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Como parar de sofrer na hora de escrever? Professor de Português dá dicas

O professor e escritor Jerry Tononi apresenta dicas de redação para melhorar o português. Veja os 20 erros mais comuns que atrapalham na comunicação

Foto: Drobotdean/Freepik

Talvez escrever bem ou de maneira correta seja um grande desafio para algumas pessoas. A língua portuguesa não é uma tarefa fácil, visto que nosso idioma apresenta algumas particularidades que fazem dele um dos mais complexos do mundo. 

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De acordo com o professor de língua portuguesa e escritor Jerry Tononi – que escreve o blog Português em Dia no Folha Vitória –, os desvios da norma culta e formal são frequentemente cometidos em relação a assuntos como acentuação, concordância nominal e verbal, pontuação, crase, entre outros. 

“Esses desvios têm relação com um determinado padrão linguístico, podendo ser um desvio da norma culta ou uma inadequação ao momento da comunicação ou do gênero textual”, explicou.

De acordo com o Prof. Jerry, existem quatro tipos de desvios da língua portuguesa (tomando-se por base a norma culta e formal) que causam grandes deficiências em textos. São eles: 1. Desvios de convenções de escrita; 2. Desvios gramaticais; 3. Desvios de escolha de registro; e 4. Desvios de escolha vocabular. 

1. DESVIOS DE CONVENÇÕES DE ESCRITA

ACENTUAÇÃO

A princípio, com exceção de algumas palavras, todo vocábulo tem uma acentuação tônica. Trata-se do acento da fala, que marca a sílaba tônica. Conhecer a fundo as regras sempre será a melhor saída para quem ainda não sabe quando acentuar uma palavra. 

ORTOGRAFIA 

Trocar uma letra pode mudar o sentido de uma palavra. É preciso atenção na hora da escrita. A leitura e a prática de escrever podem fazer com que esse desvio aconteça com menos frequência.

HÍFEN 

É necessário conhecer ao menos algumas regras do uso de hífen do Novo Acordo Ortográfico. Grosso modo, ocorre hífen em duas situações: 1. Quando a palavra agregada começar por “h” (anti-herói). 2. Quando a última letra do prefixo/pseudoprefixo for igual à primeira letra da palavra agregada (anti-inflamatório). Como são muitos casos e regras, é importante habituar-se a consultar o dicionário. 

LETRA MAIÚSCULA  E MINÚSCULA 

Mesmo que seja um dos primeiros aprendizados na escola, muitos utilizam letra maiúscula quando não é preciso e deixam de usá-la quando necessário. Deve-se escrever sempre com letra inicial maiúscula, como nomes próprios (de pessoas, países, continentes e outras áreas geográficas…), início de frase e títulos (de textos, livros…).

2. DESVIOS GRAMATICAIS

CONCORDÂNCIA 

A concordância verbal diz respeito à concordância do verbo em número e pessoa com o verbo a que se refere. Nesse tipo de concordância, sujeito e verbo sempre se ajustam pelo mecanismo de concordância: verbo no singular, sujeito no singular, verbo no plural, sujeito no plural. No caso da concordância nominal, deve-se ficar atento à concordância em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural) do artigo, adjetivo, numeral e pronome adjetivo com o substantivo ou com a palavra de caráter substantivo a que se refere.

PONTUAÇÃO

O desvio nesse item acontece por falta ou por uso desnecessário de vírgulas, pontos finais, dois pontos, ponto e vírgula, travessão e outros. Esses casos prejudicam a fluidez da leitura. Para dominar bem, por exemplo, o uso da vírgula, é preciso dominar a ordem lógica/direta das palavras numa frase: sujeito, verbo, complemento e circunstância.

EMPREGO DE PRONOMES

Para fazer o uso correto dos pronomes é necessário conhecer os tipos existentes, como: oblíquos, retos, demonstrativos, possessivos, entre outros.  

CRASE

A tão temida crase deixa diversas pessoas com dúvidas durante a escrita. Portanto, é preciso ter conhecimento das regras de uso de sinal indicativo de crase para evitar esse desvio. O termo crase provém do grego krasis e tem o sentido de “fusão”, “junção”. Em língua portuguesa, a crase ocorre com as vogais idênticas A + A. Essa contração é indicada mediante o acento grave (à). Como regra geral, ocorrerá crase se o termo anterior exigir a preposição A e o elemento seguinte admitir a vogal A(S). Caso não haja uma dessas condições, não se deve usar o acento indicador de crase (Ex.: Conheço o diretor ou Não me referi a ele.).

3. DESVIOS DE ESCOLHA DE REGISTRO

De acordo com o professor, em situações formais, não se deve escrever com informalidade nem com marcas de oralidade. “Dessa forma, é necessário evitar gírias e expressões coloquiais, como um monte, um bocado, é isso aí, né, tá, beleza). Do mesmo modo, que não se empreguem formas usadas nas redes sociais, como vc, pq, eh. Também não são permitidas reduções como pra e pro nem abreviaturas como p/ e sds”.

4. DESVIOS DE ESCOLHA VOCABULAR

O professor ressalta que esse tipo de desvio tem a ver com opções lexicais imprecisas no contexto em que se encontram. “A escolha vocabular depende, muitas vezes, de uma análise semântica, pois é preciso observar se um determinado vocábulo está sendo empregado em seu sentido correto e adequado ao texto e às ideias apresentadas.”

Exemplo de desvio de escolha vocabular: “Podemos fazer várias conjunturas a respeito das possíveis consequências (Nesse exemplo, em vez de empregar ‘conjecturas’, o autor fez uso de ‘conjunturas’.)”.

Veja 20 desvios mais comuns 

Para você ficar livre dos deslizes linguísticos que tanto atrapalham a comunicação na modalidade escrita, o Prof. Jerry listou alguns desvios frequentemente encontrados, seguidos de algumas dicas de redação muito simples, mas que farão toda a diferença quando surgir aquela dúvida.

MIM / EU  

Para “mim fazer”. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim, deve-se dizer, por exemplo, para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer.

POR ISSO 

“Porisso”. A expressão por isso é formada por duas palavras, assim como de repente e a partir de.

HAVER / A VER 

A questão não tem nada “haver” com você. A questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver. Da mesma forma: Tem tudo a ver com você.

CHEGO / CHEGADO

“Tinha chego” atrasado. “Tinha chego” não existe. A frase correta é “Tinha chegado atrasado”.

POR CAUSA QUE / PORQUE

Ficou contente “por causa que” ninguém se feriu. Embora seja popular, essa locução não existe. Use porque: Ficou contente porque ninguém se feriu.

“RECEIASSEM”

Não queria que “receiassem” a sua companhia. O “i” não existe nessa palavra. Uso correto: Não queria que receassem a sua companhia. Da mesma forma há passeemos, enfearam, ceaste, receeis. Só existe “i” quando o acento cai no “e” que precede a terminação -ear: receiem, passeias, enfeiam.

TODO O (OU A) / TODO (A)

Andou por “todo” país. Todo o (ou toda a) é que significa inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). / Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem “o”, “todo” quer dizer cada, qualquer: Todo homem (cada homem) é mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos.

VIAGEM/ VIAJEM 

Espero que “viagem” hoje. Viagem, com g, é o substantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de viajar): Espero que viajem hoje.

“COMPRIMENTAR” / CUMPRIMENTAR 

Não existe o termo “comprimentar”. No sentido de cumprimento (saudação), só existe cumprimentar. Comprimento é extensão. Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido (concretizado).

SOBRE / SOB 

Ficou “sobre” a mira do assaltante. Sob é que significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. / Escondeu-se sob a cama. “Sobre” é equivale a “em cima de” ou “a respeito de”: Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação.

A MEU VER

“Ao meu ver”. Não existe artigo nestas expressões: A meu ver, a seu ver, a nosso ver.

“SEJE”

Que “seje” feliz. O subjuntivo de ser e estar é seja e esteja: Que seja feliz. / Que esteja (e nunca “esteje”) alerta.

“DE MENOR”

Ele é “de menor”. O “de” não existe: Ele é menor.

FOMOS / FOI 

A gente “fomos” embora. Concordância normal, porém informal: A gente foi embora. E também: O pessoal chegou (e nunca “chegaram”). / A turma falou (e nunca “falaram”).

SI

“Eu fiquei fora de si”. Os pronomes combinam entre si: Eu fiquei fora de mim. / Ele ficou fora de si. / Nós ficamos fora de nós. / Eles ficaram fora de si.

MAIS / MAS

Ela veio, “mais” você, não. O correto é mas (conjunção que indica ressalva, restrição): Ela veio, mas você, não.

“EXITAR” / HESITAR

Fale sem “exitar”. Não existe esse termo. Escreva certo: Fale sem hesitar.

HOUVE / OUVE 

Fale alto porque ele “houve” mal. O certo é: Fale alto porque ele ouve mal. Ouve, sem H, é do verbo ouvir. Houve, com H, é forma de haver: Houve muita chuva esta semana.

“FAZEM” / FAZ

“Fazem” cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é invariável: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.

“HOUVERAM” / HOUVE 

“Houveram” muitos acidentes. Haver, no sentido de existir, também é invariável: Houve muitos acidentes. / Havia muitas pessoas.  

Veja outros erros de grafia e entre parênteses a forma correta: “areoporto” (aeroporto), “metereologia” (meteorologia), “deiche” (deixe), enchergar (enxergar), “exiga” (exija). E nunca troque menos por “menas”, verdadeiro absurdo linguístico.