Assédio moral, sexual, virtual: são diversas as formas de constrangimento que uma pessoa pode passar. O assédio pode ocorrer em público ou em ambientes privados, mas, independente da forma, traz transtornos para a vida das vítimas. E quando ele ocorre no ambiente de trabalho, a situação é ainda mais delicada.
Os relatos não são poucos. Dados da Justiça do Trabalho do Espírito Santo apontam que, entre janeiro e abril deste ano, 87 pessoas foram vítimas de algum tipo de assédio no ambiente profissional — a maioria de natureza moral.
Já no ano passado, de acordo com o Tribunal Regional do Trabalho, foram registrados 696 casos de assédio. Desse total, 43 foram de cunho sexual.
O juiz da 7ª Vara do Trabalho de Vitória, Marcelo Tolomei, explica que as formas e os motivos de assédio moral são variados. “De forma objetiva, são aquelas brincadeiras lamentáveis, sistemáticas, são xingamentos, são formas de você botar o empregado num nível abaixo intelectual, moral”, explicou.
A primeira saída, de acordo com o juiz, deve ser o diálogo. No entanto, caso isso não seja o suficiente, o trabalhador deve procurar a Justiça.
“Buscar um advogado, o Ministério Público do Trabalho, o seu sindicato, colegas de trabalho, etc. Porque, muitas vezes, você ter uma relação direta com o empregador, nesse ponto, é um tanto quanto mais difícil”, frisou.
Assédio ocorre tanto em escritórios quanto fora deles
A estudante universitária Mariana Melo, de 23 anos, é uma das capixabas que afirma ter sido vítima de assédio moral. Ela conta que foi insultada e coagida pelo ex-chefe durante o estágio em uma agência de marketing.
“Toda vez que eu cometia um erro era: ‘você é uma burra’, ‘não sei como você conseguiu chegar até a faculdade’, ‘como você chegou a passar no colégio?’, ‘não sabe ortografia básica’. E era sempre na frente de todos os estagiários”, lembra.
Segundo ela, o antigo chefe dizia estar “adestrando” ela e os outros funcionários. “No começo, eu me sentia literalmente um animal. Esse negócio de ‘eu estou precisando te adestrar’, ‘eu preciso te adestrar para você aprender o que você tem que fazer’. Isso acabou muito com minha saúde mental, foi no meio de uma pandemia. Quando eu comecei a acostumar com aquela carga de trabalho e eu não cometia mais tantos erros, ele começava a falar que eu já estava ‘adestradinha'”.
O assédio moral só cessou quando Mariana começou a alertar os colegas sobre o que estava acontecendo. “Ele me demitiu, falando que eu estava contaminando a equipe. Foi a melhor coisa ele ter me demitido. Depois disso, eu nunca mais deixei que ninguém me tratasse daquele jeito”, afirmou.
Os casos de assédio são comuns em escritórios, mas também acontecem fora deles. Trabalhadores de uma praça de pedágio na BR-101, na Serra, reclamam que constantemente sofrem assédios de clientes, seja de forma moral quanto sexual.
A operadora de pedágio Ludmila Lima afirma ser uma dessas vítimas. Ela conta que, durante um atendimento, foi maltrata e xingada por um motorista.
“Me xingou, me gravou, puxou meu crachá, veio atrás de mim. E, logo depois disso, ele evadiu o pedágio. Querendo ou não, bate uma tristeza muito grande, de até a gente chorar bastante”.
A empresa em que Ludmila trabalha iniciou, no ano passado, uma campanha de conscientização para combater os assédios que os funcionários sofrem diariamente. O coordenador de Recursos Humanos da Eco101, Cristiano Tavares, explica que um dos objetivos é desenvolver a autopercepção de quem está praticando o assédio.
“Foi visto que o assédio sexual estava muito forte dos usuários com as colaboradoras. Nesse processo, nós abordamos todas para explicar o que seria o assédio sexual. A gente tem toda a estrutura monitorada e a gente dá todo o suporte, tanto jurídico quanto psicológico para a colaboradora”, destacou.
“Todo e qualquer tipo de abuso é absolutamente inaceitável, pois fere não apenas a política da empresa, mas a ética das relações. A campanha visa justamente alertar todos, colaboradores e usuários, quanto a essas práticas criminosas e também reafirma o nosso compromisso de combater o assédio na empresa, além de estar ao lado dos colaboradores prestando todo o apoio necessário”, completou.
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*Com informações do repórter Rodrigo Schereder, da TV Vitória/Record TV.