Os médicos e enfermeiros da Santa Casa de Cachoeiro fizeram um manifesto na manhã deste segunda-feira (17) pela falta de material e condições de trabalho no hospital. Apesar da manifestação, o atendimento ao público segue normalmente.
De acordo com o médico cirurgião Elias Garcia, o manifesto tem como objetivo chamar a atenção para o grave problema da Santa Casa.
“A Santa Casa foi provocada a fazer o dever de casa, a regular as suas contas. A direção contratou uma consultoria, resolveu os problemas que poderia resolver e chegamos ao limite que, a partir daqui, só fechando as portas. Estão faltando materiais básicos para atender as pessoas, como: materiais de CTI, Centro Cirúrgico e do Pronto Socorro. Houve uma redução de repasse do Estado de 20% em relação ao ano passado, e essa redução está sendo acenada que vai aumentar um pouco mais, e não temos condições de arcar com isso”, explica.
Garcia contou que a Santa Casa tem uma dívida acima de R$ 35 milhões. “Não é por má gestão e nem incompetência administrativa, mas justamente, pela omissão do Estado. O atendimento do SUS é uma obrigação do estado e um direito do cidadão, e é impossível mantermos as portas abertas para atender a população. O Estado não está tendo sensibilidade em relação a isso. Do jeito que está, não podemos nem operar mais. Estamos chamando a atenção para a grave situação da Santa Casa”, continua.
Os médicos ressaltam que não há previsão de interromper o atendimento. “Não é o nosso objetivo fechar as portas. Vamos manter firme com as portas abertas. O grande problema é que daqui a pouco, se não tiver uma atitude concreta para essa situação, os pacientes passarão da porta para dentro vão ver os médicos e enfermeiros para atendê-los, mas sem logística, sem material”, comenta o diretor clínico da Santa Casa, Eurípides Mello.
No manifesto, os médicos ressaltaram que falta: antibióticos, luvas, tubos para intubação em cirurgia e anestesia geral, série de implementos, medicações básicas, e na nutrição estamos com desabastecimento. “Não estamos conseguindo que os fornecedores forneçam esses materiais, pois existem várias contas atrasadas. Os repasses que o governo está fazendo não nos permite arcar as contas atrasadas e muito menos comprar algo. Não temos material para atender pessoas baleadas ou acidentadas”, completa o médico Alcides Barata Filho.
Impasse
Enquanto os médicos realizavam o manifesto, uma funcionária pública de Cachoeiro teve que voltar para casa ao tentar doar sangue, por falta de material. “Perdi o dia de trabalho e vim doar sangue. Quando cheguei aqui me informaram que não tem bolsa e que havia acabado há duas horas. É lamentável termos vontade de ajudar, doando sangue, e não podermos por falta de material”, contou Karla Lage Duarte.
Por meio de nota, a direção da Santa Casa Cachoeiro informa que a manifestação realizada na manhã desta segunda-feira (17) foi feita pelos médicos da instituição, e reconhece que o movimento é legítimo, já que é feito para melhorar o atendimento da população de Cachoeiro e dos demais municípios do sul do Estado.
A direção esclarece, no entanto, que o problema citado pelos médicos se deve à insuficiência e a falta de regularidade no repasse do serviço contratado pelo Governo do Estado, problema que já se arrasta desde 2014, e informa ainda que desde 2014 tenta uma solução para o impasse junto ao Governo do Estado, mas não obteve um retorno financeiro para solucionar o problema.
Apesar da manifestação, os serviços de urgência e emergências do hospital continuam funcionando normalmente.
Já a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), informa que os repasses estão em dia e que os convênios foram feitos com base na série histórica de produção de cada Hospital, e reforça que em nenhum momento houve orientação para reduzir os serviços ofertados à população. “O Espírito Santo é o terceiro estado que mais investe em Saúde com recursos próprios. Grande parte dos recursos são utilizados para complementar a tabela SUS, que é insuficiente. O Estado possui contrato com hospitais filantrópicos, que também recebem recursos federais”, diz a nota.
A Sesa ressalta que não houve corte no orçamento da Saúde. “O orçamento da pasta cresceu em R$ 450 milhões porque a preocupação do Estado é manter os serviços essenciais da Saúde. Estamos num processo de reorganização das contas e é preciso austeridade. É necessário observar o comportamento da economia para aumentar o investimento e poder honrá-lo. A contratualização, como é chamado este convênio, é um instrumento formal de regulação da atenção hospitalar. A Sesa repassa, todo mês, um valor fixo e outro valor que é variável, de acordo com o cumprimento de metas físicas e de qualidade”.