O Folha Vitória publica mais um artigo da coletânea de textos sobre a história dos 30 anos da emissora. Dessa vez, o ex-colaborador da Rede Vitória Marcio Lobato conta sobre os bastidores da emissora que sempre trabalhou para produzir o melhor conteúdo regional no Espírito Santo.
A mensagem de Lobato comprova que conquistar o título de melhor TV regional do Brasil, por três vezes, é uma vitória sempre coletiva. A TV que é a “cara da gente” é na verdade um mosaico de muitas e muitas “caras”, às vezes na frente da telinha, outras tantas nos bastidores. Assim se constrói uma empresa vencedora, compromissada com a nossa terra. Confira:
O patinho feio virou cisne. Quem mói trigo também sabe fazer comunicação
Marcio Lobato
No início dos anos 80, virava e mexia e vinha a informação de que o grupo Diários Associados iria vender a TV Vitória e Rádio Vitória para algum grupo político capixaba. De repente, não mais do que de repente, surge a notícia de que João Calmon tinha fechado negócio com o Grupo Buaiz. Como podia um grupo com perfil industrial tomar conta de um grupo de comunicação? Como alguém habituado a trabalhar com medidas exatas iria liderar jornalistas e radialistas, profissionais não habituados a esse rigor? No fundo, no fundo, todos apostavam que Americo Filho tinha entrado numa fria.
Aos poucos, as contratações foram acontecendo. Profissionais respeitáveis foram sendo integrados à estrutura, seja na área jornalística ou comercial, sem esquecer a área de engenharia. Numa noite de gala de outubro de 1984, no Iate Clube, é realizada a festa de lançamento da nova TV Vitória (deixava de ser ruim de vídeo e áudio e sem audiência – num ato de ousadia, mirava-se em emissora padrão de qualidade mundial). E essa ousadia e busca pela qualidade até hoje norteiam as ações da emissora.
Olhando hoje para aqueles dias, me pergunto quão corajosos foram empresário e profissionais que iniciaram esse projeto. Que vislumbraram esse sucesso.
Os primeiros anos foram difíceis. Convencer agências e anunciantes a experimentarem o novo. Estabelecer relações confiáveis entre jornalistas e suas fontes. Com poucos recursos, fazer e “aparecer” muito. Mas essas dificuldades se transformaram em combustíveis para uma equipe apaixonada, que passou a acreditar e a defender o projeto como seu. Esse, acho eu, é o grande trunfo da Rede Vitória – trabalhar com quem realmente é apaixonado pelo projeto, da faxineira ao presidente.
Mas voltando ao início dessa nova fase da TV Vitória, lembro-me do pioneirismo dos programas locais e a ousadia de se fazer programa diário ao vivo, como o Jornal do Povo, capitaneado pelo Osvaldo Oleare, numa casa de dois pavimentos no final da rua Graciano Neves, com cabos espalhados por todo canto e correndo o risco de algum desavisado tropeçar e tirar o programa do ar. Mas mais do que isso, buscou-se novas formas de agregar faturamento e audiência. Fez-se a Copa Sul Capixaba de Futebol Juniores, em Guaçuí; a Copa Brasil de Futebol de Salão, no ginásio Álvares Cabral, todos com transmissão ao vivo, usando inúmeras parabólicas para isso. Em 1986 deu-se início ao projeto Vida Ativa, juntamente com o Deares, que tinha a frente o professor Fernando Passarinho, que colocava nos calçadões de Camburi e Praia da Costa professores de educação física e enfermeiros para a orientação ao exercício físico e acompanhamento das condições de saúde dos frequentadores. Uma ação pioneira e de estímulo à prática de exercícios.
Na área cultural, foi criado a Agenda Skol – projeto que divulgava os músicos e estabelecimentos que tinham música ao vivo nos finais de semana. E, juntamente com a Rádio Tropical, foi criado o Verão Praia Show. Todos os finais de semana, de dezembro a março, durante alguns anos, em uma praia entre Nova Almeida e Itaparica, eram realizados torneios esportivos (futebol de areia, vôlei e até peteca, para atender aos turistas mineiros) durante o dia e à noite, shows com nossos artistas locais. Esse projeto foi tão importante que fez de Antário Filho (inclusive, reconhecido pelo próprio) deputado estadual com expressiva votação. Tinha também um programete chamado “Conheça mais as coisas do Espírito Santo” que mostrava para o capixaba personalidades como Carlos Chenier, Mestre Flores e Pedro Caetano, como também o trabalho de taxidermia realizado em Linhares, a Pedra do Elefante em Nova Venécia, o Bate Flexa de Alegre e assim por diante.
Não se buscava apenas mais uma fonte de faturamento, mas também mostrar o que nós tínhamos de melhor. Se a TV Manchete tinha Dona Beija e Xuxa, nós tínhamos tudo isso e mais Nilo Martins, Luiz Eduardo Nascimento, Marcelo Correa, entre outros, que davam prestígio à emissora e fazia frente às outras concorrentes locais. O projeto deu tão certo que possibilitou a Xerxes Gusmão Neto, então diretor da TV Vitória, a assumir a direção comercial nacional da TV Manchete
Com a ida de Xerxes para o Rio de Janeiro, coube ao Fernando Machado a tarefa de viabilizar comercialmente a emissora. Um novo ciclo se iniciava. A juventude e paixão de Fernando se completava com a de Americo Buaiz Filho… E pensar que já se fazem 30 anos! Vidas que se entrelaçam com a história. Que buscam com coragem e ousadia escrever uma história diferente a cada dia. Hoje, soa natural falar de Rede Vitória de Comunicação – a cara da gente. O patinho feio virou cisne. Quem mói trigo também sabe fazer comunicação. Reconhecida no Espírito Santo. Premiada no Brasil.