O Conselho Regional de Enfermagem do Espírito Santo (Coren-ES) decidiu suspender os serviços de enfermagem no Hospital Infantil Dra. Milena Gottardi, em Vitória. A decisão foi tomada após uma fiscalização, realizada na segunda-feira (18), que constatou uma série de irregularidades no local.
Os problemas foram detectados durante a visita e após uma conversa com as mães de crianças internadas na unidade hospitalar. Uma das irregularidades apontadas foi a reutilização de equipamentos de proteção, inclusive por mais de um profissional.
“Nós identificamos lá máscaras sem o clipe nasal, que é uma exigência dos órgãos de vigilância. Identificamos capotes (espécie de avental) pendurados na UTI pediátrica e no setor semi-intensivo, onde tem crianças de média e alta gravidade. E tivemos a oportunidade de conversar com as mães. Elas trouxeram muitos relatos, inclusive de que aqueles capotes que estavam ali pendurados eram usados por diversos profissionais, inclusive por fisioterapeutas, por fonoaudiólogos”, disse a presidente do Coren-ES, Andressa Barcellos.
Problemas também foram constatados com as máscaras reutilizáveis. Segundo o conselho, elas são armazenadas de forma incorreta, podendo aumentar a infecção.
Também foi constatado que não há enfermeiro responsável — o profissional capaz de determinar quantos técnicos e enfermeiros são necessários em cada setor. Essa, aliás, foi uma irregularidade que o próprio conselho notificou, em outubro de 2019, à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
O Coren-ES também identificou na visita: camas sem espaço recomendado de 1 metro; funcionários sem armários para guardar os pertences pessoais; lixeiras que não abrem no pedal, aumentando o risco de infecção; materiais amontoados nos vestiários; presença de mofo nas paredes; ausência de álcool nos dispensadores, dispensadores de papel toalha quebrados e torneiras inapropriadas; funcionários de enfermagem que atendem a pacientes com o coronavírus descansam junto com os demais, em espaços pequenos, aumentando o risco de transmissão; uso de ventilador no repouso, que é inapropriado, devido ao risco de infecção — de acordo com os profissionais, o aparelho é utilizado porque há má ventilação e presença de mosquitos; e cozinha com utensílios no chão do hospital.
Outra irregularidade apontada pelo conselho é a de que mães estariam fazendo o papel de técnicos e de enfermeiros. Trocas de fraldas, medição de temperatura e até curativos acabaram se tornando atividades dos acompanhantes, por falta de profissionais. Algumas mães disseram até que precisavam levar de casa o próprio termômetro.
“Ainda bem que tem nós mães, que estamos com nossos filhos para dar o banho. Já ajuda eles a ganharem mais tempo para poder estar atendendo a outras pessoas, que às vezes não têm o acompanhante para estar em cima, porque tem que limpar. Termômetro também a gente tem que trazer de casa, porque eles não têm. Banho tem, mas é atrasado, porque atrasa a medicação porque não tem funcionário. Tem pouco funcionário. Às vezes vêm funcionários de outros setores para ajudar e ficam perdidos”, relataram mães à equipe do Coren, em áudios divulgados pelo conselho.
Também por falta de profissionais, segundo o Coren-ES, os mesmos enfermeiros e técnicos atendem a pacientes com suspeita de covid-19 e crianças que passam por outros tratamentos. As mães também denunciaram falta de água no hospital.
Atividades
Com a suspensão dos serviços de enfermagem, apenas os pacientes já internados podem ser assistidos. O pronto-socorro também pode funcionar. Já o restante do hospital deve ser fechado.
De acordo com o conselho, as atividades só devem retornar após readequação da estrutura e do número de profissionais. “O nosso objetivo é garantir que a assistência à saúde, em relação à assistência de enfermagem, se dê de forma responsável, justa, com dignidade. Infelizmente a gente não identificou isso naquele hospital”, lamentou a presidente do Coren.
O outro lado
Sobre as irregularidades apontadas pelo Conselho de Enfermagem, a subsecretária de Assistência em Saúde, Quelen Tanize, afirmou que o Governo do Estado está sempre aberto ao diálogo para melhorar as condições de trabalho nas unidades hospitalares.
“Em relação às funções do trabalho, que os trabalhadores apresentam, é importante colocar que o Governo do Estado do Espírito Santo se coloca sempre à disposição para o diálogo, de forma a construir condições adequadas e ambientes adequados de trabalho, que consigam expressar a segurança do trabalhador e do paciente, em lugares onde eles possam ser acolhidos. E a gente busca sempre fazer isso, tanto que nessa semana ainda a gente vai estar, especificamente, no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, entregando um espaço que ser´a um espaço de descanso das categorias profissionais que ali atuam. A gente está reorganizando também o processo referente às responsabilidades técnicas de cada área, de maneira que a gente consiga ter supervisão adequada dos processos de trabalho”, destacou Tanize.
Com informações da jornalista Andressa Missio, da TV Vitória/Record TV