O relatório nacional de inspeção em hospitais psiquiátricos foi divulgado na última segunda-feira (02) e apontou problemas na estrutura e violação a direitos humanos no Hospital Estadual de Atenção Clínica, o antigo Adauto Botelho, que fica em Cariacica.
A inspeção aconteceu no dia 5 de dezembro de 2018 e, naquela semana, foram vistoriadas 40 instituições psiquiátricas em 17 estados. Segundo o relatório, o hospital capixaba ainda guarda práticas antigas do manicômio.
A psicóloga Juliana Brunoro participou da inspeção, representando o Conselho Regional de Psicologia (CRP-ES), e constatou que as pessoas eram amarradas nas camas por várias horas, em desacordo ao procedimento legal. “Pessoas que estavam havia muitas horas em contenção e sem o registro no prontuário se os sinais estavam sendo verificados. Um perito assemelhou essa prática à tortura”, ressaltou.
O psiquiatra Fernando Furieri afirma que, no entanto, esse tipo de procedimento é necessário em alguns casos. “A equipe geralmente é treinada para fazer essa contenção. Ela é feita de modo que ela não cause ferimentos aos pacientes e que ele melhore depois de ser medicado”, disse.
Práticas antigas
O relatório também aponta que há grades e portas trancadas, e os pacientes precisam de autorização de funcionários para transitar na ala psiquiátrica. O documento indica, ainda, que pertences dos pacientes são trancados em armários e devolvidos só quando eles recebem alta. Produtos básicos como papel higiênico, sabonete e absorvente feminino são entregues de forma controlada pelos funcionários. Para o CRP-ES, essas são práticas de antigos manicômios.
O documento segue destacando problemas estruturais na unidade: vasos sanitários não possuem assento, quartos e banheiros sem portas tirando a privacidade dos pacientes, além de infiltrações, azulejos quebrados, mofo em vários pontos e produtos de limpeza guardados no mesmo armário dos alimentos.
Respostas
Em nota, a Defensoria Pública do Espírito Santo afirmou que irá vistoriar não só o antigo Adauto Botelho, mas também outras unidades psiquiátricas do Estado para apurar possíveis violações de direitos humanos.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, a direção do Hospital Estadual de Atenção Clínica argumentou que a inspeção foi promovida durante a gestão passada, defendendo que neste ano não há registro de denúncia no hospital. O ´´órgão informou ainda que trabalha em parceria com o Ministério Público e disponibiliza relatórios de todas as internações e altas da unidade. Destacou também que o hospital abriu diálogo com a sociedade, seguindo a prática de conceito de humanização.
Com informações do repórter Laércio Campos, da TV Vitória/Record TV.