de Conceição da Barra, próximo à Vila de Itaúnas.