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Teste para covid-19 em farmácias pode custar até R$ 250 no ES; profissionais divergem sobre eficácia do exame

A norma que regulamenta a realização dos testes já está em vigor; apenas quem estiver apresentando sintomas há 7 dias poderá fazer o procedimento

Foto: Reprodução TV Vitória

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou, nesta semana, a realização de testes rápidos de anticorpos para o novo coronavírus em farmácias. A ideia é facilitar o acesso aos exames para a população, além de reduzir custos e evitar aglomerações. Mas a ideia não é unanimidade. Aqui no Espírito Santo, o secretário da Saúde condena a iniciativa. Entre donos de farmácia, médicos e farmacêuticos, também existe preocupação e dúvidas.

A resolução está em vigor, e as farmácias já podem solicitar os testes às indústrias fabricantes. O teste vai detectar se há anticorpos contra o novo coronavírus no organismo, o que significa que a pessoa já pegou a doença. O resultado sai entre 10 e 30 minutos. 

Jonathas Neris, dono de uma farmácia em Vila Velha,  ainda não decidiu se vai oferecer o teste. Ele estuda como vai adequar o espaço para garantir a segurança dos clientes e dos funcionários. “A resolução, ela não é muito objetiva em relação as questões estruturais, mas a gente entende que precisa de um ambiente estruturado, uma sala específica, equipamentos de EPI necessário, enfim, um ambiente controlado, para que este teste seja feito com a máxima segurança”, disse.

Pedro Pezzin Júnior, que é gerente de farmácia em Vitória, também vê o teste rápido como opção. Mas diz acreditar que antes do final de maio, a indústria não consegue entregar o produto. “Já procuramos em vários fornecedores, até fora do Estado e todos eles estão dando a previsão de que chegue só até o final do mês de maio nas farmácias. A gente pede a população que antes de sair de casa, primeiro ligue nas farmácias, procure saber as informações para não sair de casa à toa”, comentou.

Para a farmacêutica Paula Abreu Neris, o teste rápido nas farmácias vai evitar aglomerações nos hospitais. “É uma medida muito positiva para toda população, se nós quisermos evitar uma sobrecarga e aglomerações em hospitais e em outros estabelecimentos também e, claro, nós devemos tomar todos os cuidados, estudar a melhor forma possível para ser realizado esses testes”, disse.

O representante do Conselho Regional de Farmácia, Gentil André, disse que o ideal seria que os testes fossem feitos todos em laboratório, mas, como isso não é possível, a ideia da Anvisa virou uma alternativa.

“Dentro de um laboratório, a pessoa poderá fazer outros exames mais específicos, porém, entendendo a pandemia covid a nível nacional e mundial, que está ocorrendo, a gente entende que o Ministério da Saúde vai poder mensurar de forma melhor, a fim de ter outras ações em combate a doença”, disse. 

O teste rápido vai ser pago, e vai custar entre R$180 e R$250, dependendo do fabricante. Gentil alertou ainda para a necessidade de um protocolo na hora de fazer o teste. O cliente vai preencher um formulário, vai assinar, e o documento vai ser enviado para Anvisa. Só vai poder fazer o teste se estiver apresentando sintomas da covid-19 há pelo menos 7 dias.

A Federação Brasileira das Redes de Farmácias, Febrafar, se manifestou favorável a toda ação que visa ampliar o acesso da população à saúde. Mas se preocupa muito com a preservação dos profissionais e dos consumidores que circulam nos estabelecimentos. O secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, disse que o risco de erro do resultado do teste rápido é muito grande.

“É importante destacar o risco destes testes, eles são muito insatisfatórios… então qualquer pessoa que fale ‘vou testar se tenho coronavírus’ se estiver nos primeiros dias de evolução, pode ter o resultado de falso positivo. Então, o teste rápido não tem indicação para os primeiros dias de evolução da doença”, disse. 

Nesta quinta-feira (30), em conversa com jornalistas pela internet, o secretario também criticou a medida. Ele disse: “a bomba atômica que pode ser esses testes rápidos das farmácias, ela é catastrófica.”

Entre os profissionais da medicina, o teste rápido também não é unanimidade. Em entrevista para a jornalista Juliana Lyra, durante o programa Fala Espirito Santo, na TV Vitória / Record TV, a medica infectologista Rúbia Miossi criticou a realização dos testes nas farmácias.

“Existem duas coisas que podem acontecer que a gente está preocupado. Em primeiro lugar, a pessoa que deu negativo, ficar tranquilo, relaxar e acabar pegando coronavírus depois. A outra coisa é, a pessoa que deu negativo, que estava nessa fase inicial, e ela se sentir confortável e depois ter sintomas e achar que não era nada disso, pois afinal o teste tinha dado negativo antes e acabar transmitindo mais. No outro lado, as pessoas que derem positivo, mas deu positivo desde quando? A gente não sabe por quanto tempo de afastamento vai ter que ficar essa pessoa. Ela precisa se afastar mesmo ou não? Significa que ela vai ter a doença de novo ou não? A gente não sabe…”, disse.

Já a microbiologista Natália Pasternak, revelou preocupação com o resultado que os testes vão gerar.

“Eu vejo com muito pessimismo, eu acho uma decisão errada, as farmácias não são o local adequado para fazer isso. Isso não vai gerar dados epidemiológicos confiáveis e os dados pessoais, que isso vai gerar, podem confundir as pessoas, se a interpretação dos dados não for feita de uma forma muito cuidadosa, e podem acabar levando essa pessoa a comportamentos de risco”, opinou.

* Com informações do repórter Alex Pandini, da TV Vitória / Record TV