Você já ouviu falar em endometriose? Se ainda não, é melhor ter atenção, já que a doença é uma das principais causas de infertilidade feminina e atinge de 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva, segundo dados da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
O médico Carlyson Moschen, da clínica Unifert, nos ajuda a entender o que é o problema. Ele explica que o endométrio é a camada que reveste a parede interna do útero. Quando não há fecundação, boa parte dessa camada é eliminada durante a menstruação e o que sobra do tecido cresce novamente, preparando o organismo da mulher para uma nova gravidez. Se não houver fecundação, o ciclo se repete.
“Endometriose é quando partes desse tecido vão para fora do útero, por exemplo na barriga, no intestino ou no ovário. Isso acontece porque as células do endométrio não são eliminadas na menstruação, mas vão para outros órgãos”, explica o especialista em fertilidade.
Não há um porquê claro para a causa da endometriose, mas duas teorias são as mais aceitas, segundo Moschen. Uma é a menstruação retrógrada, quando células do endométrio podem se implantar em outros órgãos do abdômen, como intestino, ovários e bexiga. A outra é a chamada transformação celômica, ou seja, a transformação de um tipo de célula em outro – nesse caso, as células do endométrio.
Sintomas
Após três gestações, a turismóloga Vanessa Guerra ainda chega a se contorcer de cólicas durante seu período menstrual, por causa da endometriose. Desde a adolescência ela sente a dor durante o período menstrual, que já chegou a durar 40 dias, mas foi apenas após a gravidez do segundo filho, Matheus, hoje com 15 anos, que veio o diagnóstico.
“Naquela época, endometriose não era uma palavra muito conhecida. Quando recebi o diagnóstico, o médico me recomendou que eu tirasse o útero, porque a dor era muito intensa”, lembra.
Moschen explica que a mulher pode não ter sintomas, mas quando eles surgem, os mais comuns são cólicas menstruais que geralmente aumentam de intensidade com o tempo. Há ainda dor no ato sexual, dor e sangramento intestinais e urinários na fase menstrual e a temida infertilidade.
Ritmo de vida
Vanessa afirma que quando ela está passando por algum problema emocional ou estressada, a dor parece aumentar de intensidade, e isso tem todo sentido. De acordo com Moschen, o estilo de vida da mulher moderna pode influenciar as alterações que levam à endometriose, especialmente por conta do estresse e a ansiedade. O fator genético também é um elemento importante que não pode ser esquecido. É por isso que Letícia, a filha mais velha de Vanessa, já começou o acompanhamento médico para prevenir o problema.
O diagnóstico precisa ser feito por um médico especializado, a partir de uma análise criteriosa do histórico da paciente, sintomas, exame ginecológico e exames de imagem, como ultrassonografia e ressonância magnética.
Tratamento
O médico Carlyson Moschen ressalta que o tratamento dependerá do objetivo da mulher. “É preciso avaliar se ela quer engravidar ou se quer acabar com a dor, que realmente afeta sua rotina”, explica o especialista.
Para aliviar as dores, o tratamento pode ser clínico, por meio de medicações, ou por cirurgia. Já quando a mulher quer engravidar, se a endometriose é leve, pode ser feito tratamento com medicamento ou cirúrgico. Nos casos mais severos, há duas opções com bons resultados: cirurgia ou as técnicas de reprodução assistida. “A fertilização in vitro tem dado bons resultados para quem quer engravidar. Também é comum a mulher engravidar por fertilização e depois normalmente após o tratamento”, pontua Moschen.
Informação é a base para qualquer decisão. O importante é a mulher conversar com seu médico de confiança e conhecer suas chances de engravidar, de acordo com seu quadro clínico e suas opções. Só para esclarecer, depois do diagnóstico, Vanessa engravidou normalmente do seu caçula, João, hoje com seis anos, e teve uma gestação super tranquila!