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Rastro de destruição e os impactos da lama na população ribeirinha do Rio Doce

Segunda reportagem da série sobre o aniversário da chegada da lama de rejeitos ao Espírito Santo mostra como está a vida dos capixabas que tiravam água e sustento do rio

Desde a tragédia, há um ano, a pesca está proibida no Rio Doce Foto: TV Vitória

Após destruir o distrito de Bento Rodrigues e deixar 236 famílias desabrigadas, a lama de rejeitos da barragem de Fundão desceu rio abaixo e, 15 dias depois, começou a criar impactos no território capixaba. Esse foi o tema da segunda reportagem da série sobre um ano da chegada da lama de rejeitos ao Espírito Santo.

A população de Baixo Guandu, município do Espírito Santo vizinho de Minas Gerais, foi a primeira a sentir essas mudanças. A pescadora Vanda Lopes Rosa, moradora da vila de Mascarenhas, se viu mergulhada em depressão após a chegada dos rejeitos. “Hoje estou à base de tranqüilizantes, estou indo a um psiquiatra. Não se pode nem pisar mais na água”, lamentou.

A mesma água que viabilizava a pesca matava a sede da lavoura e da população da região. Por causa da tragédia, o abastecimento dos mais de 30 mil habitantes da cidade mudou. A fonte é o Rio Guandu, que depende de uma usina hidrelétrica para levar a água até a estação de tratamento. 

“Se não fosse isso acho que a gente nem conseguiria consumir essa água. Eu não teria coragem de beber”, afirmou a professora de Baixo Guandu, Fernanda Patrício da Fonseca Cordeiro.

Um pouco mais à frente, em Colatina, o caos se instalou entre os 120 mil moradores de Colatina quando a lama chegou. A população ficou cinco dias com as torneiras secas.

Desde então, soluções e novas técnicas foram implantadas para que a água do Rio Doce permanecesse abastecendo o município. O serviço de saneamento de Colatina garante que tem controlado a qualidade da água e que por isso, ela está própria para o consumo humano.

“Desde o início do problema a gente sempre fez exames em um laboratório certificado. Em nenhum momento teve problemas quanto a isso. Se tiver qualquer problema, interrompemos o abastecimento, mas até hoje não foi necessário”, garantiu o engenheiro sanitarista João Virgílio Avancini.

Na foz do Rio Doce, em Regência, a água vem em carros pipa e mal dá para todos. Morador da vila e vice-presidente do Comitê da Bacia do Rio Doce, Carlos Sangália enumera os transtornos provocados pela lama de rejeitos. “Teve toda uma desestruturação socioorganizacional, na questão socioeconômica, socioafetiva, a questão do turismo, que já tinha uma dinâmica de funcionamento que foi interrompida”. 

José Sabino é um dos três mil pescadores impactados pela chegada da lama em todo o Estado. Só na vila de Regência, 56 famílias viviam exclusivamente da atividade pesqueira. “É triste a realidade de hoje, de não poder pescar, eu fico com o coração partido em não poder fazer que eu tanto fiz ao longo dos meus anos. É muito triste” 

De acordo com a Samarco foram entregues 3.535 cartões de auxílio financeiro a famílias do Espírito Santo que dependiam do Rio Doce. A empresa diz que monitora a qualidade da água em 120 pontos no rio, em seus afluentes e na área marinha próxima à foz.

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