O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tentou tirar a responsabilidade do governo federal pela falta de kit intubação nos hospitais públicos. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, 15, ele destacou a doação de medicamentos feita por empresas e pediu que os governos estaduais também se mobilizem para evitar o desabastecimento. No auge de infecções pela covid-19, hospitais no interior de São Paulo já limitam o número de atendimentos por falta de remédio.
O tom da entrevista foi de resposta ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que desde o início da semana acusa o Ministério da Saúde de ter “sequestrado os medicamentos”, proibindo a venda de empresas brasileiras a Estados e municípios.
“Os medicamentos doados pela Vale foram encaminhados de maneira tempestiva para atender ao governo de São Paulo e demais governos. Atribuição que os próprios governadores, especialmente os dos grandes Estados poderiam buscar esses medicamentos seja no mercado internacional, seja no nacional. Eles têm elementos para fazer isso e também se associar ao Ministério da Saúde nessa tarefa de apoiar a sociedade brasileira. Não adianta ficar só enviando ofício”, disse Queiroga.
O governo de São Paulo disse ter enviado nove ofícios ao Ministério da Saúde, o último deles na terça-feira, pedindo urgência para reforçar os estoques de medicamentos. Os últimos cinco foram encaminhados a Queiroga e, os anteriores, ao ex-ministro Eduardo Pazuello.
Queiroga detalhou nesta sexta-feira que os 2,3 milhões de medicamentos para kit intubação importados pela Vale estão previstos para chegar nesta quinta-feira, 15, às 22h30, no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo. Não foi informado quando os hospitais devem receber os kits. “Os Estados têm que procurar esses medicamentos também. Não é só empurrar nas costas do Ministério da Saúde. Se instituições privadas importam e trazem para cá, porque estados não fazem isso?”, questionou o ministro.
Também nesta quinta-feira o Ministério das Relações Exteriores informou que o governo da Espanha doará medicamentos do kit intubação para abastecer os estoques dos hospitais brasileiros. De acordo com a pasta, a previsão é que os medicamentos saiam do país europeu no final da próxima semana com destino ao Brasil.As cobranças feitas ao Ministério da Saúde com relação às entregas de “kits de intubação” para Estados e municípios levou o chefe da Pasta, Marcelo Queiroga, a fazer um extensa publicação em suas redes, na qual o ministro afirmou estar “trabalhando diuturnamente” para atender as necessidades de hospitais e a pedir ajuda do setor privado para “suprir o mercado nacional” enquanto o ministério repõe seus estoques.
Em sua mensagem, o ministro reafirmou que governos estaduais, prefeituras, hospitais privados, e a sociedade civil também podem pleitear a importação dos insumos, pedindo assim uma união dessas partes para lidar com a situação.
“Essa é uma tarefa de todos, não só do governo federal”, afirmou Queiroga.
Nos últimos dias, o governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), tem sido uma das principais vozes na cobrança à Pasta para a entrega dos medicamentos. Na quinta-feira, 15, em suas redes sociais, Doria fez um apelo para que deputados e senadores paulistas verificassem a razão de o Ministério da Saúde não ter respondido aos nove pedidos de entrega de medicamentos feitos pelo Estado.
No mesmo dia, durante entrevista coletiva, Queiroga disse que “não adianta ficar só enviando ofício”.
Na publicação desta sexta, no entanto, o ministro adota um tom mais ameno ao afirmar que o ministério “tem adotado providências para assegurar o abastecimento nos municípios”. Destacando que a importação dos kits pela iniciativa privada foi facilitada pela Pasta, Queiroga diz contar com a ajuda do setor para “suprir o mercado nacional” até que a Saúde consiga reabastecer o estoque dos medicamentos, o que deve acontecer, segundo ele, com a chegada dos insumos comprados pelo governo em parceria com Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial de Saúde (Opas/OMS).
Como mostraram o jornal O Estado de S. Paulo e o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), pelo menos 11 Estados relatam estoque crítico de remédios do kit intubação. Entre as regiões com maior risco de falta de medicamentos estão o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Maranhão, Roraima, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Acre e Amapá.