A Rua Coração de Maria, mais conhecida como ladeira do Colégio Sacre Coeur, em Vitória, tem nome que remete ao sagrado, mas a convivência ali entre moradores e motoristas não tem tido nada de paz celestial. Desde novembro do ano passado, quem vive no local tem se aborrecido com transtornos causados por engarrafamentos constantes.
Eles são causados por quem quer acessar o colégio e só tem a ladeira como alternativa para subir e descer. Antes, o caminho era feito pela alameda Irmã Nieta, na altura de uma casa de shows. O caminho é chamado de ladeira do Ilha.
Por causa de uma obra de um muro de contenção no local, feita pelo colégio Sagrado Coração de Maria, a via foi interditada. Assim, a única opção ficou a ladeira estreita onde os veículos fazem mão dupla.
Com a volta às aulas, os congestionamentos retornaram, sempre nos horários de entrada e saída dos turnos escolares. A ladeira ainda é a ligação até a Avenida Saturnino de Brito, uma das principais da Praia do Canto.
“Essa situação é caótica e deixa os moradores sem poder acessar a própria residência de carro. Ou tirá-los da garagem. Mas isso não é o pior. Se alguém precisar de atendimento médico, que ambulância consegue chegar aqui? Só se o Samu vier de helicóptero”, reclama a servidora pública federal Mônica Pretti, 58 anos.
Ela mora num condomínio próximo à escola e, quando trabalha em casa em home office, testemunha a ladainha constante de buzinaços, filas de automóveis e confusões entre condutores e moradores.
“A rua aqui é estreita e fica totalmente tomada por veículos coincidindo com as entradas e saídas dos estudantes do colégio, ou seja, das 6h30 às 7h30, do meio-dia às 13h30 e das 17h30 às 18h30”, aponta. Assim, quem precisar chegar ou sair de casa, pode esquecer o próprio veículo.
Segundo Mônica, a fila de veículos que querem chegar ao colégio vai até a Praça dos Namorados, na altura de uma lanchonete, um congestionamento de quase um quilômetro.
“Quando consigo usar o carro, nem arrisco mais: já o deixo no estacionamento do Iate Clube e subo a pé para a minha casa”, diz.
Ela também acha que o semáforo da saída para a Saturnino de Brito poderia ter o tempo de fechamento diminuído. “Num cenário como esse que vivemos, se o sinal liberasse mais rápido para os carros, poderia ser um alento”, acredita.
Moradora diz que falta pouco para sair briga na ladeira
Uma outra moradora, que preferiu não se identificar, é mãe de um estudante matriculado no colégio. Ela acha que o colégio Sagrado Coração de Maria deveria ter agilizado as obras do muro de contenção ainda em janeiro, durante o período das férias escolares. “Eu entendo que foram vários dias de chuva no último mês mas não acho que um muro leve tanto tempo para ser levantado”, critica.
“A situação está caótica com discussões e bate-boca entre moradores e motoristas chegando a vias de fato. Outro dia, um motorista simplesmente parou o carro na frente da garagem de um morador, desligou o motor, saiu do veículo e disse que ele que tivesse paciência. Sem contar que muitos estacionam nas calçadas para esperar as crianças saírem da escola. Enfim, deveria haver uma presença dos agentes de trânsito para que esses abusos e irregularidades fossem evitados”, descreve.
Na sua opinião, as pessoas deveriam utilizar mais a empatia. “Se quem fosse buscar o filho deixasse o carro estacionado na área do Iate Clube e fosse a pé pela ladeira iria contribuir para diminuir esse transtorno. E, outra, estaria praticando um pouco de exercício na companhia animada das crianças”, sugere.
Prefeitura vai interditar ladeira do Ilha enquanto obra não for concluída pela escola
A Prefeitura de Vitória foi procurada para responder sobre a fiscalização do trânsito no local e de alternativas para a mobilidade na região a partir dos questionamentos dos moradores.
Confirmou que a obra do muro de contenção, que está causando essa mudança no trânsito, não é de sua responsabilidade.
Disse que a Defesa Civil de Vitória vistoriou a obra na alameda Irmã Nieta com o objetivo de verificar as condições de segurança, estabilidade e salubridade do local. Trata-se de um muro de contenção, em concreto e pedra, apresentando risco iminente de desabamento sobre a via pública.
Na última terça-feira, 01 de fevereiro de 2022, uma nova vistoria foi realizada para atualizar a situação de risco do muro, cuja inspeção realizada pela Defesa Civil em 19/11/2021 constatou risco estrutural crítico e risco geológico alto. Em virtude disso, houve a interdição de meia pista no trecho comprometido (cerca de 50 metros).
A fiscalização verificou que as obras no local ainda não se iniciaram. Destaca-se o descarte irregular do material da escavação que foi depositado em uma área de mata na calçada oposta ao muro.
“A Defesa Civil ratifica a necessidade da manutenção da interdição de meia pista, pois, até o momento, não houve por parte da escola realização de obras de contenção que proporcionem a mitigação ou a eliminação do risco, que se mantém alto para desabamento do muro sobre a via pública”, destaca.
Os serviços recomendados deverão ser realizados por empresa e ou profissional técnico habilitados, para o restabelecimento da estabilidade e segurança do local, pois trata-se de área particular.
Segundo a Lei Municipal 4821/98, art. 7º, o proprietário do imóvel é responsável pela manutenção das condições de estabilidade, segurança e salubridade dos imóveis, edificações e equipamentos.
A nota segue dizendo que no dia 07/01/2022, a Defesa Civil formalizou a comunicação de risco, colhendo assinatura no termo de notificação dos responsáveis pelos dois estabelecimentos que usam a via.
Já a Secretaria Municipal de Segurança Urbana (Semsu) informa que agentes do grupamento de Trânsito da Guarda Civil Municipal de Vitória (GCMV) atuam na região, com ênfase em horários de entrada e saída de alunos, para garantir a fluidez na circulação de veículos.
Sobre o tempo do semáforo na saída da ladeira Coração de Maria, não houve resposta.
O que diz o Colégio Sagrado Coração de Maria
A reportagem procurou também o colégio, que mandou a seguinte nota:
O Colégio Sagrado Coração de Maria assumiu a obra de reparo no muro de contenção localizado na Alameda Irmã Nieta.
As fortes chuvas ocorridas em dezembro e início de janeiro dificultaram a pesquisa de solo, necessária para realização dos cálculos estruturais, e devido a isso houve um atraso no início das obras.
Como a Rua Coração de Maria é uma via de mão dupla, as famílias foram orientadas a utilizarem essa rua para acessar o colégio.
A empresa responsável contratada prevê que a obra esteja concluída ainda em fevereiro.
O colégio está adotando todas as medidas possíveis para minimizar os transtornos causados por essa situação emergencial.