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Rodrigo Janot quer impedir que Justiça Militar do Estado julgue paralisação da PMES

O procurador-geral da República pede ao Superior Tribunal de Justiça que as investigações sejam conduzidas pela Justiça Militar da União

Rodrigo Janot quer impedir que Justiça Militar do Estado julgue paralisação da PMES

A Procuradoria Geral da República (PGR), por meio do procurador-geral Rodrigo Janot, solicitou ao Superior Tribunal de Justiça a federalização das investigações que envolvem a paralisação da Polícia Militar do Espírito Santo, ocorrida em fevereiro deste ano. O documento foi encaminhado por Janot na última quinta-feira (27).

Para Rodrigo Janot, há o risco de parcialidade no prosseguimento do caso que apura responsáveis pelos atos praticados. De acordo com informações da Revista Consultor Jurídico, em primeira instância, a instrução criminal passa por Conselhos de Justiça Militar, compostos por um juiz auditor (da Justiça estadual) e mais quatro juízes militares, que integram a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros.

O procurador-geral da República considera “irrazoável” e “temerário” o julgamento de crimes militares pelos próprios pares, pelo fato da extensão do movimento de paralisação dos PMs capixabas, com adesão de praticamente 100% do efetivo, e dos indícios de participação de oficiais de patentes altas. “A proximidade dos oficiais da Polícia Militar com os diversos níveis de autoridades, e a dependência, em parte, do Judiciário, do Executivo e do Legislativo da estrutura policial é fator de elevado risco”, disse Janot no documento.

Por meio de pedido do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), Janot solicitou que a Justiça Militar da União assuma o caso. Há a possibilidade de negação por parte do STJ e, caso aconteça, ele sugere, como alternativa, que o caso fique na responsabilidade da Justiça Federal.

Janot afirma que a paralisação de policiais militares do Espírito Santo se encaixa nos três requisitos necessários para o deslocamento de competência: a constatação de grave violação de direitos humanos; a possibilidade de responsabilização internacional do Brasil por descumprimento de obrigações assumidas em tratados internacionais; e a evidência de que os órgãos do sistema estadual não mostram condições de seguir no desempenho da função de apuração, processamento e julgamento do caso.

O que diz a Assomes

O presidente da Associação dos Oficiais Militares do Espírito Santo (Assomes), tenente-coronel Rogério Fernandes Lima, considera que não existe fundamento constitucional legítimo para deslocamento de competência, conforme propõe Rodrigo Janot.

“Janot coloca em xeque a Justiça capixaba, o MPES e, principalmente, a idoneidade de policiais militares. É um verdadeiro descrédito a todo o poder judiciário do Espírito Santo. O procurador-geral fere a autonomia federativa do Estado de apurar os crimes aqui cometidos, que é o pacto federativo, um dos princípios da República. Ele está querendo que generais das Forças Armadas julguem policiais militares, violando o Código Penal Militar. Não há cabimento. É um pedido esdrúxulo”, diz o 

“Um caso que mereceria o pedido de federalização, por exemplo, foi o das masmorras no Espírito Santo. Na ocasião, houve denúncia na Corte Interamericana dos Direitos Humanos e a Procuradoria Geral da República não fez o pedido”, fala Rogério.

“O que leva a gente a entender é que se trata mais de um viés político do que ato técnico jurídico como forma de represália aos militares. Quem deve decidir se houve crime cometido por militares é a Justiça do Espírito Santo, que tem competência legal para isso. Acreditamos e confiamos que o STJ não validará esse pedido absurdo”, comenta o presidente da Assomes.

A Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) foi procurada pela reportagem mas não retornou até o fechamento desta matéria.

Força Tarefa

O MPES vai apresentar dados da Força Tarefa criada para acompanhar e participar das investigações dos ilícitos cometidos durante a paralisação da Polícia Militar do Espírito Santo. A apresentação acontece nesta segunda-feira (31), na sede do MPES.

Participam da coletiva o promotor de Justiça, coordenador do Centro Operacional Criminal (CACR) e coordenador da Força Tarefa, Pedro Ivo de Sousa, o 20º e 21º promotor de Justiça Criminal de Vitória, com atribuição na fiscalização da atividade policial, Paulo Panaro Figueira Filho, e o promotor de Justiça e Coordenador do Núcleo Permanente de Incentivo à Autocomposição de Conflitos (Nupa), Francisco Martínez Berdeal.

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Com informações de Conjur.