Um mês após uma casa ser incendiada e uma pessoa ser morta no Morro da Piedade, em Vitória, os casos continuam sem solução. Segundo o Instituto Raízes, até o mês de julho, dados atualizados apontam que 127 moradores deixaram comunidade, o que representa 39 casas abandonadas no Morro da Piedade.
De acordo com o instituto, apenas três famílias voltaram para o morro. Além disso, algumas famílias já acionaram a Defensoria Pública para avaliar a situação e pensar em alternativas jurídicas.
Outros dados divulgados pelo instituto apontam que o Morro da Piedade reúne, desde 1909, mais mulheres e pessoas com idades de 0 a 29 anos, que somam 70% da população local, com renda média de R$ 744,17. Segundo o IBGE, houve 48% de redução do números de moradores entre 2000 e 2010. Nos últimos anos, essa desocupação aumentou e foi constatado que existem 59 imóveis abandonados ou vazios e 199 pessoas já deixaram o morro. Porém, somente em 2018, principalmente a partir dia 9 de julho, houveram 39 casas abandonadas e 127 pessoas deixaram o local.
Uma nota do Instituto Raiz afirma que durante o mês de julho, os moradores viram muitas cenas tristes, emocionantes e estarrecedoras com famílias deixando histórias e a casa própria para trás. Uma família, do alto do morro, preferiu destruir toda casa a marretadas com medo de que ela fosse invadida por terceiros.
Impactos
A área conhecida como “Seu Queiroz”, no alto do morro, foi a que sofreu o maior impacto, com 90% dos moradores deixando suas casas. Durante alguns dias de junho, as escolas também sofreram com os impactos do processo de esvaziamento da Piedade. As três escolas que compõem o território somaram baixa frequência dos estudantes, pedidos de “guardar a vaga até as famílias se reorganizarem” e 20 pedidos de transferências. Já na unidade de saúde, também houve um esvaziamento e ausência dos moradores da Piedade nos atendimentos.
Esse é o reflexo e resultado dos efeitos da guerra provocada pelo tráfico de drogas entre as comunidades da região. Foram registrados quarto assassinatos em menos de quatro meses no Morro da Piedade e segundo moradores, esse resultado é devido a guerra provocada pelo tráfico de drogas entre as comunidades.
Após confusão no Morro da Piedade, o secretário de Estado de Segurança Pública, Nylton Rodrigues anunciou, no dia 14 de junho, a implantação de uma base da Polícia Militar (PM) no alto do morro. De acordo o secretário, a previsão é ela começasse a funcionar 60 dias após a confusão, no telecentro, localizado embaixo do CMEI Carlita Correa Pereira, na rua Frei Antônio dos Mártires. Segundo o secretário, a base irá funcionar 24 horas por dia, com revezamento entre 30 policiais.
Relembre os casos
Dia 26 de março de 2018- Dois jovens foram assassinados no Morro da Piedade, em Vitória. Damião Marcos Reis, de 22 anos, e Ruan Reis de 19 anos, foram mortos a tiros. De acordo com a polícia, eles foram mortos com mais de 20 tiros cada um por quatro bandidos encapuzados. Até agora, os autores do crime não foram localizados.
Dia 29 de maio- Uma pessoa foi assassinada no Morro da Piedade. A vítima, identificada como Lucas, foi morta a tiros enquanto jantava na varanda de casa, no alto do morro.
Dia 9 de junho- Um rapaz identificado como Wallace de Jesus Santana, de 26 anos foi assassinado. Segundo informações da polícia, ele foi morto a tiros por 20 homens que invadiram o morro e aterrorizaram a comunidade. Familiares do jovem afirmaram que ele já tinha várias passagens pela polícia por envolvimento com o tráfico de drogas. Ainda nessa ocorrência, a avó do rapaz, de 93 anos, teve que abandonar a comunidade, depois que os criminosos incendiaram a casa onde morava.
Por nota, a Polícia Militar (PM) informou que os policiais tem realizado o patrulhamento contínuo na região reforçando o seu compromisso em garantir o bem-estar da população.
Já a Polícia Civil (PC) disse que os casos seguem sob investigação, pela equipe da Delegacia de Crimes Contra à Vida de Vitória. A PC informou ainda que está realizando todas as diligências necessárias para elucidar os crimes, e que informações adicionais não poderão ser passadas para não atrapalhar a apuração. Denúncias que colaborem com o trabalho da polícia podem ser feitas por meio do disque-denúncia 181, o sigilo e anonimato são garantidos.