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Sugestão de tornar o funk uma manifestação criminosa é rejeitada

Para o relator da proposta, a matéria é inconstitucional por cercear a livre manifestação cultural e de pensamento (art. 5º da Constituição Federal)

Girls dance at a Baile Funk party in Rocinha, Rio de Janeiro, on May 5, 2008. The lyrics of the “Baile” songs often talk about the violence and crime and became the representation of the current problems residents faced in Rio.
Girls dance at a Baile Funk party in Rocinha, Rio de Janeiro, on May 5, 2008. The lyrics of the “Baile” songs often talk about the violence and crime and became the representation of the current problems residents faced in Rio.

A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) rejeitou a sugestão legislativa (SUG) 17/2017, que tinha como objetivo tornar o funk um crime à saúde pública de crianças, adolescentes e à família. Dessa forma, a matéria deixa de tramitar no Senado Federal.

Segundo o Regimento Interno do Senado, cabe à Comissão fazer a análise de propostas que recebem mais de 20.000 apoios de cidadãos através do Portal e-Cidadania, como ocorreu com a sugestão 17/2017.

O relator da proposta, o senador Romário (Pode-RJ), alegou que a matéria é inconstitucional por cercear a livre manifestação cultural e de pensamento (art. 5º, da Constituição Federal).

Romário ainda criticou o projeto em seu mérito, lembrando dentre outras razões que gêneros musicais hoje consagrados como o samba e o jazz também sofreram tentativas de criminalização em seus inícios.

O senador ainda vê como errado ligar o funk diretamente a práticas de crimes como estupros ou assaltos, como alegavam os defensores da proposta quando de sua apresentação.

“Infelizmente a prática de crimes ocorre nos mais diversos ambientes da sociedade brasileira, inclusive nos bailes funk. Para isso, já existem aparatos de repressão e judiciais que devem cumprir seu dever. E estes bailes também são uma alternativa de diversão para milhões de jovens em nosso país, e nas áreas mais carentes, é muitas vezes a única”, afirmou o senador, chamando atenção ainda para o caráter de manifestação artística e cultural que o funk possui para estes jovens.

Romário finalizou defendendo que a História já deu “provas inúmeras” da inutilidade de se coibir a cultura popular, “que sempre encontra uma maneira de expressar-se”.

O relatório do senador fluminense foi elogiado pela presidente da CDH, Regina Sousa (PT-PI), para quem a audiência realizada sobre o projeto (no dia 13) foi uma das melhores que a comissão já fez.

“Uma pena que os defensores da criminalização do funk tenham se recusado a vir, espero que tenham visto pela TV o show de consciência social que a juventude funkeira nos deu aqui”, disse.

O vice-presidente da CDH, Paulo Paim (PT-RS), ainda lembrou que se fosse pra proibir todos os eventos onde ocorrem violências e abusos, “então todo o carnaval teria que ser cancelado no Brasil”.