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Revolução no ensino: cresce o uso de ferramentas digitais

A tecnologia atrai alunos e torna o aprendizado mais dinâmico, mas qual é o limite para o mundo digital na sala de aula?

Foto: Divulgação
Professor usa aplicativos para estimular o aprendizado em sala de aula

As crianças e adolescentes das grandes cidades podem ser chamados de “nativos digitais”, afinal praticamente nasceram diante de telas. Muitos passam os dedinhos nos celulares com mais habilidade que muito adulto. Alguns aprenderam a acessar os dispositivos eletrônicos antes mesmo de aprender a falar.

Diante disso, como dizer que a aula tradicional com professor, livro, quadro negro e cartolina vai ser suficiente para atrair a atenção dessa turma? Não é à toa que o digital cresce cada vez mais dentro das salas de aula.

Mil de quilômetros sem sair do lugar

Sabe o mapa de papel para mostrar as cidades? E as fotos no livro comparando uma casa bem estruturada com outra de pau a pique? Já era. As crianças e adolescentes dos dias de hoje tem a chance de praticamente “entrar” naqueles mapas e ver essas casas e ruas de perto. E tudo pela tela do celular.

Foi o que aconteceu com as turmas do sexto ano no colégio Salesiano em Jardim Camburi, Vitória. Para falar sobre desigualdade social na aula de Geografia, o professor Márcio Padovani, decidiu propor uma expedição diferente, já que estamos em meio à pandemia. 

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Alunos percorrem ruas por meio de aplicativo

Por meio do aplicativo em que é possível ver imagens reais e se movimentar pelas ruas, os alunos foram desafiados a percorrer bairros da Grande Vitória para encontrar as diferenças entre locais mais periféricos e outros mais bem localizados. Foram mais de mil quilômetros andando virtualmente pelas ruas para comparar áreas de lazer, infraestrutura, construções.

“Com o aplicativo, os alunos tiveram a chance de passar por lugares que normalmente não iriam, já que costumam passar por ruas principais, com infraestrutura. Eles viram a realidade, conheceram a desigualdade social e tiveram a vontade de agir para cobrar mudanças”, ressalta Padovani.

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Isabela conheceu bairros por aplicativo 

A Isabela, de 11 anos, conta que sabia que havia diferenças mas não imaginava que fossem tão grandes: “Eu não sabia que havia tanta desigualdade social. Algumas casas eram de madeira, não dá para saber se aguentariam uma chuva, por exemplo”

Para ela, fazer o trabalho de Geografia, usando a ferramenta digital foi fácil. Ela tem domínio dispositivo digital. Em casa a família controla o horário para usar o celular e na escola, só quando o professor pede. Ela garante que facilita muito o aprendizado:  “Eu tenho vários aplicativos que deixam meus trabalhos mais completos e fáceis de fazer”, conta a menina. 



É na brincadeira que eles aprendem

Você também já teve a impressão de que as crianças hoje em dia já nascem mais espertas? Os pequenos, de 2, 3 anos de idade, muitas vezes já entram na escola conhecendo letras, cores, números. Muitos tem fácil acesso a internet e ali assistem aos mais diversos vídeos musicais que divertem e ensinam ao mesmo tempo.

Não teria como a escola fugir dessa forma de aprendizado e o jeito foi se adaptar, virar “amigo da tecnologia”, para atrair as crianças. E as ferramentas são inúmeras. 

Uma realidade que só cresce no país. Dados do Censo Escolar 2020 mostram que na Educação Infantil, a internet banda larga está presente em 85% das escolas particulares.

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Crianças da Educação Infantil desenvolvem habilidades com ajuda da tecnologia

Na Escola Novo Mundo, em Vitória, as crianças de 3 anos, mesmo sem saber ler sabem muito sobre o livro de historinha que tem em mãos. Sentados em roda, daquele jeito tradicional, guiados pela professora, elas imitam os personagens, repetem palavras e se divertem. Mas a atividade com o livro não fica só no papel, não. Na salinha, as imagens projetadas aparecem na parede e as crianças são convidadas a identificar números, letras e até dançar ao som da música relacionada ao tema do livro.

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Crianças aprendem com ajuda da tecnologia

Recursos musicais e visuais podem ajudar as crianças a fixarem conceitos fundamentais como o alfabeto, os números, as cores, as contas matemáticas e mais, elas são estimulados a interagir com as telas utilizadas e têm um processo de aprendizagem mais rico. 

A coordenadora pedagógica da Escola Novo Mundo, Elaine Cristina, explicou que as crianças da educação infantil usam diversas estratégias de aprendizagem e a escola alia pesquisas, links e jogos ao dinamismo natural que a educação infantil precisa. A ideia é que as crianças cresçam enquanto seres sociais e ao mesmo tempo consigam explorar as questões tecnológicas de forma autônoma.  

Confira no vídeo os benefícios da tecnologia na educação infantil:

Escolas atentas

A comunidade escolar sabe que o uso da internet e ferramentas digitais são um grande aliado na aprendizagem mas entendem também que as famílias têm regras diferentes sobre a utilização de dispositivos eletrônicos.

A orientadora educacional do Salesiano, Bianca Gonçalves da Silva, explica que a escola está sempre atenta à realidade de cada aluno:

“O trabalho é mais amplo do que simplesmente utilizar as mídias nas atividades. Algumas crianças que não costumam usar em casa e têm mais dificuldade, preferem o método tradicional, por isso a orientação é individualizada. Ainda ficamos atentos ao uso apenas para fins didáticos”.

Como achar o equilíbrio?

Nas escolas, o uso dos dispositivos eletrônicos é controlado para que os alunos utilizem apenas monitorados pelos professores e com atividades pedagógicas. Mas em casa nem todas as famílias conseguem exercer esse controle. 

Na pandemia, com a turma em casa, sem interação pessoal, muitos acabaram ficando mais tempo em frente ás telas. E houve consequência, como explica a mestre em psicologia e especialista em psicologia educacional e escolar, Andreia Ferreira:

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Psicóloga alerta para controle da internet 

“Muitos estudantes relatam procrastinação e falta de interesse nos estudos, ficando mais tempo navegando em redes sociais, vídeos ou jogos, do que nas aulas propriamente ditas. As famílias devem permitir apenas o que é liberado para cada idade dentro do período de tempo adequado, para que assim, os meios eletrônicos promovam o neurodesenvolvimento, já que a internet é um terreno vasto que pode ser muito perigoso.

A especialista fala também sobre o que a Sociedade Brasileira de Pediatra recomenda sobre o uso da tecnologia para crianças e adolescentes:

Entre 2 e 5 anos de idade: 1 hora por dia (incluindo TV, celular, tabletes e videogames)

Acima de 5 anos: 2 horas (a não ser em caso de trabalhos acadêmicos, quando é preciso ter intervalos de descanso e atividade física).