Em 3 anos, o número de roubos de cargas no Espírito Santo caiu mais da metade, mas os casos ainda preocupam empresários, transportadoras e motoristas capixabas que estão nas estradas, na ‘linha de frente’ do perigo.
Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública, em 2018 foram instaurados 42 inquéritos de roubos de cargas no no Espírito Santo, 16 a menos do que em 2017, quando foram 58 casos. Já em 2016, foram constatados 109 roubos, o que representa quase o dobro em comparação ao ano anterior.
Para o delegado Gabriel Monteiro, titular da Delegacia Especializada de Crimes Contra os Transportes de Cargas, a equipe atua em conjunto com a Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal em todo o Espírito Santo e combate crimes que acontecem apenas no Estado.
“Após a ocorrência ser registrada, a vítima, que normalmente é um caminhoneiro, vem até a delegacia para prestar depoimento e identificar, através de nosso banco de dados, os possíveis criminosos. Como o crime é normalmente realizado por quadrilhas especializadas, casos de identificação através de fotos são comuns. A partir da identificação, começamos o aprofundamento da investigação através de câmeras, identificação de placas, observação das passagens de pedágio, testemunhas e 90% dos casos ocorridos no Espírito Santo são resolvidos”, afirmou Monteiro.
Trecho RIO-SP é o mais perigoso
Em conversa ao jornal online Folha Vitória, o Superintendente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Espírito Santo, Mario Natali, explicou que, embora a região sudeste represente cerca de 85% de roubos de cargas no país, o Espírito Santo é um dos que possui o menor índice. Os números, segundo ele, são resultados de trabalhos desenvolvidos entre o setor público e privado.
“A região sudeste representa um percentual de 85% de roubos de carga no país, mas o Espírito Santo é um dos menores nessa questão. Nós tivemos uma queda nos 3 últimos anos porque há todo um trabalho de envolvimento e colaboração entre o setor público, no caso as forças de segurança e nós também que participamos ativamente nisso. Desde 2015, temos um grupo de estudos de prevenção e combate ao roubo de cargas, criado pela Secretaria de Segurança Pública, que envolve a área de inteligência, a Polícia Civil, Militar e outros órgãos, com o objetivo de discutir problemas e buscar soluções para diminuir esses casos”, afirmou.
Grande Vitória entra na rota perigosa
Na maioria das vezes, os roubos envolvendo transportadoras capixabas, acontecem fora do estado. Quando, eventualmente acontecem dentro do Espírito Santo, o maior número de ocorrência, na Grande Vitória, acontece na Serra e em Cariacica e no interior em Cachoeiro de Itapemirim e Linhares.
“O que temos observado é que nos nossos roubos acontecem mais fora do Estado, no norte do Rio de Janeiro, em São Paulo e, eventualmente, alguns aqui, na região de Cariacica, Serra e no interior do Estado, como Cachoeiro e Linhares. Os tipos de cargas mais observadas são as que contém produtos de tecnologia avançada, além de remédios, pneus e algumas cargas de café também. Recentemente, tivemos até casos de roubo de carga de pimenta do reino”, destacou Natali.
Receptação
Nesse contexto, existe um problema tão grande quanto ou até maior do que o roubo de cargas: a receptação de mercadorias. O delegado Gabriel Monteiro explica como funciona a ação dos criminosos nas estradas visando repassar a carga.
“O “Modus operandi” é o seguinte. três ou mais indivíduos, todos armados, interceptam o caminhão na rodovia ou esperam o caminhoneiro estacionar o veículo para realizar a abordagem. Não houve nenhum latrocínio (roubo seguido de morte) no Espírito Santo em 2018. As quadrilhas possuem tecnologia e bloqueiam o rastreador do veiculo. Eles visam a carga. Não há interesse em matar o motorista, já que pode render repercussão. Em parte dos casos, existe um funcionário envolvido. Em outros casos, pelo logotipo do caminhão, ou questões mecânicas (pneus, eixo e suspensão), já sabem se o carro está carregado ou não.”
O titular da Delegacia Especializada de Crimes Contra os Transportes de Cargas destaca reforça que existe uma lei estadual 10.638/2017, que diz que quem receber/comprar mercadoria proveniente de roubo e/ou carga roubada, terá o CNPJ cancelado. “Não é fácil individualizar os vários receptadores e comprovar a origem ilícita. Mas trabalhamos nessa identificação”, concluiu o delegado.
Rastreamento
Diante dos casos de roubos, as empresas têm investido em ações de segurança para minimizar os prejuízos. O custo de investimento em um gerenciamento de risco varia de 12 a 15% para os empresários.
“A insegurança nas estradas tem trazido várias consequências. Há um custo que varia de 12 a 15% para investimento em gerenciamento de risco. Nós temos várias empresas de renome que fazem todo esse trabalho de rastreamento 24 horas. O motorista tem um horário para sair, abrir e fechar a porta e parar o veículo. Qualquer movimento contrário, a gerenciadora de risco toma conhecimento disso. Algumas cargas também, muitas vezes, tem a empresa de escolta, com veículos em comboio para que o motorista nunca fique sozinho na estrada”, afirmou o superintendente do sindicato.
Orientações de segurança
– Conhecer quem está contratando
– Treinamento e conscientização
– Monitoramento via satélite
– Escolta para evitar roubo de carga
– Definir o melhor trajeto
– Ficar atento aos horários de risco
– Ter cuidado ao parar o veículo
“Evitar paradas e pernoites em postos de gasolina de regiões mais propícias a roubos. Muitas estradas têm zonas neutras, ou seja, com postos onde os próprios motoristas fazem esquemas de turno de vigilância da carga, na qual o acionamento de policiais se torna mais rápido e prático”, orientou o delegado.