Um aumento da temperatura média do ar, de até 2,1°C, e uma diminuição da ocorrência de chuvas pode acontecer nos próximos 30 anos na região da Bacia do Rio Doce localizada no Espírito Santo. A conclusão é do segundo relatório temático do Painel do Rio Doce, que apontou que as mudanças climáticas podem causar impactos ambientais, sociais e econômicos.
De acordo com o estudo, a previsão é de que doenças emergentes, racionamentos de água, secas e inundações ocorram com mais frequência nos próximos anos na região, que ainda sofre com as consequências ambientais do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorrido em novembro de 2015. Segundo os pesquisadores, a expectativa é de que a mudança climática agrave uma paisagem que já era frágil.
“Por exemplo, as chuvas torrenciais na região que ocorreram no primeiro semestre de 2020 causaram deslizamentos de terra severos, deixando centenas de pessoas desabrigadas e trazendo à tona sedimentos que expuseram as pessoas e o meio ambiente aos efeitos nocivos causados pelo rompimento da barragem cinco anos atrás”, destacou o relatório.
O relatório cita ainda um estudo feito pela Fundação do Meio Ambiente de Minas Gerais (Feam), que destacou como alguns dos principais impactos da mudança climática a possível queda de viabilidade da silvicultura e a redução das terras cultiváveis, “ambas associadas à menor precipitação e à perda de biodiversidade”. Outros impactos da mudança climática incluem riscos à saúde humana e diminuição da capacidade de geração hidrelétrica.
De acordo com o relatório, “embora não tenham sido localizados estudos detalhados e semelhantes sobre o estado do Espírito Santo, uma previsão aponta para a mesma tendência regional de redução da precipitação média mensal e aumento da temperatura média do ar de até 2,1°C até 2050”.
Segundo a pesquisa, a tendência é o aumento do déficit hídrico anual na maioria das regiões do estado, com o potencial de afetar ainda mais a parte da Bacia do Rio Doce localizada em território capixaba. De acordo com o relatório, o regime climático e outras configurações ambientais na bacia sugerem um cenário semelhante ao de Minas Gerais, descrito pela Feam.
“A principal diferença são os impactos da elevação do nível do mar, que devem afetar a foz do rio e suas áreas costeiras adjacentes, com risco iminente de inundações nas áreas urbanas”, apontou.
O estudo também chama a atenção para a necessidade de os tomadores de decisão considerarem os impactos climáticos nos esforços de restauração da bacia. “Visto que cerca de 3,3 milhões de pessoas dependem do Rio Doce para acesso à água doce e garantia de sua subsistência, são necessárias medidas urgentes para ajudar as comunidades a mitigar e se adaptar aos impactos da mudança climática”, ressalta um trecho do relatório.
Posicionamento
A Fundação Renova informou que o Painel Independente de Assessoramento Científico e Técnico (ISTAP, na sigla em inglês) faz parte de uma parceria entre a entidade e a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), firmada em virtude da complexidade, escala e ineditismo do rompimento da barragem de Fundão. Coordenado pela IUCN, o Painel tem caráter técnico, independente e multidisciplinar, e reúne recomendações em diferentes níveis.
A Renova ressaltou que as recomendações feitas pelo Painel do Rio Doce envolvem a reparação de forma ampliada e estão direcionadas a todos os atores que participam da governança, como o poder público nas esferas federal, estadual e municipal em suas várias áreas de atuação, autarquias, órgãos ambientais, reguladores e outros dentre as mais de 70 entidades que compõem este processo.
Ainda de acordo com a nota, a parceria entre a Fundação Renova e a IUCN faz parte do envolvimento de mais de 25 universidades, ONGs e outras instituições na reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem.