No dia 4 de fevereiro de 2017, o Espírito Santo via o início da maior crise de segurança pública de sua história. Em busca de reajuste salarial, pagamento de auxílio alimentação, periculosidade, insalubridade, adicional noturno e a valorização de policiais militares do Estado, mulheres e familiares bloquearam a saída de viaturas e de policiais dos batalhões da Polícia Militar (PM) em todo o Estado.
Sem policiamento nas ruas, crimes foram registrados ainda pela manhã do dia 4. Contudo, o secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, André Garcia, se posicionou dizendo que não houve nada que pudesse causar preocupação para a sociedade e que a secretaria estava tomando as devidas providências para resolver o impasse. “Nós não temos aumento de ocorrências em função desse quadro… De ontem para hoje, no Estado inteiro, tivemos apenas um registro de homicídio”.
A madrugada e o decorrer do dia seguinte foram marcados por crimes no Estado. Nas unidades da PM se via a mesma cena: cones impedindo as saídas dos veículos oficiais e mulheres de militares acampadas em frente às unidades, com tendas, cadeiras de praia e cartazes contendo reivindicações. Sem a polícia, o comércio foi alvo de bandidos. Lojas de eletrodomésticos foram arrombadas, tentativas de homicídio registradas, trailer da polícia incendiado, arrombamento de veículos.
De acordo com a Federação do Comércio e Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES), até o dia 8 de fevereiro o comércio já acumulava prejuízo de aproximadamente R$ 90 milhões em todo o Estado.
O medo tomou conta da população que buscava segurança dentro de casa. Atendimentos em repartições públicas foram suspensos, escolas fecharam as portas… Sem a polícia, o comércio foi alvo de bandidos, que saquearam e destruíram as lojas em diversos municípios do Estado. Somente nos três primeiros dias de paralisação, a Polícia Civil contabilizou 66 mortes no Espírito Santo.
Na tentativa de reverter o cenário de paralisação dos policiais, o Comando Geral da Polícia Militar foi trocado pela Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social. Sem sucesso e diante do caos e com a violência fora de controle, o Governo do Estado teve que pedir ajuda às Forças Armadas para restabelecer a segurança da população. O Espírito Santo contou com o patrulhamento de 1.850 homens das Forças Armadas e da Força Nacional.
Licenciado para um tratamento médico em São Paulo, o governador Paulo Hartung classificou a paralisação como chantagem. Revoltada com o movimento dos policiais militares, a população organizou um protesto que ocorreu na porta do Quartel do Comando Geral (QCG), localizado em Maruípe, em Vitória. Houve confusão entre pessoas favoráveis e contra a paralisação.
Veja o vídeo abaixo:
Após o fracasso nas negociações com policiais militares, o governo capixaba decidiu endurecer com os PMs e com as mulheres líderes do movimento. No total, 703 policiais militares foram indiciados por crime de revolta, que é o aquartelamento realizado por PMs armados. A lista com os nomes dos militares foi publicada no Diário Oficial do Estado.
Depois de três semanas, o povo capixaba assistia aos últimos dias de angústia e medo. Policiais do Batalhão de Missões Especiais driblaram os manifestantes que bloqueavam as saídas do QCG e retiraram as viaturas. Confira abaixo:
Em uma reunião que durou mais de nove horas, os familiares dos policiais militares chegaram a um acordo junto ao Governo do Espírito Santo no dia 25 de fevereiro. O pedido foi aceito com a condição dos processos administrativos e ações judiciais serem suspensos. Os familiares deram início à liberação das portas dos batalhões que ainda estavam bloqueados.
Durante os 21 dias sem policiamento nas ruas, foram registrados 189 homicídios durante um movimento marcado pela intransigência e pela queda de braço entre Governo e policiais, em que o mais prejudicado foi o povo capixaba. Militares foram expulsos, outros presos e familiares que lideraram o movimento ainda respondem na Justiça pela greve.
Após a greve, o governador Paulo Hartung assinou um decreto para reestruturação da Polícia Militar. Entre as medidas estão a criação de companhias independentes e outros dois novos Comandos de Policiamento Ostensivo. As medidas foram divulgadas pelo secretário de segurança André Garcia. Veja a imagem abaixo: