Fim de ano é sempre tempo de refletir sobre as experiências vividas ao longo do ano inteiro. Com a chegada da pandemia da covid-19, em março de 2020, a vida de muitas pessoas mudou bruscamente. E quem estava acostumado com a rotina do trabalho, faculdade e família, não se preparou para olhar a vida por outra perspectiva: a de dentro de casa.
É o caso da assistente administrativo, Isolda Zamprogno, de 42 anos. Diagnosticada, há cinco anos, com depressão severa, ansiedade e síndrome do pânico que apresentou os primeiros sinais na pandemia, viveu momentos de muita tensão e desespero durante os últimos meses.
“Cheguei a ficar quase 70 dias de cama, sem força de levantar para nada. Fiquei oito meses afastada do trabalho. Tiveram períodos que eu tomava cinco tipos de medicamentos diferentes e mesmo assim não resolvia. Perdi um primo por conta da covid e muitos amigos por conta das minhas crises. Me vi sozinha, o que é mais desesperador ainda”, relatou ela.
O que para muitos pode parecer “frescura”, para quem vive a depressão são longos dias na escuridão com a certeza de que a luz no fim do túnel nunca vai chegar.
Isolda também destacou que se isolava, mesmo sabendo que não era a melhor escolha.
“Você se isola porque é o sentimento que você tem, mas você não pode ficar isolada. Na fase ruim (quando tinha fortes crises), não tinha nada que resolvia. Eu não existia mais. Você vira meio que um zumbi”, disse.
E quando não acreditava mais em uma esperança, a assistente administrativo recebeu um convite inesperado que mudou e tem mudado sua forma de viver.
“Recebi um convite de uma amiga para passar por um programa de cura interior em uma igreja. Comecei a compartilhar e ver que outras pessoas viviam o mesmo que eu”, contou ela.
Isolda ressaltou também que durante os dias sombrios que viveu, achava que era um peso para a família e, principalmente, para o marido. Para ela, a melhor solução seria a distância.
“Algumas pessoas acham que é falta de fé, mas você não tem força para se levantar sozinha e precisa de ajuda. Encontrei essa ajuda em casa, meu marido me ajudou. Cheguei a falar sobre separação, não achava justo com ele. Mas ele me disse que não era decisão minha e escolheu continuar comigo”, relatou ela.
Nas redes sociais, Isolda compartilha com os seguidores frases que possam motivar a ter mais empatia com pessoas que vivem constantemente a depressão e pontuou que, atualmente, se considera uma nova mulher.
“Hoje consigo ver as coisas com mais clareza. Não tenho tanta dependência das pessoas. Antes me sentia culpada por não levantar, trabalhar, fazer almoço para os meus filhos. A cabeça fala uma coisa e o corpo fala outra. Você não consegue conciliar as coisas. E à medida que fui conseguindo perder esse cativeiro emocional, fui melhorando um passinho de cada vez”, completou.
Vencendo a covid-19
E para quem contraiu o vírus da covid-19, os dias também foram bastante turbulentos. O empresário Idalécio Carone, de 70 anos, contou à reportagem do Jornal Online Folha Vitória como tudo aconteceu muito rápido.
“Eu acordei de manhã e fui ao banheiro. Eu nunca tinha desmaiado na vida. De repente, fiquei tonto e caí no chão. Minha mulher e meu filho me ajudaram a levantar. Eu tomei um banho e fui para o hospital. Quando cheguei e fui atendido, o médico constatou que estava com covid”, relatou ele.
O empresário também destacou que precisou fazer exames e passar por procedimentos médicos que duraram mais tempo do que ele imaginava.
“Fiquei quatro dias em um procedimento que eles fazem com a pessoa de barriga para baixo. Em seguida, fiquei mais oito dias entubado. Passando mal. Sem muita melhora, os médicos me deixaram internado na UTI por 21 dias”, contou.
Mesmo sem ter tido nenhuma sequela grave, Idalécio reforçou que emagreceu consideravelmente, mas que conseguiu, aos poucos, se restabelecer e voltar à rotina que estava acostumado.
“Não fiquei com sequela nenhuma. Apenas com plaquetas baixas. No hospital, acabei emagrecendo 13 kg. Eu fui salvo por Deus e pelos médicos que eram muito bons. Fui me recuperando aos poucos”, disse.
Embora estivesse passando por dias difíceis e com a saúde em risco, Idalécio conseguiu tirar uma boa reflexão de tudo e entende que pode ajudar muitas pessoas.
“É interessante porque você vê o outro lado da vida. Ás vezes a gente ignora as coisas. Vi que a vida não é nada. Refleti muito, sabe? Tenho potencial para fazer muito pelo próximo. Posso ajudar muitas pessoas de diversas maneiras”.
Depois de tudo que passou, Idalécio afirma que está elaborando novos projetos para o ano de 2022 com o objetivo de ajudar às pessoas ao seu redor.
Portas fechadas, oportunidades criadas
A pandemia da covid-19 não trouxe danos apenas emocionais e fisiológicos, mas também financeiros.
Com a migração para o sistema home office, muitas empresas foram obrigadas a dispensar seus funcionários ou até mesmo, fechar as portas.
E esse foi o cenário vivido por Thiellis Tinelli, de 32 anos, formado na área do Direito em Processos Gerenciais, pós graduado em Processo Civil, e atual estudante de pós-graduação em Direito Contratual e mestrado em Resolução de conflitos e mediação.
Em 2018, Thiellis morava em Linhares e, junto com a esposa, Dayana Figueiredo e o filho pequeno, Erik Tinelli, decidiu mudar e ir morar no município da Serra, onde montou o próprio escritório de advocacia que, com poucos clientes, precisou ser fechado.
Sem desistir de tentar, encontrou uma empresa que cedeu espaço à Thiellis para advogar por uma empresa de condomínios. Com a chegada da pandemia, o escritório também fechou e ele precisou sair.
“Comecei a trabalhar de casa, mas não conseguia clientes de jeito nenhum. Ficar em casa nunca foi tanto um problema. Só minha esposa trabalhava. O fato de não ter renda é que começou a me dar um certo desespero, mas Deus nunca me desamparou nesse sentido”, relatou ele.
Nesse momento, tendo que se preocupar com a alimentação da família e as despesas de casa, Thiellis conseguiu encontrar um escape.
“Nessa época, e e minha esposa já éramos cadastrados em uma empresa de produtos de cuidados e beleza. Comecei a sair nas casas para vender perfumes, hidratantes, gel diário e outros. Com essas vendas, conseguimos uma renda a mais”, relatou.
O advogado destacou que por conta da ausência do clientes, quase entrou em depressão e acabou desenvolvendo outras doenças causadas pelo estresse excessivo.
“Eu desenvolvi uma doença que causa bolhas no corpo que aparecem por conta de muito estresse. Sem fazer nenhuma atividade física, sem dinheiro, sem clientes, quase entrei em depressão”, pontuou ele.
Para complementar ainda mais a renda da família, Thiellis disse que a venda de uma propriedade em outro Estado foi, inicialmente, um ponta pé para alavancar as finanças. Até o momento em que surgiu um prejuízo de quase R$ 14 mil.
“Consegui vender uma casa que tinha no interior no Pará. E com o dinheiro da casa eu investi em uma franquia, uma espécie de cartório virtual, chamado Cartório Fácil. Investi tudo, mas a franquia não foi para frente e teve que fechar. Tive um prejuízo de quase R$ 14 mil”, relatou.
Segundo Thiellis, depois de passar por muitos altos e baixos nas finanças, e quase desistir de atuar na área de advocacia, 2021 foi o ano em que as coisas começaram a mudar.
“Em 2021 tive uma melhora. Surgiram clientes que fui conseguindo no contato boca a boca mesmo. Deu para adiantar um ano inteiro da escola do meu filho. Eu até pensei em continuar vendendo os produtos de cuidados, mas não era a minha área”, completou.
Com o apoio da esposa, e a boa vontade de superar os obstáculos, Thiellis conseguiu se erguer, voltou a praticar exercícios e, atualmente, atua em seu próprio escritório de advocacia junto com outras funcionários.