O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo acionou a Justiça para impedir o retorno das aulas presenciais em Vitória, anunciado pelo prefeito da Capital, Lorenzo Pazolini, na última terça-feira (04). O Sindiupes afirmou que a decisão da administração municipal “desrespeita o mapa de risco, que determina a suspensão das aulas em municípios em risco alto”, como é o caso de Vitória. Nesta sexta-feira (07), um novo mapa de risco será divulgado e há expectativa de mudanças em relação ao retorno das atividades escolares.
Segundo o diretor de comunicação do Sindiupes, Paulo Loureiro, o resultado da ação, que tramita na Vara dos Feitos da Fazenda Pública Municipal, também deve sair nesta sexta, até o final do dia. Ele destaca que a retomada das aulas presenciais contraria o Decreto Estadual de Calamidade Pública.
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“Nós entramos na Justiça porque o prefeito anunciou o retorno, mas não publicou um ato oficial sobre isso. Ele criou um grande constrangimento, porque o mapa está em vermelho, em risco alto, então há um desacordo com o decreto do governo do Estado. Nós estamos buscando esclarecimentos e esperamos que a Justiça não permita o retorno com o atual mapa”, afirmou.
O anúncio de Pazolini sobre a retomada foi feito por meio de vídeo, gravado após uma reunião com representantes da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe) e com o pediatra e integrante da Sociedade Brasileira de Pediatria, Rodrigo Aboudib.
“Com muita responsabilidade e serenidade, o município vem debatendo a necessidade do retorno às aulas. Tivemos intensos debates ouvindo, dialogando e interagindo. É chegado o momento do retorno. Estamos perdendo toda uma geração, não dá mais para aceitar essa condição. Temos de respeitar a ciência, ouvir os especialistas, mas também os pais, mães aflitos que estão em suas residências”, disse o prefeito.
Paulo Loureiro afirma que os professores estão apreensivos com a decisão, pois apesar da vacinação da categoria ter começado, apenas um pequeno grupo foi vacinado. O início da imunização dos profissionais da Educação teve início com os professores que têm entre 50 e 59 anos. No total, 7.600 profissionais nesta faixa etária devem receber o imunizante no Espírito Santo.
“Em nenhum momento o prefeito fala em ensino híbrido, que intercala o presencial com o online, por exemplo. Ele só fala em retorno presencial, então estamos apreensivos. A vacinação começou depois de uma grande pressão, mas houve um atraso e apenas um pequeno grupo foi vacinado”, afirmou Loureiro.
Expectativa
Na semana passada, o Governo do Estado sinalizou que poderia haver o retorno das aulas nas cidades classificadas como risco alto para o contágio do coronavírus. Porém, isto não se concretizou durante a divulgação do Mapa de Risco por Casagrande, que transferiu para esta sexta-feira (07) a apresentação de possíveis mudanças sobre os formatos de aulas presenciais.
Com a nova classificação, pode haver mudanças no que se refere à suspensão das aulas nessas cidades. Atualmente, em risco alto, só é permitido atendimento individual pelos professores nas escolas, com agendamento prévio.
Rede privada: protocolos sanitários afastam risco de transmissão
O professor e presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe/ES), Moacir Lellis, afirma que a adoção de protocolos sanitários nas escolas, desde o ano passado, é o suficiente para o retorno às atividades presenciais.
“Pelo acompanhamento e pelos dados que temos, o índice de contaminação nos estabelecimentos é muito baixo, próximo de zero. Usar máscaras, manter o distanciamento e a constante higienização das mãos são as três premissas, além de toda uma adaptação ao ambiente, que tornaram os nossos ambientes seguros. É importante o nosso serviço porque o Brasil está muito tempo com escolas fechadas”, argumenta, citando pesquisas.
Uma delas, feita pela consultoria Vozes da Educação, e que teve apoio da Fundação Lemann e Imaginable Futures, indica que, na maioria dos 21 países pesquisados, o retorno às aulas presenciais não impactou a tendência da curva de contaminação pelo novo coronavírus. Países bem colocados no Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (PISA) fecharam escolas menos dias quando comparados àqueles que não estão no topo do ranking. Quando comparado com os demais países do estudo, o Brasil fica em 2º lugar dentre aqueles com mais tempo de escolas fechadas. Foram 267 dias, só perdendo para a Bolívia que durante 270 dias teve as aulas suspensas.
“Isso tem um efeito devastador, principalmente, nas crianças menores. Em 100 dias de ausência, a criança retroage em até um ano daquilo que aprendeu. E é justamente até os cinco anos de idade que é a faixa onde mais assimilamos conhecimento. Imagine ficar sem estímulos, sem contar a socialização. Olha o grande prejuízo lá na frente”, aponta Moacir Lellis.