Um mês depois de a Rede Vitória denunciar, em primeira mão, a situação precária das instalações do Hospital Infantil de Vitória, a unidade de saúde continua sem alvará de funcionamento do Corpo de Bombeiros. A instalação de câmeras de segurança foi a única mudança percebida por funcionários e por pais de pacientes do hospital.
Na reportagem da Rede Vitória, foram mostradas infiltrações, fiação elétrica antiga e diversos outros problemas na unidade. Tais condições precárias teriam contribuído para a ocorrência de pelo menos três pequenos incêndios somente este ano no hospital.
Por causa do risco de novos incêndios, bombeiros ficam de plantão permanente dentro da unidade. No entanto, o tenente-coronel Wagner Borges, do Corpo de Bombeiros, garante que isso não está prejudicando a atuação da corporação em outros pontos da cidade.
“O Estado do Espírito Santo está pagando uma gratificação de escala extra para esses militares, justamente para que não haja nenhum prejuízo à sociedade durante o período em que o Hospital Infantil estiver guarnecido”, afirmou.
Enfermeiros e técnicos de enfermagem que trabalham na unidade chegaram a procurar o Conselho Regional de Enfermagem do Espírito Santo (Coren-ES) para reclamar da falta de melhorias. Segundo a presidente do conselho, Andressa Barcelos, a única mudança no hospital foi a instalação das câmeras.
“O problema vai muito além do que ter câmeras, se tem um problema de déficit de profissionais de enfermagem e falta de infraestrutura para um atendimento digno às crianças e aos acompanhantes. A câmera se limita a monitorar situações de segurança”, afirmou.
A denúncia da Rede Vitória — e depois de outros veículos de imprensa — gerou repercussão e motivou uma ação da Comissão de Proteção à Criança da Assembleia Legislativa. Os deputados realizaram uma vistoria surpresa na unidade e constataram os problemas. Para prestarem esclarecimentos sobre a situação, foram convocados o secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes de Medeiros Junior, e o diretor do Hospital Infantil, Nélio Almeida dos Santos.
Segundo Andressa Barcelos, o Coren-ES também vai agir, mas quer antes conversar com a cúpula da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). “Se a gente toma qualquer decisão sem conversar, ainda vão nos acusar de sermos radicais. Então o Coren quer investir no diálogo, para a segurança dos pacientes e dos profissionais de enfermagem”, frisou.
Na reportagem, a Rede Vitória também denunciou que outros cinco hospitais do Espírito Santo funcionavam sem o alvará do Corpo de Bombeiros: o São Lucas, em Vitória, o Himaba e o Antônio Bezerra de Faria, ambos em Vila Velha, o Dório Silva, na Serra, e o Hospital de São Mateus. Um mês depois, eles continuam sem alvará.
“O Hospital de Urgência e Emergência São Lucas, aqui em Vitória, e o Himaba, em Vila Velha, já estão em um processo bastante adiantado para que eles consigam o alvará de vistoria do Corpo de Bombeiros. E os demais hospitais, o Governo do Estado tem buscado alternativas, junto à Secretaria de Estado de Saúde, para também contornar todo esse problema, no sentido de, o quanto antes, fazer a liberação, em parceria com o Corpo de Bombeiros, desse alvará”, ressaltou Wagner Borges.
O outro lado
Por meio de nota, a Sesa informou que o projeto de adequação do Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória foi avaliado, junto ao Corpo de Bombeiros, e as medidas necessárias estão sendo executadas, como: troca da rede elétrica, sinalização das saídas de emergência, implantação de detector de fumaça, pontos de iluminação de emergência, e sistema de alarme. Além disso, segundo a secretaria, foram adquiridos novos extintores e as obras no ambulatório e da nova oncologia estão sendo finalizadas.
A Sesa afirmou ainda que todas as providências estão sendo tomadas para que as intervenções solicitadas pelo Corpo de Bombeiros sejam finalizadas o mais rápido possível. Em relação ao sistema de videomonitoramento, a secretaria informou que as instalações estão em andamento desde o ano passado.
Já o Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) informou que fiscalizou o Hospital Infantil de Vitória e constatou que é necessário que o governo transfira os pacientes para outras unidades de saúde. Segundo o CRM, essa necessidade foi informada às autoridades competentes para que sejam adotadas as devidas providências. Além da Sesa, o Ministério Público Estadual (MPES) foi informado dessa necessidade.