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Uma semana após temporal, moradores ainda estão em abrigos da Serra

O transbordamento da lagoa Pau Brasil deixou um rastro de destruição para os moradores do bairro Hélio Ferraz, na Serra. Cerca de 80 moradores não têm como voltar à casa

Não sobrou nada da casa de dona Almerinda, que está desabrigada, na Serra Foto: Reprodução/TV Vitória

O temporal atingiu o Espírito Santo há quase uma semana, mas ainda deixa muito prejuízo. Na Serra, um dos bairros mais atingidos foi Hélio Ferraz. Na região, famílias chegam a chorar a perda de tudo o que haviam conquistado.

A dona de casa Almerinda Martins não consegue conter as lágrimas. “Difícil é você entrar na sua casa e ver a situação que está ali dentro”, lamenta.

O mais grave é que o drama de Almerinda parece se multiplicar, no bairro Hélio Ferraz, na Serra. Na casa de Luíza Pereira, onde moram treze pessoas, a situação não é diferente. Pela marca na parede, é possível perceber o nível que a água atingiu.

“Foi muita água. Quando eu cheguei do serviço não teve como salvar nada. Perdi tudo, fogão, geladeira, cama. Estamos sem nada. Nós estamos mesmo precisando das coisas”, conta Luíza.

O transbordamento da lagoa Pau Brasil também deixou um rastro de destruição na casa onde a aposentada Izaura Lemos mora, há mais de 20 anos. Quase uma semana depois do temporal, os cômodos continuam tomados pela lama. Os móveis e eletrodomésticos viraram um amontoado e se espalham pelos quatro cantos. Prejuízo que parece não ter fim.

“Perdi tudo. Tudo o que eu construí eu perdi. Isso nunca tinha acontecido antes. Aconteceu outras duas vezes, mas só chegou na varanda e a água abaixou. Nunca vi uma coisa dessas”, diz Izaura.

Colchões molhados ficaram amontoados dentro das casas que foram tomadas pela água Foto: TV Vitória

A lagoa Pau Brasil fica nos fundos da casa de dona Izaura. “Estou sem trabalhar desde quinta-feira porque eu estou no abrigo. E como vai ficar nossa situação? Minha mãe de 76 anos, meu pai, de 75, estão todos no abrigo. A prefeitura e a Vale vem, só prometem e não fazem nada. Até quando vai ficar isso? Ganhamos pão, ganhamos colchão da prefeitura. Secou a água, ganhamos produtos de limpeza, descemos e limpamos a casa. Até quando vai ser isso? A gente não quer isso, a gente quer solução”, se indigna a dona de casa Elisângela Souza.

Na última segunda-feira (3), pela manhã, moradores do bairro fizeram um protesto. Eles saíram do bairro e foram para Jardim Camburi, em Vitória. Com pneus e galhos em chamas, os manifestantes fecharam os acessos à siderúrgica que afirmam ser a responsável pelos estragos provocados à população ribeirinha.

“A Vale tem uma lagoa. E ela fecha as comportas e não pode abrir direto. E aí inunda tudo”, desabafa o pedreiro Manuel Simpliciano, em entrevista para a TV Vitória na última segunda-feira (3).

O assessor parlamentar Jean Carlos Lippaus também se indigna. “Tá todo mundo no CMEI que desde quinta-feira. Estão desabrigados. Tem senhora de idade e bebê de colo. A prefeitura até nos ajuda, mas a Vale não ajuda a gente”, diz.

Para o Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI), de Hélio Ferraz, foram levados os desabrigados. Por isso não está havendo aula nesta semana. “A previsão da Defesa Civil, que esteve no local e fez uma avaliação, é que as aulas voltem ao normal em dez dias ainda, porque os desabrigados não podem voltar as suas casas antes de fazer uma limpeza”, afirma a diretora do CMEI, Sônia Scotato.

Além de desabrigados, há desalojados. Pessoas que estão na casa de vizinhos, ou até nos terraços das próprias casas. No Centro de Convivência do Idoso foi montada uma base apoio. “É bastante trabalho. Nós estamos nos mantendo com doações da comunidade e nós preparamos a comida por meio de trabalho voluntário”, afirma a voluntária Rosiane Santana.

Em situações trágicas de calamidade, a solidariedade e o amor ao próximo, parecem falar mais alto. Um exemplo é a ação do aposentado Roberto Santos. “Agradeço a Deus por estar vivo porque cheguei com água no pescoço e salvei quatro vidas e com a minha cinco. Agradeço a Deus por estar aqui, porque se não fosse a prefeitura e toda a comunidade, nós estávamos na rua”, relata.

Na última segunda-feira (3), dia do protesto dos moradores, por meio de nota, a Vale informou que a lagoa recebe a água da chuva de sete bairros e de parte da BR-101 e no local não existe nenhum tipo de comporta ou sistema que controle a vazão da água. A empresa também informou que em virtude da chuva, houve extravasamento de resíduos oleosos, provenientes da estação de tratamento, mas os órgãos ambientais já realizaram inspeção no local.

A Vale ressaltou que está tomando todas as medidas para conter e recolher o material que ficaram contidos na área da lagoa, e que está aberta ao diálogo com a comunidade. A empresa informou que recebeu representantes dos moradores para tentar, junto ao poder público municipal, buscar soluções para a questão.

Em nota, a Prefeitura Municipal da Serra informou que cerca de 80 pessoas estão em abrigos no município. As doações para os desabrigados devem ser realizadas no Centro de Convivência do Idoso do bairro Serra Sede, entre 8 e 16 horas. Os donativos mais urgentes são água potável, fralda, kit de higiene pessoal, colchões, cestas básicas e alimentos não perecíveis.